Representando o Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (IEDI), Júlio Gomes de Almeida participou de sessão sobre “Estratégias e padrões de financiamento público e privado”. O representante da indústria afirmou que, para a realização de empreendimentos inovadores no Brasil, o papel dos subsídios é fundamental. “Sem subsídio não se faz inovação no Brasil”, garantiu. E mostrou-se decepcionado com o fato de, apesar disso, a principal instituição de apoio à inovação, a Finep, ainda não contar com recursos realmente estáveis. “São necessários mais recursos de subvenção, e também programas que façam esses recursos chegarem às empresas de menor porte.”

O ex-presidente do BID Enrique Iglesias também palestrou na mesa. Atualmente responsável pela Secretaria Geral Ibero-Americana – entidade que responde pelos interesses comuns dos 22 países europeus e americanos de fala espanhola e portuguesa –, Iglesias afirmou que não apenas o Brasil, mas os países em geral acordaram para os problemas da tecnologia e da inovação. “Isso nos permitiu criar intenso intercâmbio sobre essa matéria entre os governos ibero-americanos.”

“Quando começamos a trabalhar com esse tema, logo nos deparamos com algumas perguntas: o que devemos entender por inovação? Como deve ser a relação universidade-empresa?” Hoje, segundo Iglesias, a Cúpula Ibero-Americana procura fomentar a cooperação entre instituições científicas para criar focos de excelência a partir da cooperação ente os governos ibero-americanos. Já foram criados programas como o Ibero-América Inova, com o objetivo de estimular a cooperação entre empresas dentro do espaço ibero-americano. Atualmente, a brasileira Finep funciona como secretaria executiva no processo de gestão desses programas.

Para Iglesias, para avançar no setor de inovação é decisivo que os países invistam na criação de um sistema público-privado de apoio e financiamento. Tal sistema, para ele, deve envolver desde os fundos públicos até o bom funcionamento do mercado de capitais. “Uma experiência de apoio à inovação que tem dado muito certo são os fundos de Venture Capital”, garantiu o ex-presidente do BID, referindo-se ao capital de risco.

Iglesias encerrou sua palestra respondendo a questão por ele próprio colocada: “Por que esse tema vem sedo percebido por todos como algo importante? Porque estamos diante de uma grande mudança do mundo: o trânsito de uma economia baseada na exploração de recursos naturais para uma outra, baseada na incorporação maciça da economia do conhecimento às cadeias produtivas.”

Outro convidado do debate foi Mário Neto Borges, presidente do Confap, o conselho que reúne os dirigentes das fundações estaduais de amparo à pesquisa. Borges citou avanços recentes na ciência brasileira, lembrando que, hoje, 23 estados brasileiros já possuem fundações de amparo e 18 deles aprovaram legislações estaduais inspiradas na Lei de Inovação.

Lembrou entretanto que, embora o Brasil tenha se fortalecido cientificamente, ainda somos fracos em tecnologia e, principalmente, em inovação. “No financiamento público nada deixamos a dever à Coreia do Sul; o problema são as fontes privadas: aí ficamos bem atrás.”

Borges criticou ainda a burocracia que entrava a pesquisa científica. “Arcabouço legal e órgãos de controle são hoje nossos maiores obstáculos.” Em tom de piada, afirmou que a Lei 6666, que rege as autarquias, precisa ser substituída ou flexibilizada. “Não é à toa que se chama 6666, e deve ser por isso que não dá certo: esse é o úmero do capeta”, brincou.

Borges encerrou sua intervenção lembrando a importância dos debates da 4º CNCTI: “Nas eleições de 2010, qualquer que seja o candidato eleito, ele terá de ter compromisso com o que estamos discutindo aqui”, declarou.

Educação matemática e Educação tecnológica

Ainda na tarde de hoje (27), teve lugar na 4º CNCTI o painel temático “Ciência e Matemática nas escolas e educação tecnológica”. O debate foi coordenado por Luiz Carlos Menezes (USP), e teve como expositores Eliezer Moreira Pacheco (MEC), Suely Druck (UFF) e Eduardo Mortimer (UFMG), que relatou a matéria. As preocupações centrais dos palestrantes giraram em torno de como ampliar qualitativamente o ensino de matemática e ciências.

Destacou-se ser importante investir nas licenciaturas de base em educação matemática e garantir que esses professores cheguem aos sistemas de ensino, pois, devido à baixa remuneração do corpo docente, perdem-se muitos profissionais para áreas de melhor condição salarial.

Foi apontado haver um gargalo nesse campo, embora exista espaço para intervenções que impactem na formação tecnológica de base matemática, buscando atender aos desafios crescentes do país. O desenvolvimento econômico do Brasil – que como foi citado já está a exigir, em áreas como engenharia, a importação de mão de obra – indica a existência de gargalos nesse campo, além da necessidade de investir, entre outras coisas, em formação continuada de professores nos anos iniciais e nos demais níveis e modalidades da educação básica.

Em suma, apontou-se a necessidade de repensar a escola, o ensino de matemática e de ciências no país para sustentar seu desenvolvimento tecnológico e as atividades inovadoras. Exemplo de iniciativa nesse sentido é a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), que reúne todo ano 11 milhões de jovens em uma atividade lúdica e educativa, de grande relevo para o incentivo e, também, para a geração e a descoberta de talentos nesse campo.

Recursos humanos e mercado de trabalho

Coordenado por Wrana Panizzi (vice-presidente do CNPq), a sessão sobre “Recursos Humanos: qualificação e mercado de trabalho” reuniu nomes como Francis Bogossian (Clube de Engenharia), Regina de Fátima Torres (Senai) e o relator Álvaro Prata (Ufsc). Assim, a temática pôde ser desenvolvida por representantes de setores e instituições sociais que vivenciam de perto os problemas da relação educação-trabalho, a exemplo das agências de fomento, das profissões técnico-científicas, da universidade e do Senai. Essa composição permitiu que se desenvolvesse uma visão ampla e sistêmica da questão da formação profissional. O debate girou em torno da necessidade de recursos humanos qualificados para fazer frente aos desafios do país.

Os indicativos apontados indicam ser necessário um amplo processo de formação e certificação de profissionais que atendam à demanda do setor produtivo e que possam alavancar o desenvolvimento do Brasil em um mundo cada vez mais competitivo e de grande rapidez nos processo tecnológicos.

Em suma, é necessário sair do atual patamar de desenvolvimento e nos aproximar dos níveis de escolarização básica e tecnológica dos países da OCDE. Os problemas estruturais do país nesse campo nos obrigam a repensar os currículos do ensino de graduação, levando em conta as demandas do futuro.

Último dia da Conferência

Os debates da Conferência Nacional de Ciência & Tecnologia seguem por todo o dia de hoje. Às 13 h a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Elisângela Lizardo, participa do painel temático "A universidade brasileira, a pós-graduação e a pesquisa". Completam o debate os presidentes da Capes, Jorge Guimarães, e do CNPq, Carlos Aragão, e o cientista Luiz Bevilacqua, da UFRJ.

Às 16 h os participantes se reúnem em sessão plenária unificada para debater visões e propostas sobre o tema "O Brasil na nova geografia da Ciência e inovação global". Às 18 h ocorre a cerimônia de encerramento do evento. 

De Brasília reportam Fábio Palácio e Robson Câmara