Mesmo que essas correlações não fossem tão fortes, não seria menos evidente que ele é o candidato dos ricos. Seu partido é a versão revista e atualizada da UDN, juntando moralismo hipócrita, neoliberalismo, insensibilidade social, vassalagem pro-imperialista. Os barões mediáticos o apoiam com a habitual desfaçatez, manipulando as “notícias” e destilando ódio ao PT.

Ele próprio tem jeito e cara de classe dominante. Sempre com uma risadinha estereotipada, mas explicável: tudo lhe foi fácil na vida. Moço rico, desfrutava a dolce vita na orla guanabarina. Para completar sua mesada (o chopinho nos bons bares não é barato), o pai dele, Aécio Ferreira da Cunha, deputado federal pelo PDS (Partido Democrático Social, novo nome da famigerada Arena), que servia de correia de transmissão parlamentar da ditadura militar, arrumou-lhe em 1980 um emprego na Câmara dos Deputados. O garotão, que tinha 19 anos, queria o dinheirinho extra, mas não queria ir para Brasília. Largar a praia e o “beautiful people” da Viera Souto ou da Delfim Moreira? Jamais! Nem morto! Papai deu um jeito. O filhote embolsaria um emprego de araque na capital federal, mas continuaria morando no Rio de Janeiro (ver UOL, 14/10/14). A malandragem (paga pelo contribuinte, como gostam de dizer os moralistas liberais) permitiu a Aécinho começar a carreira na condição de “aspona” do partido da ditadura. Quando esta picaretagem, entre muitas outras, veio à tona, a assessoria do atual candidato da direita à Presidência declarou que não havia nenhuma irregularidade no fato de ele estudar no Rio de Janeiro e trabalhar (sic) para o gabinete do pai na capital federal. Só a partir de 2010 “os ocupantes de cargos na Câmara passaram a ter que atuar em Brasília”. Talvez não fosse “irregularidade”, mas era certamente imoralidade.

Bem sabemos (inclusive os tartufos da direita, embora finjam não saber)  que essa primeira malandragem anunciou muitas outras, mais graves. Aécio é influenciável. Não fez bem a ele frequentar o ambiente que estimulou Eduardo Azeredo, fundador e presidente do PSDB, quando disputava em 1998 sua reeleição ao governo de Minas Gerais, a dar o golpe dito do “mensalão tucano” para angariar fundos “irregulares”. Mas a tucanagem contava com os préstimos de Geraldo Brindeiro, o procurador (na verdade engavetador) mor da República de FHC. A sujeira foi arquivada. Talvez agora, com dezesseis anos de atraso, o STF mostre que não fala grosso só com o PT.

Não há campanha eleitoral sem críticas aos adversários. Mas certos ataques são como uma granada molhada: estouram na mão de quem os lança. Em São Carlos (SP), dia 8 de junho, quando começava a campanha, o candidato dos ricos, querendo surfar na onda anti-PT, declarou que a omissão do governo federal em segurança pública “chega a ser criminosa”. Ele parece entender bem de omissões mortíferas. O trânsito é um dos piores flagelos brasileiros. Entre 1980 e 2011, ele provocou mais de um milhão de acidentes mortais registrados, provavelmente muito mais, a considerar a média anual de 50.000 mortos. A omissão das mais diversas instâncias da administração pública e a complacência do judiciário com os delinquentes do volante explicam em boa medida as proporções da hecatombe. Mas nem todos são omissos; alguns enfrentaram o problema com seriedade. Outros deixaram o massacre prosseguir. Foi o caso de Aécio: entre 2001 e 2011, período que coincide em larga medida com os oitos anos em que foi governador de Minas Gerais (2003-2010) a taxa de mortes no trânsito em Minas Gerais progrediu 76%, ao passo que em São Paulo o aumento foi de 7%; no conjunto da região Sudeste, 10,6% e na média brasileira foi 27%. A diferença para pior entre Minas e a média brasileira (que já é péssima em comparações internacionais) comprovaria, se preciso fosse, a criminosa omissão, a insensibilidade e a incompetência do candidato dos ricos quando foi governador.


João Quartim de Moraes da Fundação Maurício Grabois Seção São Paulo