"Não precisamos que a China vá ao Brasil investir em porto, precisamos é de funding (financiamento)", disse Godoy. Os investidores externos são isentos de imposto de renda na aplicação em papéis ou cotas de fundos de investimento majoritariamente dedicados a projetos de infraestrutura, de acordo com a medida provisória. "Os investidores não necessitarão operar os projetos, de portos, energia alternativa, aeroportos, apenas comprar títulos financeiros para financiar esses investimentos." Godoy informou que espera a aprovação e regulamentação da medida provisória a tempo de permitir o começo de operações desses fundos em 1º de maio.

Como outros empresários que acompanham a missão de pelo menos 200 executivos em visita à China durante a visita da presidente Dilma Rousseff ao país, Godoy atribui as dificuldades de exportação brasileira de produtos de maior valor agregado à China aos problemas internos do país, como o câmbio valorizado do real em relação ao dólar. "Não é fácil exportar à China, mas se o americano e o europeu exportam, temos de encontrar um caminho", comentou o diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, Norton Rapesta.

O Conselho Empresarial Brasil-China defende maior pressão do governo brasileiro sobre os chineses para retirar barreiras que hoje impedem maior agregação de valor aos produtos exportados pelo Brasil à China. Um dos problemas, segundo aponta o presidente do conselho, o ex-ministro do Desenvolvimento Sérgio Amaral, é a chamada escalada tarifária, que onera mais a importação de bens de maior valor agregado, como o óleo de soja, sujeito a tarifa de 9%, bem superior aos 2% do grão da leguminosa. O conselho reconhece, segundo Amaral, que é o setor do agronegócio, por sua maior competitividade, o que reúne maiores condições de exportar bens de maior valor à China.

"Tudo na China tem uma dimensão empresarial e uma de governo", comentou. "Precisamos do governo para ter maior previsibilidade nessa relação." Segundo Amaral, os sinais de maior receptividade do governo chinês às demandas brasileiras e os projetos de associação entre os setores privados dos dois países serão avaliados no segundo semestre do ano, quando se reunirá a Cosban, comissão de alto nível China-Brasil.

"A gente precisa saber, em cada setor, o que a indústria pretende fazer em 20 anos", argumentou o secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Alessandro Teixeira. Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, as condições de competitividade do Brasil impedem as tentativas de ampliar o valor agregado da maioria dos manufaturados a serem vendidos pelo Brasil à China.

"Da porta da fábrica para dentro somos competitivos, mas perdemos competitividade na razão inversa da valorização do câmbio", queixou-se o vice-presidente da Associação Brasileira de Máquinas, José Velloso Dias Cardoso, que também levanta suspeitas de irregularidades na competitividade chinesa. "Na China, o preço médio das máquinas é de US$ 4 por quilo, menor que o custo da matéria-prima, e bem abaixo da média internacional, de US$ 25", acusa.

"Estamos cercados de roubalheira, mas recuperamos três pontos percentuais de 'market share' (fatia de mercado) da concorrência neste ano, para 55% do total", disse o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), um dos setores beneficiados por medidas antidumping contra a China. "Não se pode dizer que não investimos, somos os maiores usuários do cartão BNDES, com US$ 2 bilhões em financiamentos", ponderou o diretor-executivo da Associação Brasileira de Indústria Têxtil, Fernando Pimentel.

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Fonte: Valor Econômico