Pós-graduandos pela soberania

Durante sua intervenção inicial no debate, que foi transmitido em tempo real pela página da conferência, a presidente da ANPG foi aplaudida pelo plenário ao defender que “os pós-graduandos possuem posição estratégica na elaboração da Ciência e Tecnologia brasileira”. Elisangela também empolgou os participantes quando defendeu que as bandeiras dos pós-graduandos brasileiros não se reduzem a questões corporativistas, mas de soberania nacional, “com conteúdo popular e democrático”.
 
Para Elisangela, qualificar a pesquisa brasileira depende, também, de garantir boas condições de trabalho para os pesquisadores e pós-graduandos. A democratização e regionalização da pesquisa tem avançado, no entanto os programas ainda são muito fechados e precisam ampliar o acesso aos interessados em pesquisar, defendeu Elisangela. Ela abordou ainda as principais bandeiras de luta da ANPG defendendo que o pós-graduando não pode ficar refém de atividades que não estão relacionadas à sua pesquisa — transformando-se num assistente do orientador – nem sujeito a perseguições de gênero ou homofóbicas.

Também afirmou que a garantia de direitos como licença maternidade e contribuição previdenciária qualifica e valoriza os profissionais estudantes, ajudando a construir excelência e soberania na produção científica nacional. “É preciso que o pós-graduando seja respeitado para dar conta de uma universidade, de uma pesquisa mais qualificada. Por isso não nos furtamos em reivindicar e apresentar de forma organizada e coerente nossas demandas para a comunidade científica”, salientou.

Além das lutas no campo da pós-graduação, a ANPG se integra às lutas sociais, ao lado de outras entidades de representação estudantil como UNE e UBES, para reivindicar mais financiamento para a educação, como a destinação de 2% do PIB para a Ciência e Tecnologia, 50% do fundo social do pré-sal destinados para a educação. A presidente da ANPG destacou ainda a atuação junto ao CNPq, CAPES, SBPC, Ministérios e Movimento Sociais na busca do desenvolvimento conjunto do conhecimento científico voltado ao combate das diferenças sociais.

Pesquisa deve começar no ensino fundamental

Já o presidente do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Carlos Aragão, apresentou algumas necessidades de avanço da pesquisa brasileira, ressaltando que ela deve começar no ensino fundamental. Defendeu que na graduação haja mais participação dos alunos em seminários, eventos, e que haja menos horas-aula e mais incentivo à pesquisa e à leitura.

Do ponto de vista da pós-graduação, Aragão salientou a necessidade de fim da cultura de departamentos e o estímulo à mobilidade de estudantes. “Precisamos ainda internacionalizar os nossos padrões de avaliação, mas também adequar formatos e nos modernizar para contemplar o futuro.”

Presidente da CAPES e coordenador da mesa, Jorge Guimarães concordou com o colega que é preciso modernizar a estrutura da universidade brasileira. Ele disse que adaptar a universidade às necessidades atuais é fundamental para “estimular os jovens talentos que entram na universidade e ficam presos no formato da graduação”, assim como para formar massa crítica no quadro de doutores e pós-doutores das Instituições.

Guimarães citou também exemplos de avanços, como o aumento na formação de doutores nos últimos 13 anos. O país partiu de 2.830 doutores titulados em 1996 para 10.705, em 2008. “Recomendo a leitura do livro recém-lançado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) – Doutores 2010. Nele, vocês vão identificar esses e outros avanços da pós-graduação brasileira”.

Seguindo a mesma linha, Luiz Bevilacqua (UFRJ) lembrou que precisa haver mais investimentos na capacitação dos administradores e gestores das instituições. Para ele os setores precisam estar integrados, preparados e conscientes do papel de cada um na produção científica. “A academia tem que ser mais integrada, as coisas tem que funcionar mais em conjunto”, enfatizou.

Bevilacqua sugeriu ainda que as duas agências – Capes e CNPq – criem programas de apoio à capacitação, na área de gestão, para o corpo técnico das universidades e centros de pesquisa, com o objetivo de “desafogar” os professores, que utilizam parte de seu tempo com tarefas dessa natureza. Bevilacqua sugeriu ainda que as agências estimulem novas experiências.

Encerramento – Ontem (28), no último dia da 4º CNCTI, os participantes da puderam debater ainda sobre os institutos de pesquisa e inovação, sistemas urbanos e regionais sustentáveis, políticas públicas de CT&I para o desenvolvimento social, nova geração de políticas de CT&I, fortalecimento da P&D nas empresas, espaço, defesa e segurança nacional, entre outros temas.

A última plenária da Conferência abordou o Brasil na nova geografia da ciência e inovação global. A mesa coordenada por Paulo Ernani Gadelha Vieira (FIOCRUZ) teve como palestrantes Guilherme de Oliveira Estrela (PETROBRAS), Lidia Maria Serra Ribeiro (UNESCO), Silvio Crestana (EMBRAPA), e Samuel Pinheiro Guimarães (SAE/PR).