O espetáculo é uma obra de ficção que tem no elenco a própria autora (vivendo Clara e Iara), o diretor (como Jorge) e Alexandre Piccini (o jovem Jorge). O enredo se desenvolve a partir da memória de Jorge, um personagem que militou na resistência à repressão política durante a ditadura militar e que agora precisa revelar o passado e suas drásticas conseqüências para a sobrinha Clara, que desconhece tanto a sua origem familiar, quanto a história de seu país.

O projeto foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Durante a temporada, haverá debates aos domingos, a partir de 28 de março, logo após a apresentação, com participação dos atores, do público presente e de representantes do Núcleo de Preservação da Memória Política.

O público pode ainda apreciar a exposição "Pequenas Insurreições – Memórias", que reúne mais de 20 obras em desenho, pintura, montagem e xilogravura, produzidas nos presídios políticos de São Paulo, entre 1969 e 1979. As peças integram um acervo maior, a "Coleção Alípio Freire – Rita Sipahi", e são assinadas por artistas como Sérgio Ferro, Sérgio Sister, Angela Rocha, Arthur Scavone, Alípio Freire e Carlos Takaoka, entre outros.

Sobre o tema do espetáculo a autora revela que é atraída por histórias que discutam o ser humano. "Busco o teatro que mostra a capacidade que o homem tem de transformar a si mesmo e o mundo em que vive. A consciência política é um passo fundamental para nos situarmos numa sociedade não individualista", argumenta Carolina.

"Filha da Anistia" provoca no espectador a reflexão sobre esse período da política nacional por meio da história de uma família despedaçada pela ditadura. A montagem revela os dois lados da sociedade, inserida neste contexto: o da omissão e conformismo e o da luta pela liberdade cerceada pela repressão.

"Meu orgulho é ter conseguido realizar esse trabalho sem armas no palco e sem nenhuma cena de tortura", revela o diretor Helio Cicero. "A repressão não tinha cara, não tinha identidade; uma arma apontada não é o elemento mais importante para mostrar que não temos liberdade."

A ditadura militar é exposta por meio das lembranças do personagem Jorge sobre os encontros e conversas com a irmã Iara. A direção buscou um ritmo ágil para essas cenas do passado, explorando os diálogos sem didatismo e sem discurso político.

O texto mostra o amor fraterno em meio à irreverência da juventude e ao inconformismo para revelar as conseqüências devastadoras da repressão àqueles que lutaram pela liberdade. "O projeto 'Filha da Anistia' vem colaborar com a necessidade de compreendermos a história e de aprendermos com ela", afirma o ator Alexandre Piccini.