Brutalmente torturadas, entre elas há duas irmãs confundidas entre si, por terem os nomes parecidos: Maria Niedja e Maria Nadja de Oliveira. A primeira, aprovada em 1976 em terceiro lugar no concurso para professora na Universidade de São Paulo, não conseguiu tomar posse porque uma triagem ideológica acreditou que ela fosse a irmã Maria Nadja, integrante do movimento contrário à ditadura militar.

No dia anterior (8 de março), será o pré-lançamento seguido de debate do documentário “Repare Bem”, da cineasta portuguesa Maria de Medeiros. Apoiado pelo projeto Marcas da Memória, mantido pela Comissão para promover o direito à verdade e à memória, o documentário trata da história de três gerações de mulheres perseguidas políticas, a partir do relato das perseguidas Denize Crispim e Eduarda Leite.

A história de “Repare Bem”, enfoca a vida de Eduarda, que cresce sem conhecer o país de origem e sem conhecer o pai, Eduardo Leite, o “Bacuri”, morto pela ditadura após 109 dias de tortura. Eduarda só conseguiu incluir o nome do pai na certidão de nascimento em 2009 por determinação da Comissão de Anistia. Esse direito foi negado até publicação da portaria de anistia da sua mãe, Denize Crispim.

Denize é filha da ex-presa política Encarnación Lopes Perez e do militante comunista e deputado constituinte em 1946 José Maria Crispim. Seu irmão Joelson foi assassinado aos 22 anos pela ditadura militar e sua mãe foi presa. Denize, após se envolver com Eduardo Leite, ficou grávida de Eduarda, que nasceu num hospital militar. O pai da criança foi torturado e assassinado e o casal nunca mais se viu. Denize tentou reconstruir a vida no Chile e, depois do golpe de Pinochet, seguiu para a Itália com a filha como clandestina.

“Repare Bem” será o primeiro filme a compor o acervo multimídia da Comissão de Anistia, que a Cinemateca Brasileira passará a abrigar. Um acordo de cooperação a ser assinado entre as duas entidades no dia 8 de março vai viabilizar a composição desse acervo.

Resumo dos casos que serão apreciados

– Maria Niedja de Oliveira: presa em 1972, foi aprovada em 3º lugar na seleção de professores na USP em 1976. Teve seu processo arquivado até 1980 por conta de uma triagem ideológica que a confundiu com sua irmã.

– Maria Nadja Leite de Oliveira: estudante presa em 1968, respondeu a inquérito policial militar e foi condenada a um ano e oito meses de prisão. Teve seus direitos políticos suspensos por 10 anos. Para evitar a prisão, fugiu para São Paulo, onde foi novamente presa em 1971.

– Maria Angélica Santos: foi presa em 1974 quando estava grávida de quatro meses.

– Gilda Fioravanti da Silva: presa em 1970 pela Oban, foi transferida para o Dops em janeiro de 1971. Respondeu a inquérito policial militar e foi absolvida em 1972.

– Ida Schrage: professora e membro da Ação Popular, entrou na clandestinidade e foi presa quando estava tentando se inserir na classe operária. Saiu do país e morou na Bélgica, em Israel e na Alemanha, onde vive atualmente.

– Hilda Alencar Gil: militante da Polop, passou a sofrer perseguição após o seu companheiro assinar uma matéria na revista “O Cruzeiro” sobre a prática do Comando de Caça aos Comunistas.

– Darci Toshiko Miyaki: militante da ALN, foi presa em 1971. O seu mandado de prisão foi expedido seis meses após a sua detenção. Permaneceu presa por um ano e cinco meses.


PROGRAMAÇÃO
8 de março, 19 horas
– Pré-lançamento do documentário “Repare Bem” (direção: Maria de Medeiros)
– Debate com Maria de Medeiros, Denize e Eduarda Crispim
– Ato de assinatura de termo de cooperação técnica entre a Comissão de Anistia e a Cinemateca Brasileira

9 de março, 19 horas
– Exibição do documentário “Vou contar para meus Filhos”, sobre um reencontro de 24 mulheres presas na Colônia Penal de Recife entre 1969 e 1979
– Sessão de julgamento da Caravana da Anistia com apreciação de sete casos de mulheres perseguidas políticas


Fonte: Comissão de Anistia