A previsão do ministro está amparada na elevação de quase 15% nos preços médios dos embarques no ano passado, algo que deve ser mantido neste ano, mesmo com a "guerra cambial" desatada após a crise financeira global iniciada em 2008. "A 'guerra cambial' não deve continuar e o câmbio deve ficar mais equilibrado neste ano. Teremos uma safra cheia e um recorde de receita de R$ 187 bilhões", afirmou Rossi. "As condições cambiais eram piores no ano passado. E o produtor tem capacidade para enfrentar câmbio e logística adversas". Rossi mostrou desagrado com a manutenção da tarifa contra o etanol nacional nos Estados Unidos. "Estamos frustrados, mas é um ato de soberania. É errado proteger um setor incompetente, que dizer, ineficiente", criticou.

O ministro aposta na manutenção dos custos de produção e na continuidade do avanço "significativo e exponencial" das exportações em 2011. Além disso, estimou, os preços médios devem seguir em alta por causa da demanda mundial aquecida e dos sinais de forte consumo doméstico. Produtos como óleo de soja, carnes, açúcar, café, milho e algodão devem continuar em ascensão. "Mesmo com a redução na receita do complexo soja, em 2010 tivemos aumento no sucroalcooleiro, em carnes, café, milho e produtos florestais", afirmou o ministro.

Os principais blocos e países parceiros do agronegócio nacional elevaram as compras no Brasil em 2010. A Ásia aumentou 17% suas aquisições – a China, 23%. A União Europeia comprou mais 27% e a Rússia, 46%. No Oriente Médio, o Irã comprou mais 86% e o Egito, 70%. Na América Latina, a Venezuela elevou em 36% suas aquisições.

O superávit comercial da balança do agronegócio também deve crescer em 2011, previu Wagner Rossi. No ano passado, o saldo cresceu 14,8%, para US$ 63,05 bilhões. Mantida a tendência, deve saltar a US$ 70 bilhões. "O superávit cresce seis vezes na última década. E ainda ajudamos a cobrir o déficit comercial da indústria e dos serviços".

A balança de 2010 confirmou a expectativa de grande destaque para as vendas externas de açúcar. Novamente liderados pela soja em grão e seus derivados (óleo e farelo), os embarques mostram que o segmento sucroalcooleiro superou as vendas do complexo carnes, voltando a ocupar o segundo lugar no ranking do Ministério da Agricultura. Embora mantido na ponta das exportações setoriais, o complexo soja perdeu espaço. Os embarques somaram US$ 17,1 bilhões, 0,8% abaixo de 2009. Sua fatia nos embarques do campo caíram de 26,6% para 22%.

Nem mesmo o expressivo aumento das cotações internacionais no segundo semestre impediram um recuo nos preços médios do grão e do farelo. As cotações do óleo se expandiram, mas não o suficiente para compensar a retração no complexo. Em um cenário melhor do que a soja, os embarques de açúcar registraram preços médios 32,2% acima de 2009. Como o volume exportado também engordou (15,3%), a receita da commodity atingiu US$ 8,38 bilhões – 52,3% acima de 2009, o que levou os embarques totais do segmento sucroalcooleiro a US$ 13,77 bilhões, um salto de 41,8%. Foi a maior expansão entre produtos ou grupos com superávit superior a US$ 1 bilhão.

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Ministro minimiza reflexos inflacionários internos

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O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afirmou ontem que a inflação dos alimentos deve arrefecer em 2011. Ao tentar descolar o setor rural da imagem de "vilão dos preços", Rossi admitiu que a inflação dos alimentos "gerou tensão" no ano passado. "A inflação foi real, pontual em alguns produtos e geral no mundo inteiro. Mas não houve descontrole nem saiu dos limites", disse. O IBGE calcula que os alimentos responderam por 40% do índice de preços ao consumidor (IPCA) em 2010. "Pontualmente, alguns preços saíram da margem por causa da forte demanda mundial por carne e o consumo interno de feijão", disse.

Para sustentar a previsão, Rossi disse ser menos positivo para os preços o cenário para a carne bovina e o feijão, duas das principais fontes de pressão sobre o IPCA no ano passado. "A arroba cai suavemente e há retração maior [de preços] em cortes mais nobres. O feijão estava a R$ 200 e hoje está a R$ 80 [a saca]", afirmou o ministro. "Daqui a pouco, vamos ter que ajudar o produtor porque os preços vão ficar abaixo do mínimo". Rossi lembrou que a alta nos preços da carne teve origem, há dois anos, no abate de matrizes causado pelas cotações em queda. Além disso, o atraso nas chuvas em 2010 limitou a oferta de boi gordo "de pasto", restando apenas animais de confinamento. "Havia uma oferta contida em um momento de grande expansão da demanda". Rossi afirmou ter recebido da presidente Dilma Rousseff a missão de "acompanhar de perto" o setor e disse que o setor foi "âncora do combate" à carestia na última década. "Os preços agrícolas ficaram abaixo do índice da inflação. E a presidente Dilma sabe do protagonismo da agricultura", disse.

O ministro também aproveitou o debate para reafirmar a meta de "unificar" a política agrícola do governo durante sua gestão. "Temos que sair da garantia de preços mínimos para um seguro rural climático e mercadológico", afirmou. Rossi disse isso "otimizaria" os recursos e daria garantia mais ampla e abrangente ao produtor. "Faremos uma aplicação gradativa com sistema único para circunscrever riscos e aumentar a base de produtores, seguradoras e resseguradoras".

Questionado sobre as divergências entre agronegócio e agricultura familiar, Rossi rejeitou a comparação: "Lá, é de cunho social. Aqui, é econômico", disse. "Há complementaridade, mas a comparação não é boa. Eles têm peso econômico, mas se equivocam com conceitos de produção. Pequenos produtores são da agricultura empresarial, não da questão social. Têm nível tecnológico, é da empresarial".

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Fonte: Valor Econômico