Já virou “tradição” em São Paulo, a diferença grotesca entre os resultados divulgados por institutos de pesquisa e a eleição na urna. Na melhor das hipóteses, os institutos mediam 11 pontos de intenção de voto para o candidato do PT ao governo do estado, Alexandre Padilha, que chega na pesquisa de boca de urna com 20 pontos. Ao final da apuração, o candidato obteve cerca de 18,20% dos votos, contra 21.53% de Paulo Skaf (PMDB) e 57,32% de Geraldo Alckmin (PSDB).

Segurando no chão

Padilha foi mantido na lanterninha das pesquisas durante quase todo o período eleitoral, dificultando inclusive sua inserção nos telejornais e debates, quando a Rede Globo justificava cobertura apenas para candidatos acima de 10% de intenções de voto, numa estratégia para mantê-lo desconhecido pelo eleitorado. Naturalmente, índices baixos também dificultam o financiamento da campanha, além de influenciar o voto em favor dos mais votados.

O Datafolha, por exemplo, que garante os piores índices para o PT em todos os âmbitos eleitorais, media 3% para Padilha em junho, enquanto Alckmin já contava com 44% e Paulo Skaf tinha 21%. Os números já espantavam os petistas desde então, considerando que sempre contaram com um parâmetro de largada perto de 20%.

Os números abaixo de 5% foram mantidos pelos institutos até agosto, quando a eleição já tinha plena cobertura de mídia e começava nas ruas. O petista arrastou nos 10% das intenções de voto até o dia 1o. de outubro, chegando ao máximo de 11% no dia 4, véspera da eleição. A boca de urna do Ibope já surpreendeu ao mostrar Padilha com 20%, índice na margem de erro para que o petista disputasse um eventual segundo turno com Alckmin (52%) e Skaf com (22%).

Espontânea e estimulada

Helena Sthephonowitz já apontava, na Rede Brasil Atual, a desconfiança em torno da diferença entre números de intenção de votos espontânea e estimulada. Quanto mais próximo do dia da eleição, mais as pesquisas registram proximidade entre os números de intenções de votos espontânea e estimulada. Mas faltando quatro dias, ela detectava uma diferença gigantesca entre intenções de votos espontânea e estimulada para governador de São Paulo, sobretudo no caso de Geraldo Alckmin (PSDB).

Enquanto nas candidaturas presidenciais, todos os institutos apontavam uma diferença de no máximo 5 pontos entre a espontânea e a estimulada, por exemplo. Já na pesquisa para governador de São Paulo, feita pelo Datafolha, por exemplo, também fechada no dia 30, Geraldo Alckmin tem 31% na espontânea e dá um incrível salto para 49% na estimulada. Os números respectivos de Paulo Skaf (PMDB) são 14% e 23%, e os de Alexandre Padilha (PT) são de 5% e 10%. Os 5 pontos, neste caso, não servem para o tucano, só para os demais.

Pesquisa espontânea é aquela em que apenas se pergunta ao pesquisado em quem irá votar sem citar nenhum nome de candidato. Só quem tem candidato definido responde. É um voto consolidado que dificilmente muda. Já a pesquisa estimulada mostra um disco ao eleitor com os nomes de todos os candidatos em disputa, sem opção de voto nulo, para o eleitor escolher um deles. Logo, o eleitor pesquisado é induzido a escolher um nome, mesmo que não tenha decidido ainda ou que não pretenda votar. A pesquisa estimulada serve para indicar tendência, para onde penderia os indecisos, mas faltando quatro dias para a eleição pode-se afirmar que a diferença entre a pesquisa espontânea e a estimulada é um voto volátil, que pode mudar, que ainda está em disputa, que “não tem dono”.

Helena diz que estamos diante de um fenômeno diferente de eleições passadas. Faltando quatro dias para as eleições, 36% dos pesquisados dizem ainda não ter candidato a governador em São Paulo quando a pesquisa é espontânea. Ela ainda chama a atenção para o fato do jornal Folha de S. Paulo esconder os números da pesquisa espontânea e só mostrar a estimulada na hora de dar a notícia, fortalecendo o clima de  “já ganhou” da campanha de Alckmin, desmotivando a militância de outros candidatos. O jornal esconde que ainda existem mais votos em disputa de última hora do que o percentual que o governador tucano tem consolidado, deixando a eleição paulista ainda em aberto.

Histórico

Por que os institutos de pesquisa erram tanto nas eleições para governador de São Paulo, a 16 anos? Em 1998, houve inclusive voto útil de eleitores de Marta Suplicy, a favor de Mário Covas, para evitar a eleição de Paulo Maluf. Os resultados mostraram que Covas superou Marta por décimos.

Em 2002, abaixo de Alckmin, o petista José Genoíno tem uma votação superior a de Maluf, embora os institutos apontassem o contrário.

Em 2006, o petista Aloísio Mercadante novamente tem uma votação superior àquela prevista pelos institutos, repetindo o desempenho em 2010.

Evidentemente, todos sabem que pesquisa não tem fidelidade absoluta e enfrenta limites geográficos, de classe social ou metodológicos. Mas, evitam erros muito perceptíveis para não comprometer seu bem mais valioso que é a credibilidade.
Não dá para falar em erro metodológico, pois isso afetaria da mesma forma outras localidades e não apenas São Paulo, a cidade onde está grande parte do mercado financeiro, do setor produtivo, da mídia nacional e dos setores médios da sociedade.

Padilha questiona disparidade 

Durante entrevista após o resultado das urnas, Padilha afirmou que os institutos de pesquisa não acompanham a realidade da disputa. Para ele, a disparidade dos números deve ser explicada por essas instituições. Ele citou os 11% da pesquisa Datafolha divulgada no sábado (4), que sobem no fim da apuração para 18,20%, contrariando o instituto de pesquisa.

“Por que toda vez, a doze horas da eleição, os institutos de pesquisa dão 6, 7 pontos a menos para os candidatos do PT no primeiro turno aqui no estado de São Paulo?”, questionou após Geraldo Alckmin (PSDB) vencer a disputa.

Em sua avaliação, as diferenças provocaram prejuízos na sua campanha. Por mais de 30 dias, Padilha deixou de ter cobertura diária da Rede Globo por não apresentar 6% das intenções de voto nas pesquisas. Isso o levou também a perder espaços para seus adversários em outras mídias.