Sob a luz da lua cheia
É que se vê a extensão
De uma praça vazia.
Quanto dói a praça sem luta, sem festa.
Não há sequer um bar, um violão.
Apenas um aposentado passeia com um cão.

No centro da praça, há um monumento.
Três trabalhadores erguem um bloco de cimento.
Estão lá, noite e dia, sempre a construir o mundo.

Na praça cabem trezentas luas das graúdas,
Mas já a vi pequena.
Eram muitos sapatos e sandálias
Por metro quadrado.

O chão negro e o colorido dos calçados.
Homens e mulheres
Carregavam nas mãos suas bandeiras,
E seus meninos.
E os jovens que haviam enfrentado
A tropa de choque
Bebiam longos goles de cerveja.
Eram longos também os beijos.
Gritavam e se abraçavam
E assim erguiam um outro monumento.

Mas embora gigante
Já a vi feia, fraca, frágil, miúda.
Já a vi quase deserta
Embora grande fosse a causa.
Já vi bandeira honrada sendo incinerada.

Já a vi proibida ou cercada.
Quanto decreto destes o povo rasgou.
A história conta o ridículo tirano
Que proibiu o nascer do sol.

As delícias do amargo & uma homenagem: poemas
Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi – edição 2005

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).