A própria rapidez na construção e destruição de objetos, ideias, e até mesmo de homens, estava ligada à dinâmica de desenvolvimento dessa forma particular e histórica de sociedade que é regida pela lógica destrutiva do capital. Não foi sem razão que um “conceituado” banqueiro internacional afirmou: “É assim que ganhamos dinheiro. Nós prosperamos quando as coisas são voláteis”.

Talvez a obsolescência planejada seja um dos produtos mais típicos e aberrantes de nossa época, a Era do Capital. No entanto, não podemos encarar a lógica que rege nosso tempo como se esta fosse uma lógica universal, eterna, pela qual deveríamos moldar toda a história humana, das origens ao comunismo. Como se esta fosse a única lógica historicamente possível.

David Harvey também captou esse processo de constante transformação do capitalismo e buscou descobrir qual o motor desse movimento incessante e destrutivo:

“Se a “única coisa segura sobre a modernidade é a insegurança”, não é difícil ver de onde vem essa insegurança. (…) A luta pela manutenção da lucratividade apressa os capitalistas a explorarem todo tipo de novas possibilidades. São abertas novas linhas de produto, o que significa a criação de novos desejos e necessidades, (…) enfatizando o cultivo de apetites imaginários e o papel da fantasia, do capricho e do impulso. (…) A resultante transformação da experiência do espaço e do lugar é acompanhada por revoluções na dimensão do tempo, na medida em que os capitalistas tentam reduzir o tempo de giro do seu capital a um ‘piscar de olhos’.”

E concluiu:

“Contudo, insiste Marx, há um princípio unitário que sustenta e dá forma a todo esse distúrbio revolucionário, à fragmentação e à insegurança perpétua. O princípio reside no que ele denomina (…) a circulação do capital, incansável e eternamente em busca de novas maneiras de auferir lucros. Do mesmo modo, há sistemas coordenadores de ordem superior que parecem ter o poder (…) de impor ordem a todo esse caos e assentar os trilhos da modernização capitalista num terreno mais aceitável” (Harvey, 1994).

Engels e Marx acreditavam que o caráter anárquico e destrutivo do desenvolvimento da modernidade capitalista devia-se à contradição existente entre o desenvolvimento das forças produtivas (e sua crescente socialização) e as relações sociais capitalistas de produção, assentadas no monopólio privado dos meios de produção. Afirmou Engels:

“(…) As forças ativas da sociedade atuam, enquanto não as conhecemos e contamos com elas, exatamente como as forças da natureza: de modo cego e violento e destruidor (…). Tal é o que ocorre, muito especialmente, com as gigantescas forças modernas de produção. Enquanto resistirmos obstinadamente a compreender sua natureza e seu caráter (…) essas forças atuarão apesar de nós, nos dominarão, como bem ressaltamos (…), essas forças, postas nas mãos dos produtores associados, se converterão de tiranos demoníacos em servas submissas (…). O dia em que as forças produtivas da sociedade moderna se submeterem ao regime congruente com a sua natureza por fim conhecida, a anarquia social da produção deixará seu posto a regulamentações coletivas e organizadas da produção, de acordo com as necessidades da sociedade e do indivíduo” (Engels, 1981: 71-72).

A modernidade capitalista deverá ser superada para que os homens livremente associados possam, então, na medida de suas possibilidades, domar e colocar a seu serviço as forças produtivas por eles criadas. Então a modernidade capitalista poderá dar origem à modernidade comunista que, decerto, deverá ser regida por outra lógica, menos destrutiva e mais humana.