Assinalam-se hoje os 20 anos do início da primeira Guerra do Golfo. Ignorando os apelos internacionais e as propostas de resolução pacífica e negociada da crise na região, os EUA e seus aliados iniciaram então, instrumentalizando o Conselho de Segurança das Nações Unidas e confirmando a sua opção belicista, a primeira guerra de larga escala no Médio Oriente.

Se, como o PCP teve oportunidade de afirmar há duas décadas, a violação de resoluções das Nações Unidas e a invasão do Kuwait pelo Iraque eram inaceitáveis, a realidade demonstrou claramente que a estratégia do imperialismo norte-americano em torno da Crise do Golfo não visava a defesa da legalidade internacional e da independência e soberania dos povos do Médio Oriente, mas tão só o desencadear de um conflito militar que servisse os seus interesses económicos e geoestratégicos.

Confessos objectivos dos EUA

Desencadeada num quadro de recessão da economia norte-americana e de manifestação de contradições inter-imperialistas, nomeadamente no plano económico, a Guerra do Golfo foi inseparável das profundas e trágicas mudanças associadas ao desmantelamento da União Soviética e à liquidação do socialismo no Leste da Europa, tendo sido uma peça fundamental para a concretização, neste quadro, dos confessos objectivos dos EUA de instauração de «uma nova ordem mundial» de domínio hegemónico do imperialismo que, no Médio Oriente, passava e passa pelo domínio dos enormes recursos naturais da região, pelo estrangulamento da luta popular, nacional e progressista dos povos do Médio Oriente e pelo contínuo apoio à criminosa política de Israel contra os povos da região.

Esta autêntica guerra de rapina, desencadeada hipocritamente em nome da legalidade internacional, foi o prelúdio de 20 anos de agressões, invasões e subversões imperialistas em larga escala, em que a invasão e ocupação do Iraque em 2003 ocupa lugar de destaque como um dos maiores crimes imperialistas cometidos na história do Médio Oriente e que se prolonga até aos dias de hoje.

A agressão ao Iraque, em 1991, marcou uma nova corrida armamentista, em que pontificaram o desenvolvimento de armas, tecnologias e sistemas militares cada vez mais mortíferos, e inclusive o uso de armas proibidas em conflitos militares – tendo igualmente marcado um salto qualitativo no envolvimento mais directo das potências capitalistas europeias na estratégia de domínio imperialista no Médio Oriente e na adopção de políticas supranacionais no quadro da União Europeia de carácter militarista e federalista, nomeadamente no quadro da chamada «política externa e de defesa comum».

Do Golfo à Jugoslávia, do Afeganistão ao Iraque, ao Líbano e à Palestina, o imperialismo procurou nestas duas décadas impor a sua dominação global, assegurar o controlo directo dos principais recursos energéticos mundiais, aniquilar a soberania dos povos e submeter todo o planeta aos interesses de exploração e lucro dos grandes grupos económicos e financeiros. Crimes hediondos, cujos responsáveis continuam inaceitavelmente impunes, foram cometidos contra os povos da região e muito em particular contra o povo iraquiano. Esta ofensiva militarista e belicista alimentou os ataques aos direitos sociais, económicos e políticos dos povos – mesmo nos centros do imperialismo – e agravou as contradições entre potências imperialistas.

A resistência e luta dos povos

Graças à resistência e luta dos povos – em primeiro lugar, dos povos vítimas das agressões – a ofensiva do imperialismo conheceu derrotas e recuos. Mas os perigos para a paz e a Humanidade não desapareceram e os crimes continuam a ser cometidos.

A profunda crise económica do capitalismo e a incapacidade das classes dominantes para resolvê-la estão a conduzir – tal como no passado – à tentativa de assegurar o poder pela violência, o autoritarismo, a guerra e brutais ofensivas contra os direitos e condições de vida dos povos.

Os perigos de guerra e agressão estão bem patentes na recente Cimeira da NATO e no novo conceito estratégico desta organização militarista e agressiva – que o Tratado de Lisboa da União Europeia considera seu braço armado –, nas permanentes ameaças de guerra, provocações e ingerências imperialistas em numerosos pontos do globo, bem como no reforço das despesas militares e dos aparelhos securitários.

A realidade demonstra que, num quadro de autêntica fuga do sistema para a frente, face à sua profunda crise estrutural, os riscos de novos e mais perigosos conflitos e agressões do imperialismo são reais, demonstrando a importância de, à luta social que percorre os mais variados continentes – de que é notável exemplo recente a luta do povo tunisino, que o PCP saúda – se associar e fortalecer a luta pela paz e contra os planos de guerra e agressão do imperialismo, pela soberania e direitos de todos os povos do planeta.

Solidariedade

Passados 20 anos sobre a Guerra do Golfo, o PCP expressa a sua solidariedade aos povos e às forças nacionais de libertação, revolucionárias e progressistas, que prosseguem a luta contra as agressões, ingerências e ameaças do imperialismo.

Expressando o seu apoio aos povos da região que são alvo de ameaças e manobras de ingerência do imperialismo, como é o caso do povo libanês; às forças populares, nacionais, democráticas e progressistas do Médio Oriente que prosseguem a luta pelos seus inalienáveis direitos – muito especialmente ao povo palestiniano e à sua luta pelo direito ao estabelecimento do Estado independente da Palestina nas fronteiras anteriores a 1967, com capital em Jerusalém –, o PCP reitera a sua exigência da retirada de todas as forças ocupantes do Iraque e expressa a sua solidariedade ao povo iraquiano e à sua luta pela real independência e soberania do Iraque e pela verdadeira liberdade, democracia, progresso e justiça social.

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Fonte: jornal Avante!