Octavio Brandão foi, sem dúvida, no marxismo brasileiro, um grande pioneiro e inovador.

Foi um dos precursores da luta pela reforma agrária no país, logo após romper, aos 16 anos de idade, com o catolicismo nas Alagoas do início do século XX. Ao escrever o livro Canais e Lagoas, entre 1916 e 1917, sobre o complexo lagunar Mundaú-Manguaba, também em seu estado natal, poderia ser visto como um dos primeiros ecologistas brasileiros. Em 1923, traduziu da versão francesa preparada por Laura Lafargue a primeira edição do Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels. Em 1925, participou da criação do jornal A Classe Operária, órgão do Partido Comunista do Brasil (PCB) – que ajudava a construir integrando a sua direção. Ao ser eleito, em 1928, pelo Bloco Operário e Camponês (BOC) para o Conselho Municipal da cidade do Rio de Janeiro, tornou-se um dos primeiros representantes comunistas em um órgão representativo do país.

Mas é, sobretudo, por sua obra Agrarismo e industrialismo – ensaio marxista-leninista sobre a revolta de São Paulo e a guerra de classes no Brasil, de 1926, que Octávio Brandão ficará conhecido na pesquisa marxista brasileira – inclusive, como revelam abaixo os textos dedicados à sua interpretação. Conforme o próprio título anuncia, trata-se de uma tentativa pioneira de análise da formação social brasileira apoiada na teoria marxista, e que iria influenciar por muitos anos não apenas a política dos comunistas brasileiros, mas também estudos posteriores de análise marxista. Brandão aborda não apenas aspectos como a geografia, o homem e a terra, como discute aspectos centrais da economia – agrarismo, industrialismo –, relacionando-os com o “Estado burguês agrário”, na tentativa de extrair indicações para a elaboração de uma política transformadora e a definição das alianças a serem feitas pelo proletariado brasileiro.

Nada mais justo e oportuno, portanto, do que este dossiê sobre o legado teórico e político de Octavio Brandão. Textos de sua autoria – entre eles, artigos disponibilizados pela primeira vez na versão digital – e ensaios sobre a obra e trajetória política do marxista alagoano integram este dossiê de marxismo21.

Editoria

I. Textos de Octávio Brandão

A vida política: uma lei sobre a imprensa brasileira, dez.1923

Reação e repressão: carta do Brasil, abril 1924

Uma etapa da história de lutas, jan.1957

A classe operária

A Penúria da Crítica, 1958

Literatura sem Ideologia? 1960

A Ascensão Histórica do Brasil, 1960

Canais e Lagoas, 1960

Vida Vivida – Recordações, 1961

Pelo Realismo Revolucionário, 1961

O Primado da Natureza – Ciência e Filosofia, 1961

O Brasil Explorado e Oprimido, 1962

O Petróleo e a Petrobrás, 1962

Combates da Classe Operária, 1963

II. Entrevista

Entrevista de Octavio Brandão

III. Textos sobre a obra e trajetória política

Uma memória silenciada, Roberto Mansilla Amaral

Octávio Brandão (1896-1980), Leandro Konder

Octávio Brandão nas origens do marxismo no Brasil, Marcos del Roio

Octavio Brandão e o confisco da memória, Alvaro Bianchi

Agrarismo e industrialismo : uma primeira tentativa de interpretação marxista do Brasil, Angelo José da Silva

Octávio Brandão: uma leitura marxista dos dilemas da modernização brasileira, Alexandre M.E. Rodrigues

Agrarismo e industrialismo: o primeiro encontro do marxismo com o Brasil, Augusto Buonicore

Agrarismo e Industrialismo: pioneirismo de uma reflexão, Paulo Ribeiro da Cunha

O bruxo contra o comunista ou o incômodo ceticismo de Machado de Gustavo Bernardo Krause

As primeiras interpretações marxistas da realidade brasileira, Rafael Del’Omo Filho

IV. Vídeo

Octávio Brandão: as lutas de seu tempo