“A austeridade é uma receita para o suicídio”, sentenciou na semana passada na Galiza o prémio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz. De visita à Península Ibérica, o prestigiado economista advertiu o presidente espanhol, Mariano Rajoy, que as políticas de ajuste “são uma receita para crescimento menor, para uma recessão e para mais desemprego”. Na cidade da Corunha, Stiglitz criticou a redução de salários e dos níveis de proteção social. Em compensação, assinalou que o problema é “a falta de procura” e, portanto, a política económica deve estimular o consumo e os investimentos. “Há uma tendência dos mercados sem controlo de cometer excessos de todo tipo e, caso os mercados não forem controlados, eles destruirão o capitalismo”, arrematou o norte-americano.

Em Espanha, o “desemprego” sobe para 21,2% da população economicamente ativa, mais de cinco milhões de pessoas, e golpeia com mais intensidade os jovens, onde a taxa ultrapassa os 40%. A fórmula de Rajoy para enfrentar a crise é simples e está em sintonia com as recomendações do FMI e da União Europeia: “São necessários cortes em tudo”, ao mesmo tempo que se comprometeu a “manter o poder aquisitivo das pensões”. “Temo muito que vão se centrar na austeridade, e esta é uma receita para um crescimento menor, para uma recessão e para mais desemprego. A austeridade é uma receita para o suicídio”, lamentou Stiglitz.

O ex-vice-presidente do Banco Mundial destacou que “é preciso dar-se conta de que a austeridade por si só não vai resolver os problemas porque não vai estimular o crescimento; a menos que a Espanha não cometa nenhum erro, acerte 100% e aplique medidas para suavizar a política de austeridade, sair da crise levará muitos anos”.

O professor da Universidade de Colúmbia não reclama o default das economias periféricas europeias nem o abandono do euro, mas adverte que o enfoque do ajuste nasce de um diagnóstico errado. Stiglitz considerou que as “reformas estruturais”, histórico eufemismo para o ajuste fiscal, aplicadas em países como a Grécia, Portugal ou Itália, “foram construídas para melhorar a economia pelo lado da oferta, não pelo lado da demanda, quando o problema real é a falta de demanda”.

O prémio Nobel questionou o papel do Banco Central Europeu em crises como a que a Grécia está a atravessar, onde o organismo “colocou os interesses dos bancos acima dos interesses dos cidadãos”. Nesse sentido, Stiglitz explicou que no BCE “as decisões são tomadas por um grupo secreto de pessoas, a International Swaps and Derivatives Association (ISDA), um grupo de especuladores. É inaceitável que se confie a tomada de decisões a um determinado grupo de particulares, sobretudo a este grupo”. A ISDA é a associação que controla os produtos financeiros derivados, fundamentalmente os ativos over-the-counter que são negociados diretamente entre os privados sem nenhum tipo de intervenção de um organismo regulador.

Para aplicar as pressões do setor financeiro, Stiglitz propôs a criação de um organismo público que se encarregue das avaliações criditícias, de um fundo solidário que permita alcançar a estabilidade na zona Euro e a criação de eurobónus para financiar a região. “Há uma tendência dos mercados sem controlo de cometerem excessos de todo tipo e, caso os mercados não forem controlados, eles destruirão o capitalismo”, afirmou o economista, que participará num seminário em Buenos Aires no próximo dia 7 de dezembro.

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A tradução é do Cepat.

Fonte: Esquerda.net