Na última segunda-feira (3), a jornalista Maria Lydia, do Jornal da Gazeta, entrevistou o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, quando questionou o preparo das obras para a Copa do Mundo, assim como a garantia de segurança para turistas e jogadores, em particular com ameaças de manifestações violentas no período dos jogos. O ministro esboçou tranquilidade e segurança na garantia da agilidade dos preparativos, assim como clareza no modo como pretende lidar com os manifestantes, assegurando seu direito a opinar publicamente, desde que sem depredação e violência.

Leia e assista a íntegra da entrevista:

Faltam pouco mais de três meses para o início da Copa do Mundo e muita coisa ainda tem que ficar pronta. O senhor está ansioso?

Não. Trabalhando muito, sim. Porque essa é a vigésima Copa do Mundo. Dezenove outras aconteceram, uma delas inclusive no Brasil, a de 1950, que organizamos muito bem. A Europa tinha saído da guerra destruída, em crise, e o Brasil fez a Copa de 1950 em tempo recorde. Nós estamos preparando essa Copa, estamos bem. 90% das obras de mobilidade urbana estarão prontas antes da Copa do Mundo; seis estádios foram entregues para a Copa das Confederações, os outros serão entregues até a Copa do Mundo. Então, a Copa não tem segredos, não tem mistérios. O que ela tem é muito trabalho.

Como o senhor vê as críticas e preocupações que dizem que o Brasil demorou a começar a preparar a Copa. Não as críticas de cunho político-eleitoral, mas de pessoas que são da área do esporte, como o presidente da Fifa, Joseph Blatter e o técnico da seleção, Parreira?

Uma parte é desinformação. As pessoas não acompanham. Eu tenho uma forma de acompanhamento diário, semanal e mensal. Uma consultoria que trabalha para o Ministério, formada por engenheiros e administradores. E nós somos informados diariamente de cada tijolo que entra em cada obra, seja da Copa, principalmente estádios, ou obras de mobilidade urbana, que são obras do PAC, obras que seriam executadas com Copa ou sem Copa. O sistema de transporte aéreo, a modernização dos aeroportos, não são obras para a Copa do Mundo, são obras para o Brasil, para a população. O VLT, metrô, ampliação de vias de acesso em áreas urbanas, são obras previstas para essas metrópoles e que foram antecipadas por causa da Copa do Mundo.

Que expectativa o senhor tem em relação à garantia de segurança sobre essas pessoas que ameaçam que não vai ter Copa por argumentaram gastos excessivos?

A violência quer apenas um pretexto. Atletas foram assassinados quando já se encontravam dentro da vila olímpica nas Olimpíadas de Munique [Alemanha]. Numa tragédia que marcou a humanidade. Assassinados os atletas, sequestrados e, aí, qualquer pretexto vale. Numa Olimpíada dos EUA houve atentados com mortes a bomba [Atlanta, 1996]. Agora, na olimpíada de inverno na Rússia também houve atentados. Então para esse tipo de eventos, naturalmente, o governo tem que se preparar em colaboração, inclusive, com a Polícia Federal, com a Polícia Militar, com a Inteligência do Exército, as Forças Armadas.

As Polícias Federal e Rodoviária já disseram que não terão condições de ajudar por não terem estrutura pessoal e recursos. Como fica?

São seiscentos mil turistas espalhados por doze cidades-sede. As cidades do Rio de Janeiro, de Salvador e de Recife recebem normalmente no Carnaval muito mais turistas do que vão receber na Copa do Mundo. Ou seja, não haverá, portanto, um aumento extraordinário no número de turistas, nem internacionais, nem nacionais, que são aproximadamente 3 milhões. Há também uma permuta: muita gente deixa de viajar, muitos congressos, feiras e eventos deixam de acontecer nessa época da Copa. Havendo, portanto, uma troca do turista da Copa pelo outro que, provavelmente, adiará sua viagem, o seu turismo. Então, não haverá um grande problema de segurança pública. O governo está preparado, há uma cooperação com as polícias do estado; os centros de comando e controle já com os equipamentos adquiridos.

Mesmo com a força das mobilizações pela internet?

As manifestações pacíficas são protegidas pela Constituição e integram a vida democrática do país. Eu participei de dezenas de manifestações quando o Brasil tinha um regime militar. A outra coisa são os gestos de violência, as agressões e ameaças. Eu vi numa entrevista grupos dizendo que ia ter ataques, sequestros… Isso é um problema policial, é a quebra da ordem democrática. Um país democrático não pode aceitar esse tipo de violência.

Se eventualmente o Brasil não for bem sucedido no futebol o senhor não receia que isso tenha uma repercussão política eleitoral para a candidatura de reeleição de Dilma, uma vez que é o Governo Federal que está no comando da organização da Copa?

Nós vamos jogar em casa, com a nossa torcida, temos um grande técnico, temos uma seleção já formada na Copa das Confederações, vencemos um adversário que é o atual campeão do mundo, a Espanha. Eu não trabalho com a hipótese do Brasil perder a Copa do Mundo. Jogando em casa, com o apoio da torcida e com os jogadores que nós temos, vamos sair vitoriosos.

O senhor vai ser candidato este ano?

Não posso ser candidato, porque, para permanecer no Ministério até a Copa do Mundo, eu não poderei me desincompatibilizar, portanto permanecerei a frente do Ministério.

Boa sorte, ministro.

Obrigado, Maria Lídia. Com sorte se dá uma volta ao mundo, sem sorte não se atravessa nem uma rua, como dizia Nelson Rodrigues.