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    Comunicação

    A falência é uma estratégia falida

    Continue sonhando. Há pelo menos três coisas fundamentalmente erradas nessa argumentação. Em primeiro lugar, mesmo quando os bancos podem falir, seus gerentes e/ou proprietários têm um incentivo para fazer apostas arriscadas; para eles, afinal, o lado negativo é limitado – na pior das hipóteses, o banco é fechado – enquanto o lado positivo é tentador: […]

    POR: Paul Krugman

    Continue sonhando. Há pelo menos três coisas fundamentalmente erradas nessa argumentação. Em primeiro lugar, mesmo quando os bancos podem falir, seus gerentes e/ou proprietários têm um incentivo para fazer apostas arriscadas; para eles, afinal, o lado negativo é limitado – na pior das hipóteses, o banco é fechado – enquanto o lado positivo é tentador: se conseguirem obter grandes lucros por alguns anos, eles podem ganhar muito dinheiro. Lembre-se de que na crise de empréstimos e poupanças dos anos 1980, muitas pessoas fugiram feito bandidos enquanto arruinavam seus bancos.

    Em segundo lugar, uma onda de corridas aos bancos que provoque a ruína de muitas das menores instituições pode ter como resultado um estrago proporcional à concordata de alguns grandes bancos. Os maiores bancos não faliram em 1930-1931, quando uma corrida generalizada ao sistema começou com a falência do 28º maior banco dos Estados Unidos; mesmo assim, os resultados foram catastróficos. É simplesmente equivocada a ideia de que podemos deixar despreocupadamente que os bancos peçam concordata desde que nenhum deles seja grande.

    Na verdade, sabemos como é a aparência de um sistema no qual é permitido que os bancos peçam concordata: era assim que o sistema bancário americano funcionava antes da criação do Fed. E sabe de uma coisa? O sistema não funcionava sem problemas, com a solidez dos bancos garantida pela disciplina do mercado; era um sistema periodicamente arruinado por “pânicos” que destruíam as poupanças das pessoas e mergulhavam a economia numa recessão.

    Finalmente, por ser exatamente o que acaba acontecendo quando deixamos que os bancos peçam concordata livremente, promessas de não resgatar bancos no futuro são desprovidas de credibilidade. Se não implementarmos uma reforma financeira agora, no futuro haverá dois, três, muitos outros TARPs (Programa de Alívio de Ativos Problemáticos, na sigla em inglês).

    A verdade é que há resgates e resgates. Numa crise, temos de proteger os depósitos bancários e tudo aquilo que se parece com eles – basicamente, o dinheiro criado pelos bancos. Contas do mercado monetário e acordos de recompra – empréstimos de curtíssimo prazo nos quais as empresas com frequência estacionam seus recursos – têm de ser protegidos para evitar colapsos como o de 1930-31. Por outro lado, os acionistas dos bancos e os detentores de títulos de suas dívidas podem ser obrigados a pagar um preço sem que o sistema seja levado ao colapso.

    Na crise de 2008-2009, os acionistas não foram eliminados, e os detentores de obrigações foram preservados; em parte essa decisão foi política, mas foi também influenciada pela falta de uma “autoridade de resolução”: não havia uma rota clara e firmemente estabelecida para a incorporação de instituições financeiras complexas. Podemos consertar isso e lidar com futuros Citigroups (um dos quais, pelo histórico, deve provavelmente ser… o Citigroup) da mesma forma que a FDIC (Sociedade Federal de Seguro de Depósito) lida com os bancos menores: protegendo os depositantes, acabando com os acionistas.

    Mas deixar simplesmente que os bancos peçam concordata é algo que não vai acontecer – e nem deveria. Na prática, falar na possibilidade de fazê-lo é apenas uma desculpa para evitar uma reforma real.

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    Fonte: jornal O Estado de S. Paulo

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