Genoíno Neto abriu o debate relatando que a estrutura de defesa nacional do governo brasileiro está baseada na integração sul americana, voltada para dois níveis: a cooperação interior e a dissuasão para fora, que prevê a defesa das riquezas naturais, do espaço econômico e a integração da região. A defesa no Brasil, segundo ele, sempre se baseou na dissuasão como ponto principal, e que a negociação é uma tradição no país. A defesa do. A defesa, segundo Genoíno, é muito importante para as relações que o Brasil mantém com seus vizinhos, que é marcada pela cooperação, e nos acordos que firma.

Para o assessor do ministro da Defesa, o país, e em especial a esquerda, precisa olhar para o futuro. Ele se referiu à relação com as Forças Armadas e também sobre a o resgate da memória. "A política de Defesa não pode ser encarada como se fosse um ajuste de contas com o passado. Nosso ajuste de contas é com o futuro", disse Genoíno. Ele ressaltou ainda, que o Brasil tem compromisso com o aclaramento do que aconteceu no passado e com a Comissão da Verdade, e que é preciso resgatar o que aconteceu com a repressão política, mas adotar outros parâmetros em relação à política de segurança.

"Queremos discutir o que será o futuro, neste continente – democrático, com desenvolvimento, com distribuição de renda, e com redução das vulnerabilidades em matéria de defesa. Precisamos ter outros referenciais", concluiu.

Defesa vs. dominação / natureza vs. capitalismo

Para o professor Marcelo Caruso A., da Colômbia, as políticas de defesa e de seguridade tem sido historicamente as bases para as estratégias de dominação. Ele falou sobre o plano do governo de seu país chamado "Política Integral de Seguridad y Defensa para la Prosperidad", adotado pelo Ministério de Defesa e que teria como objetivo, entre outros, fazer frente ao conflito armado.

O tema da Defesa começa a ser tratado pelas esquerdas e propostas já surgem.


Marcelo Caruso A., membro da Comissão de Assuntos e Relações
Internacionais do Polo Democratico Alternativo, Colômbia

Caruso tratou do tema da guerra empreendida pelos Estados Unidos em diferentes países como Afeganistão e Iraque a título de combate ao terrorismo, mas que na verdade, segundo ele, servem para resolver as crises recorrentes do capitalismo e determinam as políticas de defesa e segurança.

Ele enfatizou que a esquerda tem à frente uma teoria das Nações Unidas que é o da segurança humana, que parte das comunidades e seus direitos humanos.

Para Caruso, em relação à Colômbia, que vive sob o Plano Colômbia, instituído pelos Estados Unidos, a experiência mostrou que é preciso pensar essa questão como sendo de segurança e não de defesa.

Outra questão abordada por Caruso foi a grande extensão de floresta que tem os países da América do Sul e cuja biodiversidade está sob a mira dos interesses de países desenvolvidos. As relações com a natureza estão ligadas às políticas de defesa e de segurança. O desafio colocado para as esquerdas, segundo Caruso, é o de pensar saídas para a questão da natureza dominada pelo capitalismo. “Por que o avanço das novas biotecnologias, que tem à frente grandes transnacionais como IBM e Microsoft não acontece? Não acontece porque no meio desse ambiente existe uma guerra, a da Colômbia”, relata o professor colombiano.

Enquanto o eixo estratégico dos povos da América passa por reivindicações ambientais, o eixo das grandes potências passa pelo controle da humanidade. Direito à água, à biodiversidade estão no centro do debate.

Temos que incorporar diversos aspectos às nossas concepções e debates: a natureza como espaço de vida e de convivência, de reprodução humana e natural; incluir o enfoque de gênero nas políticas de defesa; incorporar o tema de que a defesa não é só papel do Exército; qual o papel do Exército, que tipo de Exercito vamos construir; como democratizar o Exército. Pensar tudo isso, segundo Caruso, é papel dos movimentos sociais, sindicais, dos partidos, dos governos.

A defesa deve ser integrada como defende a Unasul. E o que é a defesa dentro da democracia. Que democracia? Ela deve políticas de defesa para indígenas, afrodescendentes etc. Diferenciais não aparecem. Temos que colocar tudo isso nesse debate.

Ingerência dos Estados Unidos

Arturo Nuñez Jimenez, do Mexico, falou sobre a proximidade geográfica de seu país com os Estados Unidos e como isso determina as políticas de segurança adotadas pelos governos que se sucedem. Os mais recentes, segundo ele, foram os tratados “Aliança para a Segurança e Prosperidade da América do Norte” (ASPAN) e "Mérida contra o Narcotráfico", duas iniciativas que reforçam a ingerência dos Estados Unidos no México.


Exposição de Arturo Núñez Jiménez, senador do Partido da Revolução
Democrática, México

Nuñez lembrou da participação do ex-presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva no Foro de São Paulo (Nicarágua), quando este afirmou que o México precisa saber que apesar de sua vista estar mirando os EUA, seu cordão umbilical está ligado à América Latina.

A segurança no México, está vinculada à defesa, segundo Nuñez que enfatizou que mesmo antes do advento da Alca, já havia grande integração demográfica, econômica, cultural entre os dois países. Ele citou os 3.800 km de fronteira com EUA, o volume de mais de 80% do comércio exterior estar vinculado aos EUA. além dos 12 milhões de mexicanos vivem nos EUA (quase a metade dele, sem documentação.

Segurança e prosperidade estão entrelaçados, segundo Nuñez. Ele citou a “Aliança para a Segurança e Prosperidade da América do Norte” (ASPAN), que é um acordo de março de 2005, firmado entre EUA, México e Canadá, e que teria como objetivos criar oferta de alimentos, facilitar o comércio de produtos agrícolas e proteger a população das doenças), proteger a América do Norte contra ameaças externas, para prevenir contra ameaças dentro da própria região (fronteiras compartilhadas).

Esse acordo, disse Nuñez, veio abaixo. Os Estados Unidos teriam preferido firmar acordos separados com cada um dos países.

Esse entrelaçamento entre Segurança e prosperidade fica mais evidente pelo fato de trinta grandes corporações – dez de cada país – terem apresentado sugestões para os governos como a liberalização dos produtos refinados em matéria energética (principalmente o México). Entre as trinta empresas, estavam as duas das maiores empresas de energia dos EUA .

Outro acordo citado por Nuñez, foi a Iniciativa Mérida, que é um mecanismo de cooperação que segundo ele, suspostamente reconhece disposição dos dois países de lutar contra a droga. Um forte aporte financeiro veio dos EUA para a realização de uma reforma judicial, para reforçar a tecnologia de informação, para o desenvolvimento de infraestrutura, o reforço à segurança fronteiriça.

Do Rio de Janeiro.