O agravamento das condições de vida das massas trabalhadoras, com a conseqüente intensificação das greves e manifestações de repúdio à política antinacional e antipopular do governo Sarney é o que caracteriza o momento que vivemos. Nesse quadro, a campanha eleitoral tende a se tornar uma oportunidade ímpar para a realização de amplos e profundos debates sobre a natureza e as dimensões da crise que se abate sobre o país e suas causas. No confronto entre as idéias e programas das diversas candidaturas e correntes políticas em disputa pelo poder, irão aflorar as propostas para a superação do impasse histórico em que se encontra o país.

As classes dominantes, as correntes oportunistas e reformistas tentam desviar o rumo desse debate, apresentando como causa dos males que afligem o povo brasileiro a questão moral, a falta de honestidade dos “políticos” e coisas do gênero. É clara aqui a intenção de eludir a dominação imperialista, a concentração da terra nas mãos dos latifundiários e a monopolização da economia pela grande burguesia.

Isto mostra a importância de discutir amplamente com o povo o programa da Frente Popular. Em grande parte a vitória da candidatura da frente dependerá da capacidade que tiverem os partidos coligados – e o papel do PCdoB nessa tarefa não é pequeno – de esclarecer as massas, uni-las, organizá-las e mobilizá-las em torno desse programa.

Batalha nacional
O êxito da campanha eleitoral depende também da exata compreensão das características e particularidades da batalha. Dado que não estão em jogo objetivos parciais – trata-se da luta política central no país – essa batalha é o próprio centro de gravidade da ação do partido no período atual. Não se pode ir a um embate desses com velhos métodos ou com estilo de trabalho passivo e rotineiro. Toda a militância, e particularmente as direções, devem, portanto, desde agora, impregnar-se de um novo estilo em que pontifiquem a agilidade, o espírito de iniciativa e a combatividade.

São imensas as possibilidades de ligação do Partido com as massas, de seu enraizamento e implantação mesmo nos lugares mais distantes. Numa luta de tão grandes dimensões, como é a sucessão presidencial, a discussão política vai fazer parte do dia-a-dia das massas numa intensidade talvez inusitada na história do país. Isso possibilita um grande salto no crescimento do Partido. Um bom planejamento global da ação do Partido na campanha, feito pelas instancias responsáveis, particularmente os comitês regionais, otimizando as capacidades e possibilidades de mobilização dos efetivos partidários, poderá resultar, se bem executado, no crescimento das fileiras comunistas, na consolidação e ampliação das organizações de base e dos comitês intermediários.

Organizar na luta
Evidentemente, o sucesso desse plano dependerá de que cada comitê regional leve em conta a realidade concreta do Estado sob sua jurisdição, a real situação das fileiras do Partido e estabeleça, com base nisso, metas e prazos factíveis. Em tudo isso, é fundamental compreender que recrutar e organizar novos militantes são tarefas somente possíveis se assumidas e realizadas no curso da luta.
A característica da batalha sucessória – uma luta nacional – implica o seu desenvolvimento, naturalmente com facetas e formas diferenciadas, em todos os municípios, vilas e distritos. Ela atingirá necessariamente o conjunto da população – todas as classes, camadas e segmentos da sociedade. Nesse particular, é preciso ter em conta que a imensa maioria dos eleitores nunca votou para presidente da República. E que um novo contingente de cerca de oito milhões de eleitores na faixa de 16 e 17 anos se incorporam ao eleitorado.

Feição Própria
Outra particularidade é que nessa campanha o PCdoB está atuando em frente-única, com o PT, o PSB e o PV, nos marcos da Frente Brasil Popular. Isso tem duas implicações. A primeira é a ação unitária, que exige ações comuns e uma convivência democrática com os demais partidos da frente. A segunda é a preservação da individualidade e da autonomia do Partido, que deve aparecer com feição própria e não se diluir.

No esforço de organização da campanha, é evidente que as direções regionais devem partir da atuação concreta onde o Partido já está estruturado. Mas isso não deve fazer com que se perca de vista a expansão da atividade para áreas, categorias profissionais e municípios onde o Partido ainda não tenha militância organizada. Isso possibilitará o crescimento gradual de nossa atividade, até atingir s totalidade dos municípios do Estado. O cumprimento dessa tarefa será facilitado se o Partido se apoiar na estrutura da Frente Brasil Popular. Daí a importância também de, juntamente com os demais partidos, as organizações de base do PCdoB se empenharem de imediato na formação dos núcleos e comitês da frente.

In: jornal A Classe Operária nº 20 de 1 a 14 de junho de 1989