Luiz Carlos Prestes faleceu em março de 1990, mas não plantou apenas uma semente, deixou raízes e troncos na história nacional, pétalas e espinhos na memória dos brasileiros e a possibilidade de reavaliar papéis dentro da  própria sociedade. A trajetória de Prestes, por si só, já é exímia e típica de um grande herói: foi o idealizador da Coluna Prestes, comandante da Intentona Comunista, senador pelo Partido Comunista do Brasil, líder do PCB por mais de 50 anos e exilado político, até retornar ao Brasil com a Lei de Anistia, em 1979.

Mas, antes de assistirem ao filme que conta sua história, “O Velho – a história de Luiz Carlos Prestes”, do cineasta Toni Venturi, os jovens presentes deram início a uma espécie de competição. Ganharam, primeiramente, um envelope. Dentro, havia o nome de um guerrilheiro e a sua história. A partir de hoje, todos adotam esse codinome e se dividem em 4 destacamentos (A, B, C e D), que irão disputar entre si durante todo o percurso da caravana. Ao longo dos próximos dias, eles vão publicar textos, fotos e vídeos sobre os assuntos que estão sendo discutidos. Quem tiver mais curtidas, comentários e compartilhamentos levará um kit com vários livros. Qualquer um pode participar da competição interagindo com a página na internet: http://migre.me/iOZiO

Somado a toda a tarefa “cibernética”, os destacamentos também devem fazer perguntas inteligentes aos convidados. A primeira a passar pela “sabatina” foi a socióloga Ana Maria Prestes, neta de Luiz Carlos Prestes e Maria Prestes e membro do Comitê Central do PCdoB. Ana foi a palestrante do período da manhã e traçou uma linha mais pessoal da vida e trajetória de Prestes.

Ana Maria Prestes

Ana leu um trecho do livro “Meu Companheiro: 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes”, de sua avó Maria Prestes, que resumiu bem seu discurso e respondeu a quase todas as perguntas feitas pelos jovens socialistas, sobre os altos e baixos de Prestes: “Quem foi fiel aos seus propósitos e vem alcançando vitórias, não tem porquê ter raiva da história, ficar remoendo o passado ou se perder aos fatos marginais. Para nós, a história deve servir de exercício constante da sistematização e desenvolvimento das ideias revolucionárias que nos movem na transformação da sociedade em que vivemos. E a cada vez que contamos nossa própria história, nos reencontramos com nossos acertos, mas também com nossos erros, nos reconhecemos como frutos da dialética, dessa mesma história, que não é estática, mas antes dinâmica e relativa à distância da qual a observamos e dos novos elementos de análise que a vida vai nos provendo”.

Jovens tenentes rebeldes

Amilcar, licenciado em história, mestre em Patrimônio Cultural e professor universitário em Santa Ângela, no Rio Grande do Sul, foi o responsável por conduzir o segundo debate do dia, na Prefeitura de Palmas. Ledo engano para quem pensou: “Na prefeitura? Chato!”. A Prefeitura da cidade é um encanto. Espaços verdes, árvores de diversos frutos e um orquidário que orna a sala de reunião. Dizem as lendas que Lenine, o cantor pernambucano apaixonado por orquídeas, passeia por lá sempre que tem turnê na região.

Amilcar destacou a trajetória de Prestes por um ângulo diferente de Ana. Exaltou a conjuntura política e o papel fundamental da militância juvenil para conduzir a Coluna Prestes. Também abordou a Coluna às avessas, vista por muitos civis durante o período como bandoleira e arruaceira.

“Prestes chegou a receber do frei D. Domingos, em Tocantins, uma carta pedindo para que a revolução liderada pelos tenentes não passassem pela região, para que não houvessem saques nem mortes. Prestes retrucou a carta, explicando o objetivo verdadeiro da Coluna: a moralização do país, através do voto secreto e de maior centralização política, eliminando assim o excessivo poder das oligarquias e disseminando cultura e educação”, avaliou o professor.

Memorial Coluna e o pôr do sol

Após a aula com Amilcar, os jovens socialistas fizeram uma visita monitorada ao Memorial da Coluna Prestes, localizado na famosa Praça dos Girassóis, a maior da América Latina e segunda do mundo. Antes de adentrar ao universo do comunista, todos fizeram pose para registrar imagens com o “Cavaleiro da Luz”, nome da escultura belíssima do artista plástico Maurício Bentes, que representa Luiz Carlos Prestes.

Memorial Coluna Prestes

O memorial homenageia a passagem da Coluna Prestes pela região e, por isso, não podia ficar de fora do roteiro da caravana. Após a visita, os “novos guerrilheiros” ainda conseguiram assistir ao fim do pôr do sol mais bonito do Brasil (isso quem disse foi um morador local!). A outra praça famosa por registrar esse momento se chama Graciosa e faz jus ao nome.

Próxima parada: Guerrilha do Araguaia

A caravana do projeto “Lutas que construíram o Brasil” segue nesta noite para Xambioá, norte de Tocantins, a 494 km de Palmas. Chegando pela manhã, todos os participantes pegarão barcos para a Vila Santa Cruz dos Martírios, onde, contam, está enterrada a maioria das ossadas dos Guerrilheiros do Araguaia. Durante todo o dia, haverão mesa de debates, atividade pedagógica com os destacamentos e a exibição do filme “Araguaia: Campo Sagrado”. À noite têm fogueira e conversa com os moradores da região.

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Araguaianas – notas de uma viagem

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1. O Velho  – O filme documentário “O Velho, a história de Luiz Carlos Prestes”, dirigido por Toni Venturini, narra a trajetória do seu personagem título, desde o início do seu envolvimento com a política, na década de 1920 até sua morte em 1993. Com uma temática poética e ricas imagens documentais, fruto de uma pesquisa de imagens acurada, o filme narra a trajetória do personagem e seu vínculo com os principais fatos políticos da história brasileira do século XX.

2. O celular de Prestes – Durante a sua palestra, a socióloga Ana Maria Prestes, neta do “cavaleiro da esperança”, disse que de tanto falar o nome do avô em casa, a sua filha mais velha, Helena, um dia perguntou o que ele fazia na cadeia. Ana respondeu que Preste lia e que a rotina era muito difícil. De bate pronto, Helena emendou: “Mas, mãe. Ele não tinha celular?”.

3. Memorial – Projeto do Arquiteto Oscar Niemeyer, amigo pessoal de Luiz Carlos Prestes, o Memorial sobre a coluna que o líder comunista liderou é um dos principais pontos turísticos de Palmas. Localizado no meio da gigantesca Praça dos Girassóis, o museu guarda algumas raridades como armas usadas nas batalhas e um lenço de Prestes, além de fotos e outros objetos doados pela família, como Luiz Carlos Preste Filho. Embora seja um dos únicos locais no Brasil dedicados à memoria da Coluna Prestes, a edificação não recebe muitas visitas e parece meio esquecido pelo pode público.

De Palmas (TO), Patricia Blumberg e Rafael Minoro