Por outro lado, permito-me uma comparação. O México do presidente Felipe Calderón iniciou, em dezembro de 2006, uma “guerra às drogas e aos cartéis”. Com o apoio do então presidente George W. Bush, convocou, para essa referida guerra, policiais e mais 50 mil militares do Exército.

A Casa de Detenção fazia parte do complexo prisional estadual do Carandiru. A perícia demonstrou que muitos dos mortos tinham sido alvejados nas axilas, a evidenciar que estavam com os braços levantados, em sinal de rendição, quando dos disparos realizados pelos policiais.

Na tentativa de reconquista da Ciudad Juarez (estado de Chihuaha), na fronteira com a norte-americana El Passo, as forças de ordem sucumbiram. E a cidade Juarez tem geografia e traçado urbanístico bem mais favorável do que a Rocinha e Vidigal, para o caso de execução de uma ação repressiva, de natureza bélico-militar.

Até 31 de maio de 2010, o combate militarizado de Calderón tinha produzido 28 mil mortes e 70% das vítimas fatais não tinha antecedente criminal e nem ligação com os cartéis.

Calderón afasta qualquer solução pacífica, apesar da prova provada de os cartéis estarem a vencer a “guerra” contra o Estado mexicano.

A mexicana Cidade Juarez, em termos de violência, só fica atrás de Darfur, no Sudão. E em Juarez, os cartéis impõem humilhação às força de ordem. Em Juarez, os cartéis decretaram, aos jornalistas, a lei do silêncio, ou seja, nada de matérias sobre as suas atividades.

No México, o negócio das drogas não sofreu nenhum abalo econômico com a “guerra” do presidente Calderón. E no final de novembro, sem saída para recuar e implantar uma nova política, o presidente Calderón falou da esperança de vencer a guerra. Segundo ele, isso será possível porque os cartéis entraram em luta entre si: “Eles vão se matar”. Em outras palavras, admitiu que o Estado não conseguirá vencê-los.

Com efeito. Hoje, em manchete, o jornal O Globo informa que o chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Allan Turnowsky, disse que as suas equipes policiais estão treinadas e prontas para iniciar, de pronto, as ocupações da Rocinha e do Vidigal.

Mais cauteloso, o almirante comandante dos fuzileiros navais alertou não haver nenhuma área no Rio imune ao ingresso dos seus comandados.

O chefe da Polícia Civil parece querer iniciar uma guerra.

No entanto, esqueceu ser pacificadora a política do governo estadual, que, frise-se, usou adequadamente da força para reprimir os ataques espetaculares impostos à população e ao Estado. Ataques espetaculares por uma formada confederação criminal: os serviços de inteligência deixaram vazar, bem antes da retomada do Complexo do Alemão, a descoberta de uma reunião entre os líderes das organizações rivais (Comando Vermelho e Amigos dos Amigos). Os líderes, presente o chefão do Complexo do Alemão, celebraram um pacto voltado à união de forças em face das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs).

O chefe da Polícia Civil parece ter esquecido a política pacificadora: UPPs. Não houve guerra tingida por sangue de civis inocentes nas implantações das 13 UPPs. Prevaleceu a diassuação, com a previsível migração dos membros de facções criminosas que mantinham controle social e de territórios.

Acabar com a secessão na Rocinha e no Vidigal não é tarefa onde deva prevalecer o ataque bélico. O animus beligerante do chefe da Polícia Civil deve ser controlado pelo secretário da segurança Beltrame, que tem se mostrado um homem equilibrado e que dá importância ao planejamento estratégico.

Pano rápido

O vazamento do WikiLeaks pode ajudar. Tem uma passagem com o presidente sírio Bashar Assad, em conversa com senadores norte-americanos: Vocês possuem um gigantesco aparato de informação. Nós, sírios, não temos esses recursos. Mas, somos bem sucedidos no combate aos extremistas porque contamos com melhores analistas. Vocês gostam de fuzilar terroristas, mas sufocar as redes dá melhor resultado”.

Que tal pensar em sufocar as redes que colocam drogas e armas na Rocinha e no Vidigal?

Fonte: Terra Magazine