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    Comunicação

    Os tucanos contra a liberdade de expressão

    Caçando adversários Podem, por exemplo, afetar de maneira ampla a imagem do partido a que pertencem. Mudam a percepção da sociedade a respeito de seus integrantes. Quando é para o bem, ótimo. Mas pode ser para o mal. Nesses casos, o ônus é compartilhado. Todos pagam por ele. A decisão da Executiva Nacional do PSDB de […]

    POR: Marcos Coimbra

    Caçando adversários

    Podem, por exemplo, afetar de maneira ampla a imagem do partido a que pertencem. Mudam a percepção da sociedade a respeito de seus integrantes. Quando é para o bem, ótimo. Mas pode ser para o mal. Nesses casos, o ônus é compartilhado. Todos pagam por ele.

    A decisão da Executiva Nacional do PSDB de recorrer à Justiça contra os “blogueiros sujos” que o criticam é um desses.O verdadeiro inspirador da ação foi o candidato do partido a prefeito de São Paulo, mas suas consequências negativas não se circunscrevem a ele. O gesto de Serra alcança coletivamente os tucanos.

    Em si, é apenas uma reação tola. Que expectativa de sucesso tem o ex-governador? Será que acredita que conduzir o PSDB a uma cruzada contra os responsáveis por blogs que antipatizam com ele redundará em alguma vantagem para sua candidatura?

    Movido por sua insistência, o partido representou à Procuradoria Geral Eleitoral para denunciar o “uso de recursos públicos” no financiamento de “blogs, sites e organizações (?)” que funcionariam como “verdadeiras centrais de coação e difamação de instituições democráticas”.

    Na prática, o que o PSDB pretende é que empresas e bancos estatais sejam proibidos de comprar espaço publicitário em blogs contrários ao partido e às suas lideranças.

    A argumentação de que é movido pelo zelo de proteger as instituições é fantasiosa. Aliás, sequer cabe aos partidos políticos esse papel. O que Serra quer mesmo – e não é de hoje – é impedir a manifestação de seus adversários.

    Talvez tenha se acostumado com a convivência que mantém com alguns veículos e comentaristas da nossa indústria de comunicação. De tanto vê-los defendendo seus pontos de vista e acolhendo suas opiniões, se convenceu que os críticos não mereceriam lugar para se expressar.

    O fascinante na argumentação é que não o incomoda (ou a seu partido) que existam “blogs, sites e organizações (?)” – bem como revistas, jornais e emissoras de televisão e rádio – que recebam investimentos em propaganda do setor público e façam oposição até agressiva ao governo.

    Parece que acham isso natural e que tais aplicações se justificariam tecnicamente. Se determinado veículo tem leitores, não haveria porque excluí-lo do plano de mídia de uma campanha de interesse de um órgão ou empresa pública. Fazê-lo equivaleria a puni-lo por um crime de opinião.

    Se vale para os órgãos de comunicação hostis ao governo e ao “lulopetismo”, por que não se aplicaria no caso inverso? Seria errado anunciar em blogs com visitação intensa, apenas porque seus responsáveis não simpatizam com os tucanos?

    Ou Serra e seu partido aplaudiriam se o governo proibisse que seus órgãos comprassem espaço publicitário na imprensa oposicionista?

    A decisão sobre a alocação dessas verbas pode ser questionada com base em critérios objetivos: tem determinada emissora suficiente audiência para cobrar seus preços? Aquele jornal tem a circulação que afirma?

    O blog ou site em questão tem volume relevante de acessos?Fora disso, é apenas castigar – ou querer castigar – quem tem opinião diferente.

    Engraçado lembrar o destaque que o PSDB e suas figuras de proa, como Fernando Henrique, veem dando à internet na discussão do futuro do partido.

    Tomara que não pensem como Serra: que na internet só podem ficar os “limpos” – os que o aplaudem -, pois os “sujos” – os que o questionam – devem ser banidos.

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    Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

     

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