A insatisfação com a política adotada pelas oligarquias desagradava vários setores no fim da década de 20 e início da de 30. Havia os descontentes políticos, os que queriam mais investimentos e os que pressionavam por melhores condições de trabalho. A Revolução de 30 só ocorreu porque os governantes não tinham mais apoio na sociedade. Apesar de não haver uma participação popular na revolução, ela aconteceu porque a mudança era um desejo nacional. Para a professora de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP) Maria Aparecida de Aquino, a população tem créditos nas mudanças históricas, mas normalmente não o reconhecimento merecido.

“No Brasil, a história sempre foi assim. Quem proclamou a Independência foi o futuro rei de Portugal, que era quem menos estava interessado nessa independência. Quem concedeu a abolição? A princesa, que é quem menos estava interessada nisso. Tem uma receita na qual o governante camufla a existência de movimentos sociais e depois faz a concessão. Todos já foram às ruas apoiar a causa, mas quem tem o nome na história é aquele que está no poder e apenas assina a chancela. Essa é uma marca terrível na nossa história. Não é a ausência dos movimentos sociais, mas sim a forma como é contada.”

Os movimentos sociais no entanto são responsáveis por grande parte dos avanços conquistados pela sociedade até hoje. “Conquistas como essas são o acúmulo de lutas históricas do povo brasileiro. São ideais que demoraram 50, 60 ou 70 anos para se realizar, mas aconteceram em cima da luta do povo brasileiro”, conclui a professora.

Um dos setores mais descontentes com a política econômica totalmente voltada para a agricultura dos governadores da década de 20 era formado por um grupo que seria o início da classe média e da burguesia industrial. Apesar de ainda ser “dependente do setor agrário exportador” e de não ter força política para influenciar as massas, o setor era “capaz de expressar na esfera política, seus interesses específicos, junto aos centros de decisão”, conta em seu livro “A revolução de 30″, o historiador brasileiro Boris Fausto.

Maria Aparecida concorda com essa visão e diz que em certo ponto algumas das reivindicações dessa classe industrial serão atendidas. “Essa camada que está à frente de um início de industrialização até vai ser contemplada na sequência da história, mas não será contemplada num primeiro momento. Ela é favorecida porque o País sai daquela caracterização exclusivamente agrária e totalmente voltada para a monocultura do café que entrou em uma decadência. Mesmo que não tenha sido massivo, ali começa a existir um investimento no setor industrial.”

Em seu livro, Boris Fausto explica que, apesar do descontentamento das classes médias, elas não têm participação efetiva na revolução. Segundo o autor, o surgimento da burguesia industrial como setor detentor de poder na classe governamental é muito posterior a 30. “No contexto da sociedade Latino Americana, este momento é uma possibilidade histórica definitivamente liquidada”, afirma.

Classes populares e movimentos trabalhistas

Em sua obra, Boris Fausto relata que a maior revolução após o golpe de 30 está na mudança no modo de comandar o País, o que diferencia a política comandada por São Paulo e Minas Gerais até 1929 e o governo de Getúlio. Foi na Era Vargas que se iniciou no Brasil um modo do governar que, diferentemente da República Velha, busca sua legitimidade e sustentação nas classes médias e populares ainda em formação, e não nas oligárquicas.

Para Maria Aparecida, os avanços trabalhistas após a década de 30 foram conquistas inevitáveis que o processo de industrialização do País acarretou. “Os imigrantes europeus que começavam a sair das lavouras em decadência e ir trabalhar nas fábricas vinham de locais menos desenvolvidos da Europa, mas já com alguma tradição operária de luta. E foram décadas de pressão popular. Com Vargas aconteceram avanços para o setor, mas um avanço perverso. E não foi tão logo.”

A professora explica que a consolidação das Leis do Trabalho aconteceu só no fim da Ditadura Vargas, em 43, e apenas respondendo às pressões populares “Até então estávamos na pré-história em termo de trabalho. A consolidação faz isso, mas de uma forma perversa, como se fosse uma concessão. Vargas não faria essa lei se a população não estivesse nas ruas.”

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Fonte: G1