O plenário do Senado virou um palco musical com apresentações artísticas na manhã desta segunda-feira (14) durante sessão solene em homenagem ao centenário do nascimento do poeta, músico e diplomata Vinicius de Moraes, que completaria 100 anos no próximo sábado (19).
Músicas consagradas como “Garota de Ipanema” e “Eu sei que vou te amar” foram executadas durante o evento. Além de artistas brasilienses, esteve presente Marcel Powell, filho do músico Baden Powell, que compôs com Vinicius “Canto de Ossanha” e “Berimbau”, entre outras.
O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), que requereu a homenagem juntamente com o deputado Penna (PV-RJ), lembrou que, em 1969, Vinicius de Moraes foi “atingido pelos atos infames da ditadura”, que o exonerou do cargo de diplomata.  Em 2008, por iniciativa do presidente Lula, ressaltou, Vinicius foi promovido, post mortem, ao cargo de ministro de primeira classe.
Vinicius de Moraes foi um dos nomes mais relevantes para a arte brasileira no século XX. A afirmação foi feita pelo vice-presidente do Senado, senador Jorge Viana (PT-AC), ao abrir a sessão solene em que o Congresso homenageou, nesta segunda-feira (14), o centenário de nascimento de Vinicius de Moraes, poeta, jornalista e diplomata.
Jorge Viana ressaltou que a obra musical de Vinicius de Moraes – segundo ele, tão importante quanto à literária – trouxe leveza à música e modificou a “paisagem musical” do país. Para ele, “as canções do Poetinha, com Tom Jobim e outros parceiros, colocaram a música brasileira no cenário mundial, disse o senador, e mostraram que “o Brasil é mais que samba, carnaval e futebol”.
Para o deputado Penna (PV-RJ), falar de Vinícius de Moraes é chamar a uma reflexão sobre o conhecimento. Segundo ele, Vinicius é uma verdadeira vacina contra a estupidez, a ignorância e o mal fazer da vida política.
“Brasileiro ilustre, aqui evocado nesse instante, saiba que nós todos precisamos muito reouvi-lo, relê-lo, para que a gente consiga melhores dias para o Brasil”, disse, referindo-se ao poeta.
Patrimônio brasileiro
Vinicius de Moraes, disse a senadora Ana Amélia (PP-RS), é um patrimônio brasileiro e do mundo. Em vez de receber homenagens, disse a senadora, o poeta homenageia a todos com a sua obra, que ainda inspira artistas e músicos. Ao ressaltar a sua atividade de jornalista, a senadora observou que ele era amante da liberdade e da livre expressão e falava tanto às crianças como expressava bem o pensamento dos adultos.
“Que a poesia de Vinicius de Moraes continue entre nós, tornando a vida de todos um pouco melhor, mais solidária, mais humana”, disse Ana Amélia.
Acentuar na música brasileira a presença de instrumentos e da sonoridade da música negra, em parceria com Baden Powell, é, na opinião do deputado Amauri Teixeira (PT-BA), a melhor fase de Vinicius. Para ele, só este fato já seria um grande feito do poeta. O deputado disse emocionar-se ao ouvir o som da Bahia na música brasileira.
Se estivesse vivo, disse Amauri Teixeira, Vinicius de Moraes ficaria feliz ao ver o Brasil fazendo uma diplomacia “altiva e soberana”, por ver a Bahia democrática e livre da tirania e, ainda, pelo fato de a Mãe Stella de Oxossi ter ocupado uma cadeira da Academia de Letras da Bahia (ALB).
Vinicius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de outubro de 1913 e morreu em 9 de julho de 1980. Seus principais parceiros foram Tom Jobim, Baden Powell, Carlos Lyra, Chico Buarque e Toquinho.
Durante a sessão solene, as Canções de Vinicius foram executadas por Marcel Powell, filho de Baden Powell, pelo Clube do Choro de Brasília e interpretadas pelo coral do Senado e pela cantora Myrlla Muniz, acompanhada pelos músicos Marcelo Lucchesi, João Marinho e José Ocelo. O coral do Senado, formado por cerca de 30 servidores, participou da homenagem cantando a música “Eu não existo sem você”, de Vinicius.
Participaram da cerimônia o representante do Ministério da Cultura, Pedro Henrique de Martino; o diretor do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores, ministro George Torquato Firmeza; a primeira secretária da Delegação da União Europeia no Brasil, Joanna Pliszka Ribeiro; o embaixador do Equador, Horacio Sevilla-Borja; o ministro conselheiro da Embaixada da China, Zhu Qingqiao.
Também estiveram na sessão os representantes do governo da Bahia, Sônia Maria Dunshee de Abranches Carneiro; e da organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Alan Bojanic; o vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), André João Costa; e estudantes de Jornalismo da Faculdade Anhanguera de Brasília.
Uma audiência pública será realizada nesta terça (15), às 14h30, na Câmara dos Deputados para debater a importância de Vinícius de Moraes para a cultura brasileira. Uma outra homenagem, às 17h, também está marcada para acontecer no hall da Taquigrafia da Casa.
Para Marcel Powell, a homenagem é “incomensurável”. “Eu acho que o Vinicius merece homenagens todos os anos. Eu não conheci o Vinicius, mas é como se eu tivesse, porque eu o conheci por meio das histórias do meu pai. Acho que a palavra para poder dizer o quanto que é importante é incomensurável, não dá pra mensurar isso”, comentou.
Segundo Marcel, uma das histórias mais marcantes que Baden Powell contou sobre a parceria com “o poetinha”, como Vinícius era chamado, se passou na casa do homenageado. No que era para ser apenas uma visita de final de semana, Powell e Vinícius ficaram compondo por três meses.
“Meu pai tinha feito uma música, mostrou para o Vinicius e aí o Vinicius ouviu a música e ficou de ouvir a letra. A hora foi passando e meu pai foi cobrar dele. Aí o Vinicius falou que não ia mais fazer, porque ele tinha achado que era plágio. Enfim, ficou comprovado que não era, mas o Vinicius não quis dar o braço a torcer e falou assim: ‘Então Chopin esqueceu de fazer essa música’. Ele achava que era um plágio do Chopin”, contou Marcel Powell.
Vida e obra
Vinicius de Moraes nasceu no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, em 19 de outubro de 1913, e completaria 100 anos neste sábado (19). Casou-se nove vezes e teve cinco filhos. Ele morreu em 9 de julho de 1980 devido a um edema pulmonar.

Em 1930, Vinícius entrou para a Faculdade de Direito e, em 1938, é o primeiro brasileiro agraciado com uma bolsa de estudos do governo britânico para cursar literatura inglesa na Universidade de Oxford. Após começar a atuar como jornalista de volta ao Brasil, ingressa na carreira diplomática.

Entre idas e vindas ao país, Vinícius nunca deixou de compor e trabalhar com música, poesia e cinema. Em 1939, já era reconhecido como poeta e amigo de vários nomes importantes, como Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles. No início da década de 1960, começou a compor em parceria com Carlos Lyra, Pixinguinha e Baden Powell. Também fez shows de grande repercussão ao lado de Antonio Carlos Jobim e João Gilberto.

Em 1969, o artista é exonerado do Itamaraty, sendo readmitido post mortem em 2010 durante cerimônia especial no Ministério das Relações Exteriores. Em 1970, iniciou sua parceria com Toquinho, que iria continuar até o fim de sua vida.
No ano de 1979, ele sofre um derrame cerebral e, no ano seguinte, morre em casa no dia 9 de julho devido a um edema pulmonar.