A mesa ocorrida no período da manhã, desta sexta-feira (24), discutiu as fragilidades e crise da democracia a partir das exposições de Bernard Cassen (Universidade de Paris) França
Wilhelmina Trout (Marcha Mundial de Mulheres – África do Sul) Chico Whitaker (CI FMS – CNJP/CNBB – São Paulo)
Gilberto Carvalho (ministro da Secretaria Geral da Presidência da República) Tarso Genro (governador do Estado
Tauofik Ben Abdallah – CI FSM – Senegal), com mediação de Salete Camba (CI FSM – FLACSO/Brasil).

Alemão mencionou revelações recentes de documentos que mostram a intenção do presidente J. F. Kennedy, dos EUA, em oferecer uma intervenção militar sobre o governo João Goulart, “para evitar uma cubanização do Brasil”. “Foi assim que João Goulart foi demonizado como um governo autoritário, como o foi Hugo Chávez, na Venezuela, e o são os líderes árabes e africanos, frequentemente derrubados com apoio da Otan”, afirmou. Em momentos de crise no capitalismo central, esses meios suspeitos de se apropriar da riqueza de outros países, sob a desculpa de “levar a liberdade e a democracia para o povo”.

“Se há algum problema de democracia na Síria, trata-se de um assunto que precisa ser resolvido internamente, por seu próprio povo, sem a intervenção interesseira dos EUA e da Europa”, afirmou, referindo-se à tentativa frustrada de derrubada de Bashar Al-Assad, que resiste ao imperialismo sobre os combustíveis fósseis de seu país.

De acordo com Alemão, o nível de sofisticação com que as estratégias se afirmam com esse objetivo de dominação, fazem com que as previsões de George Orwell, em 1984, soem infantis. Ele referiu-se às estratégias de vigilância estatal sobre o indivíduo, mas também àquelas de manipulação dos fatos em benefício próprio, já relatadas no início do século XX pelo escritor inglês. “As revelações do Edward Snowden mostram que a espionagem chega a âmbitos nunca imaginados, assim como a manipulação da mídia sobre os fatos reafirma a frase do nazista Goebbels, de que uma mentira insistentemente repetida vira verdade”, disse ele.

Articulador com os movimentos sociais
O ministro Gilberto Carvalho fez uma análise multifacetada sobre a atualidade da relação entre governo e movimentos sociais, criticada por Chico Whitaker, ao relatar a luta contra a construção de usinas nucleares no Brasil. “É um equívoco confundir governo com poder, pois a correlação de forças no governo é muito desigual, a máquina está toda estruturada para impedir que as ações do governo chegue a quem mais precisa e o Poder Legislativo nos impõe importantes derrotas”, defendeu-se, fazendo também mea culpa de eventuais erros cometidos.

Carvalho analisou a perplexidade do governo e das esquerdas com as manifestações que não param de se renovar no país, referindo-se às jornadas da juventude em junho de 2013, e, agora, a reação agressiva contra os “rolezinhos” em shopping centers. Ele citou a Marcha de Abertura do Fórum Social Temático, seguida de outra manifestação radicalizada ocorrida, como parte desse dilema em que a esquerda se desencontra das insatisfações que se expressam nas ruas.

Ele analisa estes movimentos, em que novos atores expressam novas demandas de forma radicalizada, como “o início de um esgarçamento do processo insuportável resultado da mobilidade social que estamos gerando”. “Temos que romper a barreira e conversar, buscando entender a dialética de novidades ou não construiremos nada de novo”, assumiu. 

Para o Governo, a única resposta a isso é retomar a “bela democracia. “Estas manifestações que resultam de um avanço substancial na construção de uma democracia real e inclusiva, são um convite a radicalizar, a aumentar, a ampliar a democracia participativa efetiva e não apenas consultiva. É um exercício real e efetivo da democracia”, concluiu.

Sequestro econômico
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, partiu do pressuposto de que governo e estado foram sequestrados pelo poder financeiro. “ O Estado democrático de direito está no limite da sua efetividade, porque foi plenamente capturado pelo capital financeiro”, analisou ele.

Como consequência disso, ao efetivar este sequestro, o capital financeiro limita a democracia de várias formas. “Para sair das crises, o capitalismo precisa construir mais desigualdades, ao contrário de outras crises anteriores, que tendiam a promover inclusões”.

Do mesmo modo, as elites precisam controlar a formação da opinião por meio da mídia. Tarso, então, lamentou o fato dos governos progressistas nesta década não terem avançado em termos de democratização da comunicação, enquanto Uruguai, Argentina, por exemplo, mostram a dimensão das transformações que isso causa.

Para ele, o desafio é enfrentar a financeirização da economia, reduzindo seu poder. Nos países onde o acesso pleno a qualidade de vida já havia sido conquistada, o sistema financeiro tem absorvido os recursos públicos e demandado ajustes fiscais severos que implicam num retrocesso sem precedentes para aqueles povos. Sem uma regulamentação, a nível internacional, do sistema financeiro, poucas transformações serão possíveis, no sentido de democratizar efetivamente a sociedade brasileira.