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    Comunicação

    Fala do velho do restelo ao astronauta

    Aqui, na Terra, a fome continua. A miséria, o luto, e outra vez a fome. Acendemos cigarros em fogos de napalme E dizemos amor sem saber o que seja. Mas fizemos de ti a prova da riqueza, E também da pobreza, e da fome outra vez. E pusemos em ti sei lá bem que desejo […]

    POR: Redação

    1 min de leitura

    Aqui, na Terra, a fome continua.
    A miséria, o luto, e outra vez a fome.

    Acendemos cigarros em fogos de napalme
    E dizemos amor sem saber o que seja.
    Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
    E também da pobreza, e da fome outra vez.
    E pusemos em ti sei lá bem que desejo
    De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

    No jornal, de olhos tensos, soletramos
    As vertigens do espaço e maravilhas:
    Oceanos salgados que circundam
    Ilhas mortas de sede, onde não chove.

    Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
    Onde come, brincando, só a fome,
    Só a fome, astronauta, só a fome,
    E são brinquedos as bombas de napalme.

    Poesia completa
    Editora Alfaguara
    Ano 2005

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