Em todas, verifica-se que Dilma e Marina se saem pior que Serra e Ciro no voto feminino. Quando Ciro é retirado, isso não muda: Serra continua a ter mais intenções de voto das eleitoras que qualquer candidata (na verdade, mais que as duas somadas).

Em relação a Dilma, o ex-governador mantém uma dianteira relativamente grande nessa parcela do eleitorado. Na mais recente pesquisa do Ibope, por exemplo, os dois estão empatados entre os homens, ele com 35% e ela com 33%. O que quer dizer que a vantagem de 7 pontos percentuais que Serra tem, nessa pesquisa, no universo do eleitorado, deriva das intenções de voto das mulheres. Considerando-as apenas, Serra fica com 37% e Dilma 26%.

Há quem olhe esses números e tire conclusões sobre nossa sociedade e nosso sistema político. Para alguns, as dificuldades atuais de Dilma apenas repetiriam algo que Lula enfrentou no passado, pois ele, nas eleições que disputou, sempre tinha mais votos entre homens. Este ano, por razões pouco claras, o que seria uma resistência atávica das mulheres contra o PT estaria se manifestando de novo, apesar da candidatura ser encabeçada por uma mulher.

Outros vão além e especulam sobre um machismo renitente em nossa cultura, que sobreviveria apesar do endosso majoritário que a tese da igualdade tem nas verbalizações das pessoas. Embora quase todos proclamem que não veem diferenças entre os gêneros na capacidade para exercer a Presidência, as próprias mulheres descreriam mais que os homens dessa possibilidade. Confrontadas com uma candidatura feminina real, refugariam. Em outras palavras, mulher não vota em mulher, ou, melhor dizendo, muitas não.

Não esqueçamos os que dizem que o problema estaria em Dilma, que, por suas características de personalidade e estilo, não se conformaria com um determinado estereótipo feminino e alienaria o voto de muitas mulheres. São os que acham que ela precisaria ser mais isso ou aquilo para conquistar seu voto, que ela é “mandona” demais, “firme” demais e coisas parecidas.

E se nada disso procedesse? E se as diferenças de desempenho de Dilma entre homens e mulheres nada tivessem a ver com atavismos anti-PT, machismos paradoxais ou o jeito de ser da candidata? E se a explicação fosse outra?

Em uma eleição como a que estamos fazendo, em que o nível de conhecimento dos candidatos é um fator crucial para explicar sua performance nas pesquisas, pode estar aí a razão das diferenças de gênero que se constatam atualmente. São as diferenças de informação entre homens e mulheres que, ao que tudo indica, explicam as variações nas intenções de voto.

Na última pesquisa da Vox Populi, 77% dos homens entrevistados acertaram o nome de quem Lula apoia, contra 64% das mulheres. 70% dos homens que disseram conhecê-la mostraram ter alguma informação efetiva, enquanto apenas 55% das mulheres conseguiram fazê-lo. Entre as mulheres de renda mais baixa, os resultados foram, naturalmente, muito inferiores.

Mas o mais relevante é que, quando se consideram homens e mulheres com informação semelhante, as diferenças nas intenções de voto quase desaparecem. Entre os homens que sabem quem Lula apóia, 47% votam em Dilma e 34% em Serra (na lista sem Ciro Gomes). Entre mulheres, 42% nela e 33% nele. E Dilma se sai pior entre as mulheres porque Marina sobe, indo de 5%, entre homens, a 8% entre as eleitoras mais bem informadas. Parece que mulher, nesse caso, vota sim em mulher.

O mesmo acontece com quem não tem informação: entre os homens que não sabem quem Lula apóia, Serra tem 52% e Dilma, 7%; entre mulheres, Serra 48% e Dilma, 6%.

As pesquisas atuais refletem a distribuição desigual da informação entre os gêneros, que deriva, por sua vez, dos papéis sociais diferentes que homens e mulheres desempenham. O próprio andamento das campanhas vai reduzi-la. Até outubro, homens e mulheres serão, cada vez mais, iguais na sua capacidade de escolher em quem votar.

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Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Fonte: Correio Braziliense