Além dele, fizeram uso da palavra, o presidente da Assembleia Nacional de Cuba, Ricardo Alárcon, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, o chanceler da Venezuela, Nicolas Maduro, a candidata à presidência da Guatemala, Rigoberta Menchú e o representante da delegação do Vietnã. A solenidade foi coordenada por Valter Pomar, da direção do PT, que é o Secretário Executivo do Foro, e por um representante da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Do Brasil, estão presentes quatro partidos: Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Socialista Brasileiro(PSB) e o Partido Pátria Livre (PPL).

Estão inscritos no evento 279 lideranças de delegações de 42 partidos, representando 32 países. Além de países da América Latina, estão presentes lideranças da Alemanha, Finlândia, França, Itália, Japão, Vietnã, Saara Ocidental, China, Suécia; e embaixadores na Nicarágua da Líbia e da Palestina. A delegação do PCdoB é constituída pela vice-presidente da legenda, deputada federal Luciana Santos, pelo secretário de Relações Internacionais, Ricardo Alemão Abreu, por Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois, por Liége Rocha, Secretária da Mulher e pelos membros da Comissão de Relações Internacionais, por Ronaldo Carmona e Rubens Diniz, e por Ticiana Alvarez, diretora de Solidariedade Internacional da União da Juventude Socialista (UJS).

Antes da solenidade de abertura, se deram as reuniões das regionais da América Latina: Meso – America, Andino – Amazônica e Cone Sul. Nesta quirta-feira, dia 19 pela manhã se realizaram novas sessões de trabalho de outras comissões do Foro, entre elas defesa, meio ambiente, autoridades nacionais e locais, movimentos sociais, juventude, mulheres, parlamentares e das fundações e escolas. Para o final do dia, está agendada participação do ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Lula é um dos fundadores do Foro. O evento se encerra no dia 20 com a aprovação dos documentos principais e de moções.

Ortega: é possível ampliar o espaço da esquerda na AL

O líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e candidato à reeleição a presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em pleito marcado para este ano, historiou a trajetória de lutas da FSLN, ressaltando o legado do líder histórico do país, Augusto Sandino, e o triunfo da revolução sandinista em 1979. Depois, sublinhou que o fim do campo socialista, da URSS, foi um golpe profundo, ”demolidor”, justamente pelo apoio que oferecia para às jornadas libertárias dos povos. Tanto é assim, que se dizia nos anos 90 que não havia mais condições para a eclosão de revoluções. Em 1998, sustenta ele, irrompeu uma revolução na Venezuela, liderada pelo presidente Chávez, e de lá para cá, uma a uma, foram se formando um conjunto de vitórias.

Ortega, todavia, não deixou de ressaltar as dificuldades, pois tais êxitos ocorrem num quadro de hegemonia do capitalismo. O próprio processo eleitoral irrecusável no atual momento histórico é um terreno dominado pelo capitalismo. E citou José Marti quando este afirmou que era necessário “atuar nas entranhas do monstro”. Concluiu seu pronunciamento dizendo que há diferentes blocos progressistas na América Latina, com tempo e características distintas, mas todos são importantes e que se apoiando “em pontos comuns” é possível avançar.

Situação continua favorável na América Latina

Os debates ainda em curso no Grupo de Trabalho de Foro de São Paulo em torno da declaração do XVII Encontro sublinha que prossegue e ganha força crescente o ciclo progressista aberto em 1998 com a Revolução Bolivariana. Os partidos do Foro governam um número razoável de países e ocorrem vitórias onde já houve um primeiro mandato de governo, como são os casos da Venezuela, do Brasil, do Uruguai, da Argentina. A presença da esquerda latinoamericana se amplia, ainda, em governos locais e nos parlamentos. O Foro proclama o apoio às candidaturas presidenciais em eleições que ocorrem em 2011: Rigoberta Menchú, Guatemala; comandante Daniel Ortega, na Nicarágua; Ollanta Humala, Perú; Cristina Fernández de Kirchner, Argentina.

As discussões também ressaltam os difíceis anos da década de 90, quando as legendas do campo do Foro tiveram que empreender a resistência à avalanche neoliberal. Por isso, ressaltam a importância da perspectiva, da estratégia. Ou seja, criar convergência em torno do projeto alternativo ao neoliberalismo, dos caminhos da superação dele, e a que rumo se chegar. É neste âmbito que aflora com força a bandeira do socialismo. Sem modelos, tampouco sem recorrer a cópias, como ressaltou Ricardo Alárcon, de Cuba, em seu pronunciamento na abertura oficial do evento. “Depois de uma época de dificuldades, de longo tempo escuro, desponta um socialismo que brota da diversidade, da singularidade de cada país, algo como um arco-íris.” Um socialismo de muitas cores, arrematou.

Contudo, as reflexões recusam qualquer abordagem triunfalista. Desde modo, também, assinalam que o imperialismo empreende um “contra-ataque” em conjunto com a direita e a velhas oligarquias, tal como ocorre, neste momento, onde a reação com entusiasmo busca eleger Keiko Fujimori no Peru.

Um espelho da esquerda da América Latina

O Foro é produto da resistência ao neoliberalismo e das vitórias alcançadas sobre ele. Reflete a força e as virtudes das legendas progressistas e de esquerda que lideram este processo, bem como seus dilemas, lacunas e desafios. Se percebe que avança a maturidade em lidar com as diferenças e mesmo divergências, e valoriza-se os conteúdos e atitudes que proporcionam a unidade dos diferentes “troncos” da esquerda latino americana. Um exemplo vem dos governos do Brasil e do Paraguai, que depois de muito debate construíram um acordo a respeito de Itaipu. No âmbito no Foro. há partidos que lideram distintos processos de integração como é o caso do Mercosul e da Alba.
 
Mas, o que vem à tona hoje é que ambos os campos valorizam o Foro e,simultaneamente, tem entusiasmo pela Comunidade Latino-americana de Nações (CELAC). É uma articulação que tende a crescer e elevar seu significado e alcance político. Ganha vigor porque é uma necessidade da luta antiimperialista e também porque aumenta a clareza de que nenhum povo poderá vencer sozinho. Na atualidade, a realização dos projetos nacionais demandam a formação de blocos regionais. No caso da América Latina, isto se manifesta num conceito do qual o Foro é entusiasta: a integração solidária.

Seminário sobre governos de esquerda

Tem sido recebido com interesse entre os participantes do Foro a realização do Seminário “Governos de esquerda e progressista da América Latina: balanços e perspectivas", que se realizará de 30 de junho a 3 de julho, na cidade do Rio de Janeiro. O seminário é uma iniciativa do Foro e está sendo realizado pelas fundações Perseu Abramo e Maurício Grabois, e pela Universidade do Rio de Janeiro(UFRJ). A programação do seminário e a mobilização para ele serão debatidos, nesta quinta-feira, 19. Iole Ilíada e Adalberto Monteiro, reprsentando as fundações Perseu Abramo e Maurício Grabois, respectivamente, irão relatar o andamento dos preparativos.

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Presidente da Fundação Maurício Grabois