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    Comunicação

    Balatetta

    Por não ter esperança de beijá-lo Eu mesmo, ou de abraçá-lo, Ou contar-lhe do amor que me corrói O coração vassalo, Vai tu, poema, ao meu Amado, vai ao seu Quarto dizer-lhe quanto, quanto dói Amar sem ser amado, Amar calado. Beijai-o vós, felizes Palavras que levíssimas envio Rumo aos quentes países De seu corpo […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Por não ter esperança de beijá-lo
    Eu mesmo, ou de abraçá-lo,
    Ou contar-lhe do amor que me corrói
    O coração vassalo,
    Vai tu, poema, ao meu
    Amado, vai ao seu
    Quarto dizer-lhe quanto, quanto dói
    Amar sem ser amado,
    Amar calado.

    Beijai-o vós, felizes
    Palavras que levíssimas envio
    Rumo aos quentes países
    De seu corpo dormente, rumo ao frio
    Vale onde vaga a alma
    Liberta que na calma
    Da noite vai sonhando, indiferente
    À fonte que, de ardente,
    Gera em meu rosto um rio
    Resplandescente.

    No sonolento ramo
    Pousai, palavras minhas, e cantai
    Repetindo: eu te amo.
    Ele que dorme, e vai
    De reino em reino cavalgando sua
    Beleza sob a lua,
    Encontrará na voz de vosso canto
    Motivo de acalanto;
    E dormirá mais longe ainda, enquanto
    Eu, carregando só, por esta rua
    Difícil, meu pesado
    Coração recusado,
    Verei, nesse seu sono renovado,
    Razão de desencanto
    E de mais pranto.

    Entretanto cantai, palavras: quem
    Vos disse que chorásseis, vós também?

     

    Mário Faustino
    O homem e sua hora e outros poemas
    Pesquisa e organização: Maria Eugenia Boaventura
    Editora Companhia das Letras – edição 2002