O ex-deputado federal foi um dos participantes do painel "A política de defesa da América Latina e do Caribe e a política de guerra e militarização dos EUA-OTAN", realizado nesta sexta-feira (01/07), no segundo dia do seminário "Governos de esquerda e progressistas na América Latina e no Caribe: balanço e perspectivas". O evento é realizado pela Fundações Perseu Abramo, Maurício Grabois e pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O colombiano Marcelo Caruso, membro da Comissão de Assuntos e Relações Internacionais do Pólo Democrático Alternativo, e o mexicano Arturo Núñes Jimenez, senador do Partido da Revolução Democrática, também participaram do debate, coordenado por Ronaldo Carmona, membro da Comissão Internacional do Partido Comunista do Brasil (PC do B).

Segundo Genoino, "a estratégia de defesa é parte integrante e inseparável" de um projeto de desenvolvimento nacional "democrático, soberano e popular". Ele citou a Estratégia Nacional de Defesa, programa assinado pelo ex-presidente Lula, que "pressupõe capacitação tecnológica principalmente na área espacial, nuclear e cibernética, e também um programa de distribuição de renda e de inclusão social com a democratização das oportunidades".

A integração da América Latina, "sonho que embalou lutas revolucionárias e resistências heróicas", deve ser retomada nesta nova fase de governos democráticos progressistas de esquerda no continente, acredita Genoino. Ele destacou o papel da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e do Conselho de Defesa Sul-Americano na construção de uma política de defesa comum, baseada em uma relação horizontal e de cooperação entre os países.

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A carta de intenções que criou o Conselho estipula que as resoluções sejam aprovadas por consenso, e estabelece como base do mecanismo os princípios da soberania nacional de cada país, da não-intromissão nos assuntos internos, da autodeterminação e do respeito às manifestações de cada povo. "Estes princípios serão uma 'parede' que evitará atritos entre os países em casos de crimes transnacionais e do tráfico de drogas e de armas", afirmou Genoino.

O político petista também ressaltou a necessidade do resgate da memória nos países que viveram ditaduras militares, caso que atingiu boa parte da região, mas salientou que a Comissão da Verdade não deve ser um ajuste de contas com o passado. Ele afirmou que o resgate da memória é fundamental para que se possa discutir politicamente com as Forças Armadas e construir uma nova concepção de defesa nacional. "Nós somos de uma geração para quem defesa é igual a repressão política. A esquerda tem que voltar a discutir a defesa com outros referenciais", afirmou.

Para Genoino, a esquerda deve pensar em uma "política de defesa dissuasória, não uma política de defesa de invasão, de ocupação". "Entre nós, predominam a cooperação, a negociação, os acordos. A dissuasão é extra-continente, e nós não podemos pensar em defesa se nós não temos condições de exercer a dissuasão". Ele defende o investimento bélico como "estratégia dissuasória": "como podemos falar em defesa do Atlântico, se a gente não tem, por exemplo, submarino de propulsão nuclear? Como vamos defender o pré-sal se não temos condições de defender as plataformas que extraem o pré-sal?", questionou o brasileiro.

Já o colombiano Marcelo Caruso acredita que uma estratégia comum de defesa do continente latino-americano não pode ser armamentista, porque não há modo de competir com o poder bélico dos Estados Unidos ou da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). "Deve ser uma defesa social, política e até militar, mas baseada na força que nasce de baixo, dos povos do continente", disse Caruso ao Opera Mundi.

Segundo ele, não só os governos devem participar da construção de uma política de defesa comum latino-americana; os movimentos sociais e políticos e a sociedade civil também devem estar presentes. "Como temos governos plurais, de diferentes matizes ideológicas, esta integração entre os países tem limites. Mas a sociedade pode discutir estas questões e levantar esta bandeira, buscando novos governos ou exigindo dos atuais que se comprometam com uma visão de integração cultural, econômica, ecológica e estratégica dentro da América Latina", acredita. Ele defende que um plano de defesa comum deva contemplar também a integração de diferentes grupos e minorias sociais, como as populações indígenas, os afrodescendentes e as mulheres.

Os participantes do seminário concordam que a criação de uma política de defesa comum da América Latina é crucial para proteger os recursos naturais do continente e salvaguardar a soberania dos latino-americanos na tutela destes recursos. Caruso criticou a OTAN e os Estados Unidos, que segundo ele "consideram todo o mundo como território de intervenção" e praticam uma política de "ofensa", diretamente ligada ao controle de recursos estratégicos e de mercados. Para o colombiano, "a América Latina deve desenvolver o controle dos mares e dos recursos hídricos, que serão os combustíveis do futuro".

Segundo Genoino, em um contexto de crise econômica e ambiental, em que a questão da soberania nacional e da integração regional assumem uma dimensão estratégica, é importante pensar no que será do continente latino-americano nos próximos vinte anos. "Quando se trata da defesa da soberania nacional, dos nossos recursos, da biodiversidade, dos minérios, do petróleo, da Amazônia, não há lugar para ingênuos", concluiu o brasileiro.

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Fonte: Opera Mundi