O evento recebeu lideranças políticas e sociais, entre elas o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo; o presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro; o vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Egmar Oliveira; os vereadores Jamil Murad e Netinho de Paula; o ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, além de Haroldo Lima, ex-presidente da ANP, e Aldo Arantes, secretário de Meio Ambiente do PCdoB, ambos presos desde a véspera da Chacina até a instituição da Anistia em 1979. Também compareceram Dolores Arroyo, viúva de Ângelo, seus filhos e netos.

Boas ideias não morrem

Abrindo o ato como vereador proponente, Jamil Murad destacou que a Chacina da Lapa foi “uma tentativa da ditadura de acabar com os ideais de progresso, democracia e justiça social. Queriam, ainda, eliminar o nosso partido. Mas, aconteceu o contrário: ele se fortaleceu e cresceu porque as ideias boas não morrem, mas florescem”.

Para Adalberto Monteiro, o ato é importante para reafirmar que “a democracia em que vivemos hoje foi conquistada através de muita luta. Muitas foram as vidas ceifadas e hoje estamos aqui para homenagear todos os brasileiros que lutaram pelo nosso povo”.

Ao tratar da aprovação da Comissão da Verdade, Monteiro destacou que “apesar de suas limitações, tem a missão de jogar luz sobre um período de trevas e elucidar os crimes então cometidos. Esperamos que a Comissão contribua para que se conheça o paradeiro dos mortos e desaparecidos políticos”.

O presidente da FMG também reforçou que apesar das tentativas de acabar com a legenda, o “PCdoB se expande, ganha cada vez mais respeito e respaldo no cenário político e entre a população”.

 

Partido “incômodo”

Aldo Arantes ressaltou que “nós, comunistas, representamos o segmento mais avançado da luta pelos direitos do povo. E foi por isso que muitos se arriscaram pela melhoria da nossa sociedade”.

Refutando a versão dos militares de que João Batista Drummond teria morrido atropelado, Arantes disse: “Haroldo e eu somos testemunhas de que ele foi morto sob tortura”.

O dirigente comunista também ressaltou que “as classes dominantes tentaram acabar com os defensores dos ideais mais avançados por meio da tortura e do assassinato. Hoje, fazem isso através da luta de ideias, procurando manipular a opinião pública com denúncias mentirosas”.

Para ele, “não interessa às elites a existência de um Partido Comunista forte, que atue no governo federal, que interfira em assuntos de interesse nacional, como a Lei da Copa, desafiando a FIFA, ou com projetos como o de uma estatal para explorar o pré-sal, como defende Haroldo”.

Reconhecimento do Estado

Representando o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Jr., Egmar Oliveira lembrou que através da Comissão “o Estado brasileiro já reconheceu a responsabilidade pelos crimes cometidos contra os comunistas ao conceder anistia e reparação a alguns deles”.

De acordo com Oliveira, no entanto, é preciso fortalecer a Comissão da Verdade como instrumento de reconstrução da história e de justiça. “Ela só terá êxito com um movimento popular organizado que a pressione a cumprir seu papel”. E destacou que a Comissão de Anistia dispõe de elementos para que a Comissão da Verdade aponte quais são os assassinos dos três comunistas mortos na Chacina da Lapa.

Oliveira também leu processo movido pela viúva de Drummond, Maria Esther, em que ela pede a retificação da certidão de óbito do marido de maneira que a causa da morte deixe de ser “traumatismo craniano” causado pelo atropelamento para “tortura física” e que o local deixe de ser a esquina das ruas Paim e Nove de Julho para “dependências do DOI-Codi”.

Haroldo Lima começou sua fala comemorando a vitória da democracia. “Aqueles que lutaram provaram estar certos: conseguimos eleger Lula com uma coalizão popular; o PCdoB voltou à cena com a redemocratização e desde então vem crescendo e ampliando sua influência, inclusive participando dos governos Lula e Dilma e o Brasil vem se desenvolvendo. A luta deles valeu a pena”.

Lima enfatizou ainda que os comunistas mortos na Chacina “são temperados na luta – por isso vencemos aquela ditadura sanguinária e entreguista”.

Lutador consequente

O pronunciamento final coube ao presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo. “O PCdoB tem e sempre teve uma grande causa, um grande ideal: a construção de uma nova sociedade superior à capitalista e esses ideais se expressam na militância e nos dirigentes”.

As mortes ocorridas na Chacina da Lapa, conforme colocou, “foram expressão de um momento determinado em que muitos companheiros perderam suas vidas lutando pela causa que defendemos. O PCdoB, que organizou a Guerrilha do Araguaia, foi o que mais teve mártires da luta democrática”.

Para Rabelo, a tentativa de se aniquilar o PCdoB deve-se ao fato de que o partido foi “um lutador consequente e audaz contra a ditadura”, resultando em sua ascensão e participação no governo federal.

O dirigente também falou sobre a campanha de desgaste que resultou na saída de Orlando Silva do Ministério do Esporte. “Foram 20 dias de bombardeio contra o partido, contra o ministro. Mas, os comunistas não se dobraram e, unidos, defenderam o PCdoB e Orlando. É nos momentos de dificuldade que o partido mais cresce”.

 

Fotos: Priscila Lobregatte e Alexandre Prestes