O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou hoje a taxa básica de juros (Selic) de 9% para 9,5% ao ano. Foi o quinto aumento seguido desde abril, dos quais quatro com variação de 0,5 ponto percentual, em linha com as expectativas dos analistas financeiros, como mostra o boletim Focus divulgado na última segunda-feira pelo BC.

A ata da última reunião do Copom (dias 27 e 28 de agosto) já manifestava a tendência de a autoridade monetária manter o processo de alta da Selic. Hoje, o colegiado de diretores do BC reafirmou a disposição de dar continuidade à elevação da taxa de juros para conter a demanda doméstica por compras e impedir o avanço da inflação, que acumula 5,86% nos últimos 12 meses.

Ao final da sétima reunião do ano, o Copom divulgou que “a decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”. A decisão do Copom foi por unanimidade e sem viés (não pode mudar até a próxima reunião do comitê, marcada para 26 e 27 de novembro).

De acordo com números do Tesouro Nacional, referentes a agosto deste ano, 22,6% da dívida mobiliária federal estavam atrelados à Selic. Com base nesse dado, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos calcula que cada subida de 0,5 ponto percentual na Selic equivale a acréscimo aproximado de R$ 3 bilhões/ano na dívida pública, transferidos em grande parte para os bancos, que são os maiores credores do Estado.

A taxa básica de juros cresceu 2,25 pontos percentuais no ano – passou de 7,25%, em abril, para os atuais 9,5% – e, de acordo com expectativas dos analistas financeiros, deve aumentar ainda mais nas próximas reuniões do Copom, no fim de novembro e em meados de janeiro de 2014, apesar do abrandamento da inflação nos últimos três meses. Os analistas acreditam que a taxa básica de juros terminará o ano em 9,75% ou 10%.

Trabalhadores

A reação das centrais sindicais foi de lamento e repúdio à política fiscal do governo, ao favorecer o sistema financeiro em detrimento do sistema produtivo, num momento em que a indústria clama por estímulos. Este foi o tom da nota da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB). Leia a íntegra abaixo.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), filiada a Central Única dos Trabalhadores (CUT), condenou o novo aumento da Selic. Para a Contraf, a elevação dos juros penaliza os trabalhadores e beneficia especuladores e instituições financeiras. “Fica mais claro do que nunca que o objetivo por trás do discurso da necessidade de controlar a pressão inflacionária é, na verdade, atender a interesses das instituições financeiras, as principais detentoras da dívida pública”, disse, em nota, Carlos Cordeiro, presidente da Contraf.

Em nota assinada por seu presidente, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, a Força Sindical diz que “o Copom está usando uma dose elevada de forma desnecessária ao estabelecer a taxa Selic pois o índice de inflação, conforme as projeções, do próprio BC, para 2013 será o menor dos últimos três anos. Há uma distância entre o modelo econômico defendido e a política monetária praticada. Falta clareza na ação do Copom. Será zelo demais? A dose não pode matar o paciente? Elevar a taxa Selic num momento que a atividade econômica patina, anda de lado e a inflação aponta tendência de queda é no mínimo, estranho.”

E encerra dizendo condenar “a elevação da taxa porque favorece os especuladores e o capital, e prejudica a produção e os trabalhadores. Nenhuma economia cresce de forma saudável com os juros altos. Precisamos virar este jogo se quisermos ser um País saudável, com economia sustentável onde o cidadão comum não pague juros de 192% ao ano no cartão de crédito.”

Leia a íntegra da nota da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB) sobre o assunto:

Sem mudanças na política econômica o Brasil não avança

O Brasil retornou à condição nada honrosa de campeão mundial dos juros altos depois que o Comitê de Política Econômica do Banco Central decidiu elevar a taxa Selic para 9,5% ao ano na noite da última quarta-feira, 9. Em termos reais, ou seja, depois de descontada a inflação, a taxa básica é de 3,5%, a maior do planeta.

Trata-se de mais uma péssima notícia para quem trabalha e produz. Juros altos inibem os investimentos, a produção e o consumo. A decisão, adotada a pretexto de controlar a inflação, é uma ducha de água fria nas esperanças de recuperação da economia, afetando especialmente a atividade industrial e estimulando, com isto, o processo em curso de desindustrialização.

Outro efeito perverso é o crescimento dos encargos da dívida pública, cujo pagamento requer cortes dramáticos nos investimentos em saúde, educação e infraestrutura. Estima-se que a cada aumento de 1% na Selic as despesas com juros sobem de R$ 12 a R$ 13 bilhões. Quem lucra com isto são os banqueiros e grandes especuladores, inclusive os estrangeiros que são atraídos pela perspectiva de ganho robusto, seguro e fácil ao captar recursos praticamente a custo zero nos EUA e outras praças para investir aqui a 9,5%.

Dados do IBGE indicam que o nível de emprego na indústria brasileira recuou 0,6% em agosto em relação a julho, a quarta queda consecutiva. A folha de pagamentos caiu 2,5% no mesmo período. O quadro pode piorar com o aumento dos juros, que segundo os empresários anulou os efeitos positivos da desvalorização do real para o setor.

O comunicado emitido pelo Banco Central indica que as rodadas de aumento dos juros, iniciadas em abril quando a Selic estava em 7,25%, vão continuar e predomina entre os analistas a conclusão de que até o fim do ano teremos uma taxa de dois dígitos. É uma orientação conservadora, submissa aos interesses da oligarquia financeira e contrária aos anseios dos brasileiros e das brasileiras.

As pressões neoliberais no sentido de impor o receituário recessivo foram ampliadas pelas recomendações do malfadado FMI para o aperto das contas públicas, que significa novos cortes em gastos e investimentos públicos em detrimento das reivindicações dos movimentos sociais e das jornadas de junho por saúde, educação e transporte público de qualidade.

O palpite infeliz desta instituição, que representa os interesses da banca internacional e das grandes potências capitalistas (EUA e UE), deve ser condenado e rechaçado com energia e indignação. Os pacotes do FMI elevaram a taxa de desemprego a quase 30% na Grécia e a cerca de 20% em Portugal, além de desmantelar os serviços públicos de saúde e educação, levando milhões de trabalhadores e trabalhadoras ao desespero.

Nosso caminho é o oposto do indicado pelo FMI ou pela Carta ao Povo Brasileiro de 2002. A CTB, ao lado das demais centrais, alerta a classe trabalhadora e o povo brasileiro para a necessidade de intensificar a mobilização e a luta pela mudança da política econômica, a redução substancial da taxa de juros, o fim do superávit primário, o controle do câmbio, do fluxo de capitais e das remessas de lucros. Sem isto, o Brasil não avança na direção de um novo projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho, democracia e soberania.

São Paulo, 10 de outubro de 2013
Adílson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)

Com informações do Monitor Mercantil