Dívida, depressão, DeMarco

Há muito a criticar na maneira pela qual o presidente Barack Obama vem conduzindo a economia. Mas a história mais importante dos últimos anos não é a dos erros de Obama, e sim a da oposição radical dos republicanos -que agora, após bloquear as propostas do presidente, esperam conquistar a Casa Branca alegando que elas fracassaram.

E a chocante recusa do diretor da Agência Federal de Financiamento Habitacional quanto a adotar medidas de redução da dívida de mutuários, nesta semana, ilustra perfeitamente o que está acontecendo.

Antes, o retrospecto: muitos economistas acreditam que o excesso de dívidas domiciliares, um legado dos anos da bolha, seja o maior obstáculo à recuperação econômica.

Qual deveria ser a resposta em termos de política econômica? Uma possibilidade seria aumentar os gastos do governo para dar sustentação à economia enquanto o setor privado conserta seus balanços. Outra envolve medidas agressivas de política monetária, o que explica por que é um escândalo a recusa do Fed (o banco central dos EUA) em agir diante do alto desemprego e apesar da inflação inferior às suas metas.

Mas a política fiscal e a monetária deveriam ser apoiadas por medidas de alívio de dívida. Reduzir a sobrecarga dos americanos em dificuldades significaria mais empregos e melhores oportunidades.

E o ponto mais óbvio para aplicar medidas de alívio de dívida são as hipotecas controladas por Freddie Mac e Fannie Mae, as agências hipotecárias ligadas ao governo.

A ideia de usá-las tem apoio bipartidário, tanto de assessores do republicano Mitt Romney como do governo Obama. Mas Edward DeMarco, diretor interino da agência federal que fiscaliza Fannie e Freddie, se recusa a agir quanto à proposta de refinanciamento e rejeitou o plano proposto pelo governo.

DeMarco é funcionário público e se tornou diretor interino da agência depois que o indicado por George W. Bush renunciou, em 2009. E continua no posto, já no quarto ano do governo Obama, porque os republicanos bloquearam os esforços do governo para apontar diretor permanente. E é evidente que DeMarco odeia a ideia de reduzir dívidas.

O ponto principal, porém, é que ele não parece compreender suas funções. Tem de dirigir a agência e garantir sua situação financeira, e não decidir sobre política econômica nacional. Se o secretário do Tesouro, em nome do presidente, quer subsidiar alívio de dívida de um modo que na verdade reforçaria a posição da agência, o diretor desta não pode bloquear a medida. Fazê-lo seria justa causa de demissão.

Será que DeMarco pode ser demitido de imediato? Li análises conflitantes, embora uma coisa esteja clara: Obama, caso reeleito, pode e deve substitui-lo durante o recesso do Senado. Na verdade, é o que deveria ter feito três anos atrás. Como eu disse, Obama cometeu muitos erros.

Mesmo assim o caso demonstra, uma vez mais, em que medida a política econômica dos EUA vem sendo paralisada por uma oposição política inflexível e irresponsável. Se nossa economia continua profundamente deprimida, a maior parte da culpa não cabe a Obama, mas aos que tentam explorar a depressão para obter vantagens políticas.