A menos de cinco semanas das eleições intermediárias de novembro, não há sinal daquilo que poderia ser denominado clima eleitoral nos EUA. Nos discursos pronunciados há alguns dias por líderes democratas em Los Angeles, apareceram apenas 800 pessoas.
Em Chicago, os candidatos dos republicanos não conseguiram reunir mais de 1.200 pessoas no “encontro de conhecimento” realizado. Habitualmente, tais concentrações de “figurões” dos partidos reúnem mais de 5 mil pessoas. Consequentemente, deve-se esperar recordes de abstenção.

Determinadas pesquisas mostram que mesmo aqueles que votaram em Barack Obama nas eleições presidenciais de 2008 não pretendem votar. Um em cada três eleitores democratas e um em cada dois eleitores republicanos. Já com relação aos independentes, os quais, habitualmente, definem o resultado, é duvidoso se votar 1/4 daqueles que votaram em Barack Obama, em 2008.

Contudo, estas eleições – para renovação de 1/3 do Senado e o total da Câmara dos Representantes – são importantes. Os democratas controlam hoje ambas as casas do Legislativo, mas é duvidoso se conseguirão manter o controle da Câmara dos Representantes, enquanto no Senado ambos os partidos perderão cadeiras e liderança.

Perda de maioria significa, além de tudo, a impossibilidade de o governo impulsionar seu programa e garantir a homologação de uma série de acordos e tratados internacionais já assinados pelo presidente Obama. Entre estes, os acordos com a Rússia para redução dos arsenais nucleares dos dois países.

Reeleição ameaçada

Mas, se Obama não conseguir a aprovação na Câmara dos Representantes dos projetos de lei já programados para a refomulação do setor de Educação, o controle da capacidade de endividamento dos bancos, a adequação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e toda a estratégia de defesa dos EUA às novas condições internacionais, então, é muito duvidoso se Obama poderá garantir sua reeleição no outono de 2012.

Talvez seja prematuro, mas em Washington certos políticos democratas já iniciaram as buscas por novas pessoas e intensificaram as procuras.

Entretanto, aquilo que hoje caracteriza o quadro político da “América” é a indiferença política e o pessimismo do cidadão simples. “Lembra aquele que vê o inevitável”, escreve a New Yorker, destacando que “parece que a sociedade americana foi envenenada incuravelmente pelo desgaste dos valores, da vulgaridade da política e dos nossos políticos”.

Já o editorial da Wilson Quarterly, uma das mais conceituadas revistas políticas dos EUA, constata em seu exemplar deste outubro que “pela primeira vez após o escândalo de Watergate, o cidadão norte-americano encontra-se desorientado, não tem mais em que e em quem esperar (…) e, o pior, não tem a quem recorrer para garantir mesmo alguma esperança de melhoria”.

Geração sem futuro

Por ocasião do encontro de altos executivos dos bancos dos EUA, realizado no início do mês passado, não foram ouvidos protestos, divergências ou reclamações quando um megabanqueiro proclamou: “Que a Europa não espere por recuperação e saída da crise. A economia norte-americana não tem perspectiva de recuperação”.

No dia seguinte, um comentário anônimo no jornal Wall Street Journal generalizava esta trágica perspectiva, destacando suas consequências: depressão na política, falta de busca por soluções e inércia política.

Já a revista US News & World Report escreveu caracteristicamente: “O sonho dos pais para que seus filhos tenham uma vida melhor do que eles ficará um sonho (..) Faltam-nos verdadeiros líderes”.

O articulista da revista tinha em mente os 14,5 milhões de norte-americanos desempregados que estão em busca de emprego já há mais de dois anos. Que desde meados de 2008, a economia norte-americana não criou novos postos de trabalho. Que quase 1,5 milhão de crianças em idade escolar abandonam a escola a cada ano porque suas famílias não dispõem do essencial. E conclui: “Temos um sistema político paralítico. Nem os democratas, nem os republicanos estão em condição de achar saída (…) Faltam-nos os verdadeiros líderes”.

Injeções de otimismo

Provavelmente, tentando aplicar uma injeção de otimismo, o ex-secretário de Estado Henry Kissinger sustentou em recente mesa redonda de televisão que, “de um modo geral, o cidadão norte-americano comum está satisfeito porque seu país evitou o indesejável durante a crise econômica e a derrocada psíquica após o atentado terrorista contra as Torres Gêmeas de Nova York e contra o Pentágono”.

E, reverberando, o coordenador da mesa-redonda “explicou” que “tanto o Afeganistão, quanto o Irã não incomodam os cidadãos norte-americanos. O primeiro porque – segundo disse – não há tantos mortos, como na guerra do Vietnã”. E quanto ao Irã, “mesmo que consiga fabricar a bomba atômica, os EUA não estão ameaçados, porque o Irã não dispõe ainda de mísseis intercontinentais para transportá-la até os EUA”.

Naturalmente, semelhantes injeções de otimismo são inconsequentes. Aliás, uma pesquisa da NBC News, realizada no início do mês passado, mostrou que pode o Afeganistão não interessar aos cidadãos norte-americanos, como Vietnã nas décadas de 1960 e de 1970, mas 64% querem a volta dos soldados norte-americanos à pátria e ainda um percentual maior (71,2%) não quer que os EUA se envolvam em outras aventuras semelhantes novamente.

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Fonte: Monitor Mercantil