Hoje cedo tomei um susto com a manchete do telejornal, "morre o instrumentista Paulo Moura". Fiquei meio mudo. Nem sabia que ele estava doente.

Paulo Moura, assim como boa parte dos músicos de sopro no Brasil, é originário das bandinhas de interior. Saiu de São José do Rio Preto – SP para construir uma das mais extraordinárias carreiras de um músico instrumentista brasileiro.

Seu fraseado musical era inconfundível. Era possível em meio a centenas de outros sopros identificar o sotaque do sopro de Paulo Moura. Tinha algo diferente, complexo e, ao mesmo tempo, traduzido para a simplicidade. Só não caía no banal, no simplório. Era inventivo, modernizante, sem ser experimentalista. Tinha o pé no seu chão.

Para mim Paulo Moura era um gênio. Seu sopro era multicultural, sincrético, híbrido. Sei lá. Era mais do que vinho apurado. Tinha nuances, sabores distintos no mesmo gole, cada um melhor que outro.

Paulo moura era uma casa enorme, aconchegante à boa música. Habrigava batuques, africanidades diversas, acolhia o mundo, a Europa, a América, enfim, megulhava nos quintais em busca do som instigante.

Certa vez em uma aula de antropologia na Universidade Federal do Maranhão, o professor Sérgio Ferretti nos mostrava um vídeo sobre uma casa de culto afro da comunidade quilombola de Santa Rosa, município de Itapecurú – MA. Na fita, de repente rompe, em meio aos outros negros que participavam do ritual religioso, um com uma clarineta nas mãos a improvisar em cima das batidas afro maranhenses. Ferretti dizia, "é o Paulo Moura, que aproveita as pesquisas da mulher antropóloga, para também fazer as suas pesquisas musicais".

Assim Paulo Moura foi se tornando um dos músicos brasileiros mais respeitados no mundo. Suas interpretações reinventavam cada obra, sem no entanto desrespeitar astrutura orginal do autor.

Era dele a interpretação ideal para um dos mais belos choros que eu conheço, Ternura, de K-ximbinho, que consta no cd Mistura e Manda, um clássico da carreira do saudoso clarinetista. Uma preciosidade de disco. Aliás, material indispensável em qualquer discografia de música brasileira. Mas sua discografia é vastíssima, entre discos solos e participações as mais diversas, no Brasil e no exterior.

Domingo próximo, às 9 da manhã, saiba e ouça mais sobre Paulo Moura. O Chorinhos & Chorões, programa que faço na Universidade Fm, será todo dedicado ao genial Clarinetista e Saxofonista. Uma singela homenagem ao saudoso mestre da clarineta e do sax.

Salve, Paulo Moura!

Ricarte Almeida Santos é membro da Fundação Maurício Grabois – Maranhão, produtor do programa "Chorinhos e Chorões" da Rádio Universidade de São Luís e um dos nomes da nova geração da Música Popular Maranhense.