Embora os prefeitos tivessem assumido os governos recentemente, – no caso de São Paulo, comprometendo-se com um pesado legado de abandono das políticas públicas de mobilidade urbana -, protestos contra o aumento da tarifa de ônibus ganharam uma dimensão inédita, após uma brutal repressão policial, que mobilizou a solidariedade de todo o país. Desde então, governos municipais e estaduais, assim como o Governo Federal foram convocados a responder às demandas sob forte pressão de protestos que paralisaram as cidades. Alguns governos responderam com mais repressão amplificando os efeitos dos protestos, que continuam mais pulverizados, mas organizados e violentos.

A presidenta Dilma Rousseff reagiu de forma a saudar as manifestações e convidar os movimentos sociais ao diálogo. Em cadeia nacional de televisão, a presidenta apresentou um pacto pelos serviços públicos. A resposta inédita e afirmativa do Governo Federal apontando para avanços e conquistas, favoreceu análises otimistas sobre as mobilizações provocando a esquerda a enfrentar o fenômeno como parte da crescente democratização do país, em vez de se intimidar pelas contradições que emergiram das ruas. O saldo foram as reduções de tarifas de transporte coletivo por todo o país, aprovação a toque de caixa de projetos de lei que tramitavam com dificuldade no Congresso, assim como a execução pelo governo de medidas que prometem avançar os serviços públicos.

Em nome das fundações, o presidente da Fundação João Mangabeira (PSB), Carlos Siqueira, abriu o seminário apontando a perplexidade dos atores tradicionais com a novidade das imensas manifestações juvenis que tomaram o país, em junho. Se por um lado, as motivações apareçam de forma complexa e até contraditória, por outro as lacunas a serem preenchidas para atendem à ansiedade da população são evidentes.

Para o socialista, a política econômica do governo está na base das insatisfações, na medida em que transfere os recursos necessários para a oferta de serviços públicos de qualidade para o sistema financeiro, por meio de juros. Siqueira avalia que a demanda por serviços públicos de qualidade revela uma rejeição à agenda do estado mínimo neoliberal, assim como a crítica à democracia representativa demanda uma reforma política que amplie a participação social nas decisões sobre o país.