Além da “Declaração de Caracas”, o XVIII Foro de São Paulo aprovou um pedido ao Equador para que conceda asilo político ao fundador do site Wikileaks, Julian Assange, e a declaração de sua solidariedade ao presidente venezuelano Hugo Chávez e à “revolução bolivariana”.

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“Concretizamos um plano de ação de solidariedade de todos os nossos partidos, movimentos e organizações, não somente para respaldar a campanha, mas também para sustentar a vitória e derrotar a direita”, disse o secretário-executivo do foro, Valter Pomar, ao ler a declaração.

Pomar anunciou que no próximo dia 24, quando se completam 229 anos do nascimento do libertador Simón Bolívar, será celebrado um “dia de solidariedade mundial” ao presidente venezuelano. Além disso, em agosto haverá um “tuitaço” mundial em favor de Chávez. Os participantes do foro também alertaram sobre um “plano da direita nacional e internacional destinada a desacreditar os resultados eleitorais de 7 de outubro” na Venezuela. “Eu agradeço muito ao Foro de São Paulo por sua declaração de apoio à democracia venezuelana, porque é preciso recordar: eles têm um plano, o plano B, nós temos o Che”, afirmou Chávez em seu discurso.

Palavras de Lula

Durante o encerramento foi divulgado um vídeo com palavras do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que também demonstrou seu apoio ao chefe de Estado venezuelano. “Chávez, conte comigo, conte com o PT, conte com a solidariedade e o apoio de cada militante de esquerda, de cada democrata e de cada latino-americano. Sua vitória será nossa vitória”, assinalou Lula no vídeo. Chamado de “grande companheiro, amigo dessa pátria” por Chávez, Lula foi representado pelo seu ex-ministro e dirigente do PT, Luis Dulci.

O ex-presidente brasileiro, impulsor do Foro de São Paulo em 1990, destacou que, graças aos governos progressistas da região, a América Latina é hoje “uma referência internacional de alternativa vitoriosa ao neoliberalismo”, ressaltando que “há muito por fazer”. “Os fatos ocorridos, por exemplo, em Honduras e Paraguai mostram que ainda devemos lutar muito para que a democracia prevaleça em nossa região”, indicou, ao referir-se ao recente golpe contra o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, e à derrubada em 2009 do então presidente hondurenho, Manuel Zelaya.

Em seu discurso, Chávez, que agradeceu a saudação de Lula, assegurou aos presentes que vencerá as eleições por “nocaute” e disse que seu rival, o direitista Henrique Capriles, anda “desesperado”. “Não se trata de um homem no poder, é um povo no poder”, lembrou Chávez, que aproveitou para anunciar a entrega de computadores a um grupo de estudantes. O presidente venezuelano advertiu, por outro lado, que, se “tentarem fazer algo desestabilizador ou lançar alguma agressão interna ou externa” contra a Venezuela, “se surpreenderiam muito mais que em 2002”, quando foi golpeado por um grupo direitista. “Faríamos com que se arrependessem por 500 anos”, afirmou Chávez, lembrando que “esta revolução é pacífica, mas não é desarmada”.

Histórias pessoais

Para ele, o momento é propício para uma ofensiva socialista. “Aí estão os indignados, a juventude da França, da Grécia, de Chicago (Estados Unidos). Até a Israel chegaram os indignados. Vamos mandar uma saudação solidária aos indignados deste mundo e aos movimentos novos das juventudes que iniciaram uma luta contra os mil demônios, como os meios de comunicação e a repressão”, afirmou.

Durante as quase duas horas que esteve diante dos olhares de todos os presentes, o presidente Chávez relatou diversas passagens da história do seu país, citou várias vezes o revolucionário Simon Bolívar, falou das eleições deste ano e rechaçou a pecha de continuísmo de seu governo. “Hugo Chávez não está aqui para acumular nele o poder, eu sou apenas indicado para transferir o poder para o povo, o povo no poder”, disse.

Contando histórias pessoas, o presidente revelou as longas conversas com Fidel Castro e como conheceu o então candidato do PT, Lula, em 1996, por “um minuto”, no Foro de São Paulo realizado em El Salvador. “A primeira vez que me falaram de ti eu pensei que era uma mulher! Lula? Uma mulher!”, lembrando as primeiras palavras trocadas com o ex-presidente brasileiro e arrancando gargalhadas.

Democracia no México

A “Declaração de Caracas” manifestou, igualmente, “seu compromisso, solidariedade e total apoio” ao presidente do Equador, Rafael Correa, que concorrerá à reeleição em fevereiro de 2013, e à candidatura à Presidência de Honduras da esposa de Manuel Zelaya, deposto em um golpe de Estado, Xiomara Castro. Por outra parte, o documento, intitulado “Os povos do mundo contra o neoliberalismo e pela paz”, rebateu as acusações formuladas pelos golpistas paraguaios contra o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, no Paraguai e condenou o golpe contra o presidente Fernando Lugo.

O texto também saiu em defesa da democracia no México, ao acusar a direita de “manipulação midiática com pesquisas armadas, compra de votos em massa e outros tipos de fraudes que distorceram a eleição presidencial” de 1º de julho. Por fim, a declaração que se uniu à reivindicação argentina pelas Malvinas, fez menção a Unasul, Celac e Alba, assim como a Porto Rico, entre outros pontos. Sobre a crise do capitalismo, um dos pontos centrais das discussões, o eurodeputado socialista Vicent Garcés assinalou que a Europa observa como os governos da América Latina “estão tentando criar políticas alternativas”, e não descartou que a influência dessas políticas possa chegar ao Velho Continente.

Ricardo “Alemão” Abreu

Para o secretário Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Ricardo “Alemão” Abreu, esta edição do Foro de São Paulo foi uma das mais importantes. Segundo ele, desde 1998 a América Latina vive sob um ascenso das forças progressistas, um novo ciclo político. E, desde então, o Foro de São Paulo, depois de um período de certa crise entre os anos de 2000 e 2005 ou 2207, começou a crescer e hoje é uma grande referência das forças progressistas. “Há muita confiança, muito otimismo com a situação da América Latina”, disse ele, ressaltando que a dura realidade imposta pela crise do capitalismo atinge a região.

Segundo Alemão, os efeitos da crise não são maiores por conta das mudanças havidas, mas eles se somam a problemas históricos como a desigualdade social e a concentração de renda. Para o dirigente do PCdoB, essa realidade empurra os povos para a luta por democracia, soberania e independência. “O momento é de vitórias, de ofensiva tática das forças progressistas, de avanço da integração econômica, política, social e cultural. É também um momento de denúncia da guerra imperialista, quando se retiram bases militares de países onde existem governos mais avançados”, afirma, complementando que é um processo progressivo de libertação do continente.

Alemão lembrou que há uma contraofensiva do imperialismo, da direita em cada país, e citou como exemplos os golpes em Honduras e no Paraguai, destacando que houve tentativas de golpe em 2002 na Venezuela e a ofensiva da direita no Brasil em 2005 – além de ameaças na Bolívia, no Equador e na Argentina. “Esses golpes e tentativas de desestabilização, ou de conter esses governos, foram derrotados. Eu diria que o saldo ainda é positivo, mas é preciso ficar alerta porque as forças do imperialismo estão atuando”, enfatizou, sublinhando que a direita hoje está mais enfraquecida mas tem força, em especial com os monopólios dos meios de comunicação e o poder econômico.

Delegação do PCdoB

Para Alemão, a luta é muito dura, mas há uma expectativa positiva. “Esse Foro de São Paulo, que aglutinou mais de 800 pessoas, mais de cem partidos – em especial da América Latina -, mais de 50 países – inclusive os 33 da América Latina -, com essa massa crítica, esses quadros políticos, mulheres, homens e jovens, diz em uníssono que é possível outra América Latina, que já estamos construindo, com independência, com democracia, com desenvolvimento econômico e social. E o Foro de São Paulo, mais uma vez, reafirma o rumo socialista, a defesa de uma orientação socialista para esses processos”, afirmou.

Alemão comentou também a participação do PCdoB. Segundo ele, essa edição do Foro de São Paulo contou com uma das maiores delegações comunistas. “Esse ano são dez integrantes e todos tiveram participação muito ativa, seja nas plenárias e nas assembleias, nos grupos de trabalho e temáticos, ou nas comissões. A gente coordenou as discussões sobre integração e defesa”, destacou. O dirigente do PCdoB explicou que foram  ações planejadas em reunião da delegação. “É uma delegação altamente qualificada, que marcou presença com uma grande faixa na abertura do evento dizendo que o Partido Comunista do Brasil está com Chávez”, disse ele.

Segundo Alemão, o PCdoB contribuiu para o êxito do XVIII Foro de São Paulo porque entende que esse é o principal espaço da esquerda comunista, revolucionária e progressista do mundo hoje. “A presença de representantes de outros continentes comprova isso. Então, o PCdoB não poderia deixar de estar presente e se relacionar com essas forças progressistas. Aqui é o ambiente natural, o principal espaço para a gente fazer o trabalho de relações internacionais”, enfatizou. Para ele, o PCdoB tem um nível de compreensão razoável sobre o potencial do Foro de São Paulo, mas precisa ampliar a sua participação. “Acho que precisa haver uma participação maior, de quadros do nosso Partido. É preciso valorizar mais as experiências no mundo, em especial as que estão em curso na América Latina”, destacou.