Um dos problemas que os planos de austeridade têm é que as suas contas são mais complexas do que parecem à primeira vista. Ninguém tem em conta que nestes casos o multiplicador funciona ao contrário e o que antes eram ganhos agora são perdas líquidas. Isto verifica-se nos profundos cortes orçamentais que foram aplicados em alguns países e que estão a gerar uma queda maior no resultado final. E se agregarmos a percentagem de evasão, os saldos tornam-se ainda mais negativos.

A Grécia é o primeiro país que começa a sofrer as consequências deste fenómeno de que já tínhamos advertido quando assinalámos que os planos de austeridade conduzem ao desastre. As débeis condições da Grécia agravadas pelos planos de austeridade diminuíram as receitas fiscais em percentagens maiores do que as esperadas. Como resultado, a Grécia não poderá cumprir a meta do défice orçamental estabelecida em 8,1% do PIB. Mas, a quem ocorre comprometer-se com metas que serão inalcançáveis dado o contexto de crise global em que vivemos?

Só a velha escola do FMI é capaz de impor estas condições para emprestar dinheiro. O FMI não só ganha pela cobrança de juros, mas também pelas multas. Juntamente com a União Europeia (UE), o FMI elaborou um plano de resgate para a Grécia de 150 mil milhões de dólares. Com este dinheiro, esperava-se que a Grécia alcançasse um défice de 8,9% no pior dos casos. No entanto, nenhuma das análises teve em conta o custo dos juros da dívida pública, que apesar de terem caído em Maio após o acordo do Fundo de Estabilização, continuaram a subir e colocam agora os juros dos títulos da dívida pública grega a dez anos em 10,4%, segundo a Bloomberg, seguidos de muito perto pelos juros dos títulos das dívidas da Islândia e da Irlanda. Na prática, isto representa o nível inferior ao qual se está disposto a emprestar dinheiro à Grécia. Fraco favor num contexto de crise.

Os actuais dados das economias da periferia europeia são decepcionantes, porque as autoridades esqueceram que, quando se está numa crise financeira global, as dinâmicas tendem a ser deflacionárias e a cobrança de impostos cai. Isto demonstra que os planos de ajustamento foram feitos sem o menor critério e sem nenhum conhecimento real do que é uma crise financeira.

Até ao momento, os problemas têm-se mantido sob um relativo controlo pelas acções conjuntas dos governos e dos bancos centrais. Mas estas políticas depressa acabarão e os governos enfrentarão o drama de continuar no meio da crise com economias mais débeis do que no princípio dela.

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Artigo publicado em El Blog Salmón , traduzido por Carlos Santos

Marco Antonio Morenoé um economista chileno, que edita o blogue Jaque al neoliberalismo

Fonte: Esquerda.net