Rio+20: “o verde” é objeto de intensa disputa política
No geral, avançou a consciência social acerca do necessário equilíbrio entre produção, qualidade de vida dos povos e proteção do meio ambiente. É inegável, também, um notável progresso nas pesquisas científicas e conquistas tecnológicas e práticas de produção, tendo em vista o desenvolvimento com sustentabilidade. Finalmente, de alvissareiro se destaca o engajamento dos trabalhadores e […]
POR: Adalberto Monteiro
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No geral, avançou a consciência social acerca do necessário equilíbrio entre produção, qualidade de vida dos povos e proteção do meio ambiente. É inegável, também, um notável progresso nas pesquisas científicas e conquistas tecnológicas e práticas de produção, tendo em vista o desenvolvimento com sustentabilidade. Finalmente, de alvissareiro se destaca o engajamento dos trabalhadores e dos movimentos populares que incorporaram a preservação do meio ambiente às suas bandeiras de luta. Daí a grande relevância da Cúpula dos Povos, organizada pelos movimentos sociais e que ocorre simultaneamente com a Rio+20.
No entanto, a Rio+20 deverá repetir com novos roteiros e atores as contradições e os confrontos que marcaram Estocolmo e a Eco 92. As grandes potências capitalistas, principais responsáveis pela poluição e degradação do planeta, tentarão novamente manipular a justa bandeira ambiental para impor seus interesses mercantis e geopolíticos e onerar os países pobres ou em desenvolvimento.
Na 1ª Conferência, de 1972, por iniciativa das grandes potências foi lançada a proposta de “crescimento zero”. Um disparate “neomalthusiano” cômodo para os países ricos. Afinal, já haviam alcançado um estágio avançado de desenvolvimento explorando os recursos naturais irresponsavelmente, sob a lógica de “lucro máximo”. Já para os países pobres, tal diretriz significaria uma sentença que os condenaria ao atraso, sem parque industrial, sem produção de riquezas. Mas essa tese foi derrotada. Prevaleceu o correto paradigma de crescimento com proteção do meio ambiente.
Por sua vez, a Eco92 não alcançou os resultados esperados, sobretudo porque grandes potências não se comprometeram com os acordos firmados na conferência. Exemplo maior disso são os Estados Unidos da América que – sendo um dos principais emissores de gases poluentes – se recusaram a assinar o Protocolo de Kyoto cujos termos buscam reduzir a emissão dos gases que, segundo alegam diversos cientistas, provocam o aquecimento da Terra em decorrência do chamado efeito estufa. Do mesmo modo, o Programa de Combate à Pobreza, da Agenda 21, não teve o aporte financeiro previsto já que os países ricos não cumpriram suas cotas.
A Rio+20 se realiza sob a égide de uma grande crise mundial do capitalismo que atinge, sobretudo, os EUA e a União Europeia. Ambos estão mais preocupados em tentar escapar da crise do que se ocupar com a pauta ambiental. De qualquer modo, a exemplo dos capítulos anteriores dos fóruns internacionais, o imperialismo persistirá na sua estratégia de manipular a correta aspiração da humanidade em defender seu belo planeta ferido.
Desta vez, o epicentro dos debates irá girar em torno da “economia verde”. Um conceito de nome tão bonito quanto ambíguo. Para setores do campo político progressista trata-se de um verdadeiro “cavalo de Troia”. Um conceito burilado pelo neoliberalismo em crise e em busca de reciclagem.
O Brasil já sinalizou, através de seu chanceler Antônio Patriota, a rejeição do governo brasileiro a padrões únicos do que venha significar “economia verde”. Na correta visão do Itamaraty, essa imposição poderia resultar em barreiras comerciais e, consequentemente, em aumento das desigualdades entre os países – o que prejudicaria, sobretudo, as nações em desenvolvimento.
Assim como nem tudo o que reluz é ouro, nem tudo o que é “verde” significa proteção ao meio ambiente e bem-estar à humanidade.