“Não se pode ter uma taxa de juros maior do que a taxa de crescimento, pois, se assim for, o que você faz na prática é transferir o investimento da produção para o mercado financeiro”, destacou o economista e cientista político Theotônio dos Santos durante o seminário “Brasil: Economia, Política e Desenvolvimento” promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, (Ipea), no Rio de Janeiro. O evento continua hoje, no auditório do Conselho Regional de Economia (Corecon – RJ), na Avenida Rio Branco, 109, Centro. Durante dois dias especialistas debatem os rumos da economia e o papel do Estado no desenvolvimento.

Theotônio dos Santos abordou os conceitos de neoliberalismo e as teorias econômicas keynesianas, fazendo uma relação das duas correntes na economia atual e demonstrando como o Estado, de certa forma, está sempre atuando nos mercados. O economista listou as crises cíclicas do capitalismo, com ênfase nas instabilidades que o dólar e a economia norte-americana enfrentaram no século passado. Ele defendeu as diversas formas de atuação do Estado na economia e ressaltou a importância do equilíbrio das contas públicas e do controle do déficit fiscal. “A queda da taxa de juros incentivará o investimento no setor produtivo”, argumentou.

Macroeconomia

O diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, João Sicsú, foi o segundo palestrante da noite. Sicsú apresentou indicadores econômicos que demonstram a situação do País no período da crise mundial iniciada em 2008. Ele destacou a importância do setor de comércio e serviços na manutenção da economia durante a crise, como principal setor de geração de empregos no período. “Tivemos um ano de 2009 que não foi bom, mas foi um ano com criação de quase um milhão de empregos, o que pode ser considerado um ótimo resultado para um ano de crise”, observou Sicsú.

O diretor fez uma análise do crescimento do crédito e da participação dos bancos ao emprestar dinheiro para prover o aquecimento da economia. “Alguns dizem que os bancos nunca lucraram tanto, mas deve-se pensar que a economia nunca cresceu tanto também”, ponderou Sicsú ao destacar ainda os benefícios de formalização do emprego e o crescimento do salário mínimo real, como conseqüência das políticas econômicas do governo.

Embate político

O ano eleitoral e a análise da atuação do governo na economia foram os temas da palestra do jornalista e historiador Gilberto Maringoni. Ele citou como ações estratégicas do Estado para o desenvolvimento nacional a existência dos bancos de desenvolvimento na oferta de crédito, a aquisição do Banco da Patagônia pelo Banco do Brasil e a reativação da Telebrás. Maringoni colocou o Brasil como uma grande potência, atuante no desenvolvimento na América Latina e em outros mercados emergentes. “A busca de mercados na América do Sul e na Ásia, por exemplo, demonstra a ascensão de novos mercados, diferentes dos tradicionais europeus e norte- americano”, afirmou.

A entrada da Venezuela no Mercosul foi citada como exemplo de uma necessidade do desenvolvimento local na América Latina. “Existe uma demanda do próprio mercado brasileiro de estreitamento das relações com a Venezuela, por isso a sua entrada no Mercosul”, destacou Maringoni.O jornalista criticou a forma como a imprensa brasileira vê as relações do Brasil com países como o Irã e a Venezuela, áreas de expansão para a economia Brasileira.

Futuro

Na última palestra da noite, o professor Emir Sader fez um panorama da realidade econômica mundial com o avanço da China e seu crescente modo de vida consumista, seguindo o padrão norte-americano. Sader enfatizou o poder do capital financeiro e da necessidade de atuação do governo nesse setor. “O capital financeiro tem uma força gigantesca no mundo. No Brasil, sua pressão ainda é muito grande. A penetração do capital estrangeiro é um problema sério, como o envio do lucro para fora, a especulação, entre outros”, alertou Sader ao abordar o controle de fluxos de capitais.

Sader propôs um balanço dos últimos anos e destacou o novo papel do Brasil no cenário internacional. “É um momento bom, de fim de governo, para fazermos um grande debate, para sabermos o que fizemos o que queremos fazer, para organizarmos o futuro. A visibilidade do Brasil no cenário mundial aumenta a responsabilidade do País”, argumentou o professor ao defender um planejamento de longo prazo para o Brasil.
 
__________________________________________________________

Fonte: http://www.ipea.gov.br/default.jsp, por Monica Simioni, assessora da Diretoria de Estudos Macroeconômicos (DIMAC)