A Ação Popular (AP) foi a organização, ligada à igreja católica, que se incorporou ao PCdoB, em 1973, durante o período mais violento da ditadura militar, quando os militantes partiam para a resistência armada. Os militantes de AP participaram, então, da Guerrilha do Araguaia, quando foram massacrados pelo Exército. Arantes relata este momento em suas memórias sob o ponto de vista que lhe coube e o faz como uma forma de celebrar os 50 anos de fundação da Ação Popular e os 40 anos de incorporação ao PCdoB.

Segundo ele, os eventos de lançamento do livro têm sido uma oportunidade muito rica pra retomar o contato com estes setores e militantes de AP, quadros militantes do PCdoB e outras forças políticas. Como os quadros que vieram da AP para o PCdoB tinham um vínculo muito forte com setores de esquerda da igreja católica, ele acredita que o livro tem ajudado a reaproximar esses setores da militância de esquerda.

Ele observa haver uma convergência de forças políticas que vivenciaram esse período comum, quando fala sobre o livro em localidades como Curitiba, Goiânia ou Rio de Janeiro.  “Ouço depoimentos de pessoas que começaram a ler e disseram que não conseguiam mais parar. Pessoas que, no fundo, se sentiram presentes no livro”, diz ele.
Arantes entende que, na realidade, seu livro não é meramente um relato pessoal, mas a história de uma geração. “Esta é a importância e significado deste livro. Muitas pessoas têm lido com muita ênfase e carinho porque se veem como partícipes daquele processo.”

Além do caráter comemorativo, Arantes, diz que o livro tem o significado de resgate do legado de Ação Popular. “Por um motivo ou outro, durante um período, o Partido não tenha tido a oportunidade de uma análise mais aprofundada do que teria sido o legado da Ação Popular”.

Olhando para o retrovisor, ele avalia que o momento em que AP decidiu se incorporar ao PCdoB era muito delicado, de ofensiva contra o Partido, no curso da Guerrilha do Araguaia. Ele relato a memória de uma reunião muito importante entre Renato Rabelo e Haroldo Lima, ambos de AP, enquanto ele se encontrava na China comunicando, exatamente, o processo de incorporação. Aliás, Arantes diz que foi ele quem fez o primeiro contato com os chineses em nome da AP, anteriormente.

“Aquele momento era muito importante, porque o Amazonas e o Pomar, diziam que naquele momento a entrada para o PCdoB era quase uma declaração de atestado de risco de morte iminente”, afirma. Para além desse legado de coragem e ousadia, de acordo com Arantes, naquela momento, AP era uma organização maior, mais influente e mais expressiva numericamente que o PCdoB. “Uma organização que se decidia entrar para o PCdoB sem pedir absolutamente nada e num momento muito delicado”.

É este o legado que ele procura registrar e afirmar aos novos militantes do Partido. “Isso demonstra a importância que significou para o PCdoB essa incorporação e o fortalecimento, a visão que os dirigentes de AP tinham naquele momento do papel de vanguarda do Partido, apesar das dificuldades que o PCdoB enfrentava. Isso tudo foi uma lição para todos nós”, diz ele, ressaltando a necessidade de valorização dessa história de Ação Popular e dessa incorporação ao patrimônio do Partido.