« Por que vocês o embalsamaram?”, perguntei ao operário comunista que me acompanhava. “Vocês fizeram dele uma múmia”. “Não acreditamos na imortalidade da alma”, respondeu.

Curzio Malaparte, Le bonhomme Lénine

1- Anel de ferro da ortodoxia?

O fato de não ter havido um « jovem Lênin » sugere forte continuidade em seus textos, tanto quanto em seus combates. Não há nele ruptura teórica comparável à que separa o jovem Marx do Marx da maturidade. Nem por isso devemos concluir que em seus escritos e em sua ação, ele apenas aplicou a teoria de Marx e de Engels. Ao contrário, sustentamos que a fórmula marxismo-leninismo, independentemente da significação política que lhe foi atribuída para designar, a partir dos anos 1950, os partidos que romperam com a URSS para seguir a doutrina de Mao Zedong, parece-nos ter alcance teórico decisivo. Sem Imperialismo, estágio superior do capitalismo, a história mundial do século XX e do começo do XXI não seria compreensível. Ora os conceitos fundamentais introduzidas por Lênin nesta obra fundamental, a começar pelo de imperialismo, não figuram nos textos dos fundadores. É indispensável, pois analisar o significado desta virada que ele imprimiu na teoria marxista.

Cabe notar inicialmente que, quarenta anos atrás, Michael Lowy apresentou uma interpretação da trajetória teórica de Lênin bem diferente daquela que sustentamos. Num artigo cujo argumento central vem anunciado no título: «Da Grande Lógica de Hegel à estação finlandesa de Petrogrado» (LOWY 1970), ele desenvolve uma ideia cara aos trotskystas, a saber que ocorreu efetivamente uma ruptura teórica no pensamento de Lênin, mas que ela se expressou nas Teses de abril 1917. Segundo ele, a leitura da Lógica de Hegel, iniciada em setembro de 1914, teria levado Lênin a romper com sua visão determinista, mecanicista, da evolução social. Antes de 1914, uma das « primeiras fontes» de seu pensamento filosófico era «o capítulo da Sagrada Família intitulado ‘Batalha crítica contra o materialismo francês’, […] precisamente o único escrito de Marx em que ele ‘adere’ de uma maneira não-crítica ao materialismo francês do século XVIII ». Outro grave sintoma das limitações teóricas de Lênin seria sua adesão ao marxismo de Kautsky, no qual ele se apoia em sua polêmica contra Plekhanov. Enfim, « uma análise minuciosa» de Duas táticas da social-democracia na revolução democrática põe em evidência, em 1906, «a tensão no pensamento de Lênin entre seu realismo revolucionário geral e os limites que lhe impõe o apertado anel de ferro do marxismo que se pretende «ortodoxo» (LOWY 1970, p. 257) .

Se Lowy tivesse voltado ainda mais atrás na cronologia das obras de Lênin, ele teria encontrado a mesma tensão já em 1902. Sabemos com efeito que em Que fazer?, embora  salientando o caráter burguês da revolução, ele atribuiu à classe operária o papel de vanguarda na luta pela democracia . Doze anos, pois antes da leitura aprofundada da Lógica de Hegel, ele mostrou uma dupla audácia dialética. Em primeiro lugar, porque nada é menos « determinista» (no sentido pejorativo em que este termo costuma ser empregado) do que atribuir a uma classe social um papel político decisivo numa revolução que não corresponde a seus interesses históricos maiores. Em segundo, porque a resposta prática à questão colocada no título Que fazer?, a criação de um  órgão político central para toda a Rússia, exprime uma compreensão dialética do combate revolucionário, que articula a consciência socialista, a organização que a concretiza e o programa que sintetiza  seus objetivos. Fazer do «caráter socialista» o gabarito único do programa revolucionário é empobrecer a análise. O programa é uma categoria essencialmente política: ele articula os interesses históricos fundamentais de uma classe social a seus objetivos concretos numa situação determinada. Esses objetivos se determinam no âmbito da densa rede das relações sociais: a política supõe uma visão de conjunto da totalidade social. Isso explica a recorrência da palavra todas em itálico nesta passagem bem conhecida:
“A consciência política de classe só pode ser trazida ao operário do exterior, isto é do exterior da luta econômica[…]. O único domínio de onde se poderia extrair este conhecimento é o das relações de todas as classes e categorias da população com o Estado e o governo, o domínio das relações de todas as classes entre elas. […]  Para levar aos operários os conhecimentos políticos, os socialdemocratas devem dirigir-se a todas as classes da população, devem enviar em todas as direções destacamentos de seu exército” (LÊNIN 1965, p. 431)  .

Lowy sem dúvida conhecia bem estes textos. Por que então, a despeito deles, falar em «anel de ferro da ortodoxia » ? Porque, embora preconizando a ditadura revolucionária dos operários e dos camponeses, Lênin pensava que esta revolução democrática teria caráter burguês (LOWY 1970, p. 258). Os que não se empolgam com a fraseologia revolucionária perguntarão se há, à luz do materialismo histórico, uma maneira de determinar o caráter de uma revolução sem levar em conta o nível de desenvolvimento das forças produtivas e, no caso da Rússia em particular, da lógica da economia camponesa.   

2- O otimismo dos fundadores
O sentido corrente do termo « ortodoxia » é dominantemente pejorativo, mas  sabemos que literalmente ele significa opinião correta. Esta ambiguidade não é fortuita. Quando Lênin qualifica de renegados Kaustky e os outros dirigentes da II International que não se opuseram à guerra, ele se coloca no ponto de vista de uma certa ortodoxia, digamos a do Manifesto comunista. Foi também relativamente a esta ortodoxia que Luigi Cortese bem notou que “até 1914 a lógica da transição ao socialismo estava contida na própria lógica do desenvolvimento capitalista, a qual, em certo sentido, a garantia e a revolução socialista irromperia da plenitude deste desenvolvimento” (CORTESE 1997, p. 244).  É claro o vínculo entre essa convicção otimista de que o curso objetivo da história social ia no sentido da vitória do socialismo e o determinismo no sentido corrente. Lênin partilhava dessa convicção. Em Observações críticas sobre a questão nacional, texto escrito entre outubro e dezembro de 1913, ele sublinhou 
“a tendência histórica do capitalismo a desmantelar as barreiras nacionais, a anular as difereças nacionais, a assimilar as nações, uma tendência que se torna de uma década para outra mais vigorosa e constitui um dos fatores principais para a trasformação do capitalismo em socialismo”. E ainda: “O marxismo substitui a todo nacionalismo o internacionalismo, a fusão de todas as nações numa unidade superior, que se desenvolve sob nossos olhos, com cada novo quilômetro de ferrovia, com cada novo trust internacional, com cada nova associação operária”. (Citado por CORTESE 1997, p. 244, n.1).

Esse otimismo é o mesmo que encontramos na Ideologia Alemã e no Manifesto comunista. Nessas duas obras transparece a ideia de que quanto mais o capitalismo se desenvolve, maior se torna a probabilidade de uma revolução proletária vitoriosa. Na Ideologia Alemã, Marx et Engels marcam a diferença entre sua concepção do comunismo e as utopias coletivistas que proliferavam então nos meios revolucionários europeus, salientando que
“o comunismo não é para nós um estado de coisas (ein Zustand) que deva ser implantado, nem um ideal ao qual a realidade deva se adaptar. Chamamos comunismo o movimento real que abole o presente estado de coisas (den jetzigen Zustand). As condições desse movimento resultam de pressupostos que já existem (der jetzt bestehenden Voraussetzung)”(Marx-Engels, 1978, p. 226) .

Essa tese é suscetível de múltiplas interpretações. Sugere uma visão determinista da história universal, bem como uma concepção espontaneista da dinâmica revolucionária. O comunismo, dizem em síntese, não é um plano de sonhadores bem intencionados, e sim um movimento real. Devemos entender que ele é, como diríamos hoje, um processo objetivo? 

Encontramos a resposta dois anos depois, no Manifesto comunista. Marx e Engels nele esclarecem que « as proposições teóricas dos comunistas não se apoiam de modo algum em ideias ou princípios imaginados ou encontrados por este ou aquele reformador do mundo. Elas constituem somente a exposição geral das condições efetivas de uma luta de classes existente, de um movimento histórico que se desenvolve sob nossos olhos (unter unsern Augen)”. (MARX-ENGELS 1978b, p. 430). A locução adverbial enfatiza o caráter concreto do movimento: ele cai sob nossos olhos, não é uma expectativa que nutrimos no pensamento e na vontade, mas um processo visível para quem se dispuser a olhar para ele. A dinâmica desse processo corresponde à expansão planetária da burguesia. Ela submete em toda parte a produção social de riquezas à lógica objetiva da valorização do capital. Mas corresponde também, na medida em que suprime todas as relações sociais anteriores, à proletarização tendencial de todo trabalho produtivo e consequentemente à polarização da sociedade entre burgueses e proletários. É pois o próprio desenvolvimento do capitalismo que desenvolve as condições de sua superação. Daí a expectativa de que o proletariado rompesse a ordem do capital nos países europeus avançados e instaurasse uma livre associação de produtores, na qual os meios de produção se tornariam patrimônio comum (=comunista) da humanidade.

Essa pretensão radical à objetividade está submetida, como qualquer outra teoria, à prova dos fatos. O programa comunista só se propunha, com efeito, tirar as consequências do movimento objetivo da história social. É verdade que jamais Marx e Engels afirmaram que quanto mais o capitalismo se desenvolvia num país, mais ele se tornava propício à eclosão da revolução proletária. Mas a expectativa da tomada do poder pela classe operária dos países europeus economicamente avançados está claramente presente no Manifesto.

3- Comuna de Paris: o que os fatos provaram?

A expectativa da revolução proletária encontrou na grandiosa e trágica experiência da Comuna de Paris sua primeira concretização histórica.  Sabemos que entre a queda do regime imperial em 2 de setembro de 1870 e a revolução proletária no dia 18 de março de 1871, Marx e Engels manifestaram, tanto publicamente quanto em sua correspondência, o temor de que a bancarrota política e militar do “baixo império” estimulasse alguma “loucura desesperada”, como seria tentar “derrubar o novo governo quando o inimigo golpeia quase nas portas de Paris”. A ponderação se encontra no segundo manifesto da Internacional sobre a guerra franco-prussiana, datado de 9 de setembro de 1870. No dia 6, congratulando-se com Engels pela ida de Serrailler  a Paris, Marx frisou que a presença deste era indispensável num momento em que toda a seção francesa da Internacional se pôs a caminho de Paris para ir lá fazer besteiras em nome da Internacional. “Eles” querem derrubar o governo provisório, estabelecer a Comuna de Paris (itálico nosso) nomear Pyat  embaixador da França em Londres etc.

Entrementes, as secções parisienses da Internacional haviam lançado um manifesto cujo “tom patrioteiro (chauvin) mostrara quanto os trabalhadores franceses ainda estavam sob o domínio da fraseologia vazia e confirma todas as apreensões de Marx e de Engels” . Este, no dia 7, assim as expressou àquele:

Esses homens, que suportaram Badinguet  durante vinte anos, que, seis meses atrás, não puderam impedir que ele obtivesse seis milhões de votos contra um milhão e meio e que sem razão ele os lançasse contra a Alemanha, essa gente exige agora, porque os alemães vencedores lhes deram de presente uma república –e que república!- que os alemães deixem imediatamente o solo sagrado da França, senão : guerra até o fim. Continuam a imaginar como outrora que a França é superior, que seu solo foi santificado em 1793 e que nenhuma das ignomínias praticadas desde então pela França não poderia profaná-la, que a palavra República é sagrada” .
  
Tudo mudou a partir a madrugada de 18 de março, quando Thiers empreendeu traiçoeira tentativa de roubar os canhões que defendiam Paris, para levá-los para longe do povo em armas. Entretanto, executada com incompetente lentidão (faltaram carroças para carregar os canhões), a manobra perdeu o efeito de surpresa. Na colina de Montmartre, onde se encontrava o principal depósito de peças de artilharia, a população, alertada pelas sentinelas da Guarda Nacional, deu o alarme geral. Mesmo as tropas regulares encarregadas do roubo recusaram-se a atirar na multidão. Informado do fracasso, Thiers fugiu de Paris para se refugiar em Versalhes, cidade-palácio dos últimos reis da monarquia absoluta, onde chegou, desmoralizado, no dia seguinte. Os generais Lecomte (que em vão tentara fazer suas tropas atirar no povo) e Clément Thomas (um dos carniceiros da repressão em junho de 1848) foram sumariamente executados pela multidão. A guerra franco-prussiana transformara-se em guerra civil entre burgueses e proletários franceses, aqueles dispondo do que sobrara do Exército imperial, estes contando com a Guarda Nacional. A partir desse momento, para Marx e para Engels, a solidariedade com a Comuna passou adiante de qualquer consideração crítica.

No dia 6 de abril de 1871, três semanas apenas após a tomada do poder pelo proletariado parisiense na gloriosa jornada de 18 de março, em carta endereçada a Wilhelm Liebknecht, Marx expressa a solidariedade irrestrita e a admiração veemente que lhe suscitava o heroico “assalto ao céu” e que o faziam acompanhar com apaixonada concentração cada episódio da grande tragédia histórica que se desenrolava na capital da França, sem contudo perder a lucidez crítica :

“Os parisienses sucumbem, é evidente, e por culpa deles próprios, mas uma culpa que se deve, em suma, a um excesso de honnêteté . O Comitê Central e, mais tarde, a Comuna deixaram a Thiers, esse maléfico aborto , tempo para concentrar as forças inimigas; 1) porque não quiseram, por tolice, começar a guerra civil, como se Thiers não a tivesse primeiro começado ao tentar desarmar Paris pela força, como se a Assembleia Nacional chamada a decidir da guerra ou da paz com os prussianos não tivesse desde logo declarado a guerra à república! 2) Para não serem acusados de ter usurpado o poder, perderam um tempo precioso para eleger a Comuna, cuja organização etc. exigiu tempo, em vez de marcharem sobre Versalhes logo após a derrota da reação em Paris (place Vendôme).
Não creias numa só palavra do que os jornais escrevem sobre os acontecimentos internos de Paris. Não passam de mentiras e imposturas. Nunca essa suja rabiscadura jornalística burguesa tinha se manifestado com tal estardalhaço”.    

Antes de retomar as observações críticas formuladas na semana anterior na carta a Liebknecht (não ter tomado a iniciativa militar e ter perdido, com o processo eleitoral, tempo decisivo para o destino da revolução), Marx chama a atenção, em carta a Kugelmann datada de 12 de abril de 1871, quando o destino da Comuna ainda não estava selado, para a conclusão do 18 Brumário de Luís Bonaparte :

“(nela) saliento, como verás se a releres, que a próxima tentativa da revolução na França deverá consistir não mais em transferir para outras mãos a máquina burocrática militar, como ocorreu até agora, mas em destruí-la. É a condição primeira de qualquer revolução verdadeiramente popular no continente. É também o que tentaram nossos heróicos camaradas de Paris.[…] A história não conhece exemplo tão grandioso. Se sucumbirem, somente a ‘alma bondosa’ deles será a causa.”

A revolução em ato punha em evidência os erros estratégicos. Sem esconder sua inquietação diante dos erros militares dos “communards”, que tornavam previsível o cerco e aniquilamento da insurreição do povo parisiense, Marx replicou a Kugelmann, que em carta de 15 de abril lamentava as duras consequências de uma previsível derrota:

    “A derrota privará novamente o movimento operário de seus chefes, por tempo bastante longo. Não subestime esta desgraça! Em minha opinião o proletariado tem no momento muito mais necessidade de educação do que da luta com armas na mão. Imputar o insucesso a um acaso qualquer não é recair no erro que o 18 Brumário censura de maneira  tão convincente nos pequenos burgueses?” 

ele responde, em 17 de abril, que “seria evidentemente muito cômodo fazer a história se só devêssemos travar a luta com chances infalivelmente favoráveis”.

Entre os muitos textos que Marx escreveu durante a febril agitação do grande combate histórico, estão além das cartas diretamente enviadas a dirigentes do proletariado revolucionário (Serrailler, Frankel , Varlin ), quase todas perdidas, três cartas preservadas para correspondentes alemães, dois «ensaios de redação» de A guerra civil na França, o primeiro, redigido provavelmente em abril e início de maio de 1871, o segundo antes do massacre desencadeado em 21 de maio, já que Marx nele se refere ao previsivelmente trágico desfecho como ainda não tendo ocorrido (diz “se eles vencerem” referindo-se a Thiers e sócios) e, enfim, o Pronunciamento (Adresse) do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT ou Primeira Internacional), texto final escrito entre 21 e 30 de maio, durante e logo após a “semana sangrenta”. Em A guerra civil na França, Marx oferece um bem desenhado retrato dos protagonistas, entre os quais o de Thiers, « gnomo maligno» (MARX Karl 1968a, p. 182), uma análise concreta da da correlação de forças, das medidas de interesse coletivo adotadas pela Comuna, do que estava em jogo na grande tragédia parisiense e, sobretudo, ele salientou a radical socialização do poder político realizada por esta primeira expressão histórica do poder proletário. Não escondeu, entretanto sua inquietação diante dos erros militares dos « Communards », que faziam prever o cerco e o aniquilamento da insurreição do povo de Paris.

O próprio Marx, entretanto, em alguma medida relativizou, exatamente a propósito da Comuna, a afirmação do caráter irreversivelmente terrorista do Estado burguês. Em carta pouco citada, sem dúvida por suscitar alguma perplexidade, que enviou em 22 de fevereiro de 1881 à social democrata holandesa F. Domela-Nieuwenhuls (MARX/ENGELS, 1971a, pp. 347-349) , ele comentou a experiência revolucionária de 1871 em termos mais secos:
“[…] abstração feita de que se tratava de uma simples sublevação de uma cidade em condições excepcionais, a maioria da Comuna não era socialista e nem podia sê-lo. Com um mínimo de bom senso, ela poderia entretanto ter obtido de Versalhes um acordo útil a toda a massa do povo, única coisa que era possível atingir naquele momento. Se tivesse se apropriado do Banco da França, ela teria logrado assustar os falastrões de Versalhes”. (MARX, ENGELS, 1971a p. 348).

A diferença de tom é evidente, mas o comentário, com dez anos de distância, é pertinente. Imaginar que a Comuna poderia ter integralmente triunfado, consolidando o poder operário na França, entre a rainha Vitória e Bismarck, é levar o otimismo bem mais além do que permite um raciocínio estratégico minimamente comprometido com a espessura dos fatos. Segue-se que, se um triunfo completo estava fora do horizonte histórico, alguma negociação se impunha. Se tivessem conquistado Versalhes e se apoderado do ouro do Banco da França, os “communards” poderiam talvez ter tido destino mais propício do que o massacre.

4- Comuna, ditadura do proletariado, II Internacional. 

No Pronunciamento, que é a versão definitiva de A guerra civil na França, Marx expôs as características essenciais do poder político revolucionário da Comuna de Paris:
“A Comuna foi composta de conselheiros municipais, eleitos pelo sufrágio universal nos diversos bairros (arrondissements) da cidade. Eram responsáveis (por seus atos) e revocáveis a qualquer momento. A maioria de seus membros eram, obviamente, operários ou representantes reconhecidos da classe operária. A Comuna devia ser não um organismo parlamentar, mas um corpo em ação, ao mesmo tempo executivo e legislativo.[…] a polícia foi imediatamente despojada de seus atributos políticos e transformada num instrumento da Comuna, responsável e a qualquer momento revocável. O mesmo ocorreu com os funcionários de todos os outros ramos da administração. Dos membros da Comuna até os escalões inferiores, a função pública devia ser exercida mediante salários de operários”. (Marx, 1968a, pp.41-42).

Ultrapassagem radical da separação liberal dos poderes entre um executivo burocrático e um parlamento de falastrões, a Comuna aboliu a categoria da “representação” (=transferência aos “representantes” do poder dos “representados”). Meros mandatários, os conselheiros municipais não eram donos de seus mandatos, podendo ser destituídos em qualquer tempo pelo povo soberano. As funções públicas, políticas ou administrativas, remuneradas com salários equivalentes aos dos operários, deixavam de ser uma sinecura.

A essa primeira configuração histórico-concreta do poder revolucionário do proletariado, Marx contrapôs no “Segundo ensaio de redação” de A guerra civil na França, uma visão sombria das instituições políticas burguesas. Retomando a análise desenvolvida vinte anos antes no 18 Brumário sobre a centralização burocrática do Estado francês, ele argumentou que a dominação burguesa exigia o “império”, isto é, a ditadura policial-militar de Napo¬leão III (e, por extensão, a forma ditatorial-militarista e policialesca do Estado capitalista):

“O Estado, que parece ter se erguido acima da sociedade civil, torna-se ao mesmo tempo a estufa de todas as corrupções dessa sociedade. Seu completo apodrecimento e o apodrecimento da sociedade que ele devia salvar foram desnudados pelas baionetas da Prússia, mas esse regime imperial é a tal ponto a forma política inevitável da ‘ordem’, a ordem da sociedade burguesa, que a própria Prússia só pareceu destruir sua sede central em Paris porque a estava transferindo para Berlim. O Império não é somente, como seus predecessores, monarquia legítima, monarquia constitucional e república parlamentar, uma das formas políticas da sociedade burguesa; ele é ao mesmo tempo sua forma mais prostituída, mais acabada e a última. É o poder de Estado da dominação de classe na época moderna, pelo menos no continente europeu”. (Marx, 1968a, pp. 272-273). 

Sem dúvida, o momento em que este texto foi redigido, quando o círculo de fogo contra revolucionário se fechava implacável sobre os “communards”, deixando claro qual seria o terrível desfecho, contribui para explicar o caráter definitivo que ele atribui ao “regime imperial” enquanto forma política do poder burguês. Sabemos entretanto que a previsão não se confirmou inteiramente: a dominação de classe na época moderna, no continente europeu e alhures, assumiu outras formas de Estado. Na França, a república parlamentar institucionalizou-se sobre a paz de cemitério imposta pelo massacre dos “communards”, mostrando-se compatível com a conservação das relações capitalistas de produção. Mas o texto aponta com lucidez para o caráter intrinsecamente violento da máquina estatal burguesa, confirmado na monstruosa carnificina de 1914-1918, no fascismo, no nazismo, nos horrores do colonialismo, na nova carnificina europeia de 1939-1945 e em nossos dias na chuva de mísseis que as burguesias do “Ocidente”, atreladas ao cartel bélico da Otan na condição de sócios menores do Pentágono, fazem chover periodicamente sobre os países recalcitrantes da periferia.

Coube a Engels, que sobreviveu doze anos a seu grande amigo e parceiro, tirar as conclusões teórico-programáticas e táticas da nova situação. Já não era mais possível considerar a república a forma política da transformação social no continente europeu, como fizera Marx no 18 Brumário. Ela representa, sem dúvida, um avanço relativamente às formas imperiais do poder de Estado, resultantes, como o Reich alemão, da centralização monárquica de um poder de origem feudal, ou, como o II Império francês, da manipulação reacionária de plebiscitos. Mas, como ele observa no final da Introdução à edição alemã de 1891 de A guerra civil na França (em que presta homenagem aos vinte anos da epopeia de 1871, cujo desenrolar acompanhara, como Marx, passo a passo), referindo-se especialmente à Alemanha de então, onde prosperava
“[..] a veneração supersticiosa pelo Estado e por tudo que a ele se refere”: “Acreditam ter dado um passo prodigiosamente audacioso ao se libertarem da fé na monarquia hereditária e entusiasmarem-se pela república democrática. Na realidade, porém, o Estado nada mais é do que uma máquina para a opressão de uma classe por outra e isso, bem entendido, não menos numa república democrática (nós grifamos) do que na monarquia[…]”. Mas é na peroração final dessa Introdução que Engels formula a mais importante lição histórica da epopeia dos “communards”: “Ultimamente o filisteu social-democrata foi tomado de um terror sagrado ao ouvir pronunciar a expressão ditadura do proletariado. E bem, senhores, querem saber com o que se parece essa ditadura? Olhem para a Comuna de Paris. Era a ditadura do proletariado”. (Engels,1968, pp. 301-302).

Engels voltou ainda a se referir à Comuna em 1895, ano de sua morte, na Introdução a As lutas de classe na França 1848-1850, coletânea de artigos de Marx que até então não tinham sido reunidos em forma de livro. Com um olho posto nos franceses e outro nos alemães ele analisa a tática do movimento operário à luz de meio século de combates, de Paris em 1848 e 1871 a Berlim em 1895, notando que, longe de enterrar definitivamente o proletariado combativo, como alguns tinham acreditado, a Comuna de Paris a guerra franco-alemã foram o ponto de partida de seu mais formidável desenvolvimento:
“A completa transformação de todas as condições da guerra pelo recrutamento de toda a população apta a empunhar as armas em exércitos cujos efetivos se contam por milhões, as armas de fogo, os obuses e os explosivos de efeito desconhecido até então[…] puseram bruscamente fim ao período das guerras bonapartistas e asseguraram o desenvolvimento industrial pacífico, tornando impossível qualquer guerra que não seja uma guerra mundial de inédita crueldade e cujo desfecho  seria absolutamente incalculável” (Engels, 1974, pp. 22-23). 

A estupenda compreensão histórica de Engels permitiu-lhe vislumbrar, dezenove anos antes do desencadeamento da grande carnificina liberal-imperialista, a dimensão mundial e a “inédita crueldade” que assumiria “uma guerra mundial”. (Que diria de Hiroshima e de Nagasaki?). Mas, no horizonte histórico da Europa de 1895, parecia razoável supor que o poder destrutivo das novas armas exerceria efeito dissuasivo sobre os meios militaristas das potências europeias, exorcizando o horrível espectro do triunfo universal da morte e tornando plausível a hipótese de um “desenvolvimento industrial pacífico”. O efeito dissuasivo das novas armas afetaria também o recurso à insurreição por parte das massas proletárias. «Outrora, havia as relativamente pouco eficazes balas e obuses da artilharia; atualmente há os obuses de percussão dos quais basta um só para estraçalhar a melhor barricada» (Engels, 1974, p. 29). O novo urbanismo dos grandes “boulevards” tinha também contribuído para tornar bem mais difíceis os combates de rua. « Seria insensato o revolucionário que escolhesse os novos distritos operários do norte e do este de Berlim para um combate de barricadas» (Engels, 1974, p.30).

Entretanto, o avanço eleitoral do partido socialista alemão, que se servia melhor do que os franceses do sufrágio universal, aceito por Bismarck em 1866, parecia ter afastado essas perspectivas catastróficas. Ao esmagamento da Comuna de Paris, os proletários alemães tinham respondido pela resistência pacífica e pelo combate eleitoral. « Mostrando a seus camaradas de todos os países como servir-se do sufrágio universal, eles lhes tinham fornecido uma nova arma das mais afiadas» (Engels, 1974, p.24). Com efeito, após resistir vitoriosamente aos doze anos de ilegalidade (1878-1890) a que os tinha condenado a lei de exceção de 1878, os socialdemocratas tinham se tornado um grande partido de massa. Já em 1890, obtiveram a maior porcentagem dos votos para o Reichstag (19,8%); em 1893, atingiram 23,4%. Um revolucionário deve ser otimista. A possibilidade de levar adiante o combate pelo socialismo pela via da luta de massas e da disputa do voto pouparia à população as inevitáveis atrocidades da guerra. Como não saudar essa perspectiva? Por isso, analisando concretamente a situação concreta, ele considerou tática correta, para a Alemanha de então, a participação nas eleições e não as formas armadas e insurrecionais de luta. Mas o otimismo socialista não o fez perder de vista a possibilidade de conjunturas históricas mais sombrias. Sabia muito bem que no plano dos princípios, as alternativas insurreição ou voto, luta armada ou luta pacífica, são táticas, posto que concernem aos meios (forma de luta e de organização) e não aos fins (o programa comunista), mas também que meios e fins se interpenetram dialeticamente na lógica da ação, tornando fugidia e imprecisa a linha divisória entre decisão tática e objetivo programático.

A evolução política europeia no final do século XIX permitia esperar que a luta pacífica, por meio da qual o movimento operário alemão obtivera notáveis vitórias eleitorais, tivesse um longo futuro. Sabendo entretanto que só a situação concreta pode indicar a melhor tática a seguir, Engels evita fórmulas peremptórias e generalizações apressadas. Dessa necessária cautela aproveitaram-se os oportunistas de então para deturpar sua análise. Cortaram do texto da Introdução tudo aquilo que não convinha à tese de que a luta política da classe operária deveria circunscrever-se no âmbito da legalidade burguesa, atendo-se aos métodos eleitorais, de maneira a sugerir insidiosamente que era essa a lição que Engels tinha tirado do massacre da Comuna. Este, porém, viveu ainda o suficiente para desmascará-los. Primeiro numa carta de 1º de abril de 1895, endereçada a Kautsky:

“Vejo hoje com espanto no Vorwaerts (órgão central da social-democracia alemã, do qual W. Liebknecht era o chefe de redação), um extrato de minha introdução, reproduzido sem meu conhecimento e arranjado de maneira a me fazer aparecer como um adorador da legalidade a qualquer preço.  Por isso tanto maior é meu desejo de que a introdução apareça sem cortes em Neue Zeit (órgão teórico da socialdemocracia alemã) afim de que esta impressão vergonhosa seja apagada. Direi muito claramente a Liebknecht minha opinião sobre este assunto, bem como àqueles, sejam quem forem, que lhe deram esta ocasião de desnaturar minha opinião” (Carta a Kautsky; nós grifamos).

Em 3 de abril, numa carta em francês enviada a Paul Lafargue, ele desenvolve a crítica e fixa sua posição:
“W.[Liebknecht] acaba de me pregar uma bela peça (“joli tour”). Ele extraiu de minha introdução aos artigos de Marx  sobre a França de 1848-1850 tudo que pode lhe servir para sustentar a tática a todo custo pacífica e anti violenta que lhe apraz defender, há algum tempo[…]. Mas essa tática, eu só a preconizo para a Alemanha de hoje e ainda assim com muita reserva. Para a França, a Bélgica, a Itália, a Áustria, essa tática não poderia ser inteiramente seguida e, para a Alemanha, ela poderá amanhã se tornar inaplicável” .

A força, com efeito, é a «ultima ratio» da dominação de classe; o grau de violência da luta política é menos uma escolha dos oprimidos do que uma imposição das classes dominantes. Renunciar por princípio a responder pela violência das massas à violência dos opressores é renunciar unilateralmente a um meio ao qual a burguesia não hesita em recorrer em momentos decisivos. Menos de vinte anos após a morte de Engels, justificando “a posteriori” sua firmeza contra os semeadores de ilusões, o culto pacífico da legalidade a qualquer preço transformou-se, pela dialética perversa do oportunismo social democrata, em social-patriotismo belicoso.

5- Diante da catástrofe de 1914

É de Luigi Cortese a melhor análise que conhecemos sobre os efeitos que a erupção da grande guerra entre os Impérios centrais e os imperialistas franco-ingleses, aliados à Rússia czarista, provocaram no pensamento de Lênin. O dilúvio de chumbo, aço e fogo que mudou brusca e catastroficamente o curso da história nele suscitaram, segundo Cortese, “uma série de contragolpes que fortaleceram elementos já presentes, mas também […] encaminharam-no para direções novas”. Até 1914, com efeito, “a lógica da transição para o socialismo estava incluída na própria logica do desenvolvimento capitalista, que em certo sentido a garantia, e a revolução socialista eclodiria da plenitude daquele desenvolvimento”; com o desencadeamento da guerra, Lênin, que até então via o curso histórico provável da revolução proletária com otimismo não menor do que o do restante da II Internacional, compreende que aquela lógica tinha sido rompida “porque a plenitude do desenvolvimento capitalista coincidia com uma crise que estava ameaçando a essência mesma da civilização humana moderna” (Cortese, 1997, p. 244). Com efeito, como distingui-la da barbárie moderna?

Um texto importante escrito em fins de 1913, “Observações críticas sobre a questão nacional”, deixa clara a confiança que Lênin ainda mantinha na hipótese otimista da II Internacional. Ele aí enfatiza
“a tendência histórica universal do capitalismo à destruição das barreiras nacionais, a assimilar as nações, uma tendência que se torna de década em década mais vigorosa e constitui um dos fatores principais para a transformação do capitalismo em socialismo”. Acrescenta: “O marxismo substitui a cada nacionalismo o internacionalismo, a fusão de todas as nações numa unidade superior, que se desenvolve sob nossos olhos, com cada novo quilômetro de ferrovia, com cada novo trust internacional, com cada nova associação operária” (Lênin,1959, p.21).

A guerra entre as grandes potências europeias reduziu a lava e a magma ensanguentados aquelas exaltantes esperanças. Para reconstruí-las, cumpria antes de mais nada discernir, em plena carnificina, as linhas de ação que permitiriam travar a guerra contra a guerra, isto é, a guerra de classes contra a guerra imperialista. Cumpria também, além da denúncia do fato consumado da traição social democrata, analisar os fatores objetivos que explicassem a deflagração do confronto bélico generalizado, cuja possibilidade Engels havia discernido em 1895, mas que como vimos, ele considerara improvável. A estatura histórica e intelectual de Lênin assumiu toda sua grandeza quando ele enfrentou vitoriosamente essas gigantescas tarefas históricas.

Segundo Lowy, a traição social democrata provocou em Lênin impacto mais profundo do que o próprio desencadeamento da guerra. Prisioneiro da ortodoxia determinista, ele teria nutrido «ilusões » a respeito da II Internacional (LOWY 1970, p. 259). Tanto assim que quando lhe mostraram um exemplar do Vorwärts do dia 4 de agosto de 1914, noticiando que a social democracia alemã tinha votado a favor do orçamento de guerra, ele bradou: « -Isso é um boato do estado maior alemão!». A explicação que Lowy propõe é pois bem simples: a ortodoxia determinista explica as ilusões de Lênin e estas sua surpresa diante da traição cometida pela II Internacional. 

Sem dúvida, é difícil saber qual das duas, a guerra ou a traição, exerceu efeitos mais catastróficos sobre as perspectivas otimistas do movimento operário internacional. Obviamente, sem a guerra, o social-patriotismo não teria tido ocasião de prosperar. Mas de outro lado, se os dirigentes social democratas tivessem encorajado a massa dos trabalhadores a resistir ao destino de carne de canhão na guerra imperialista, esta poderia ter sido, se não evitada, pelo menos limitada em seu alcance e em sua duração.

Em qualquer hipótese, não se negar que durante os dois anos que precederam a guerra, os melhores dirigentes da II Internacional desenvolveram um grande esforço de mobilização das massas operárias pela paz. « O ano de 1912, relembra Louis Aragon, tinha registrado brilhantes sucessos para o socialismo internacional. Na primavera, as eleições alemãs tinham tornado o partido social democrata o maior do Reichstag. O socialista Scheidemann tinha-se sentado na cadeira presidencial dessa Assembleia» (ARAGON 2005, p.417). Foi pois numa atmosfera de entusiasmo internacionalista que se desenrolou, no final de novembro, o Congresso de Basileia pela paz. Entre os dirigentes que tomaram a palavra, Clara Zetkin suscitou a mais forte emoção. Vinculando a confiança no futuro às lutas do presente, ela se dirigiu em especial às mulheres socialistas: 
« Se nós, as mães, inspirarmos em nossos filhos o ódio o mais profundo pela guerra, se implantarmos neles, desde a primeira juventude, o sentimento, a consciência da fraternidade socialista, então virá o tempo em que, na hora do perigo mais iminente, não haverá na terra poder capaz de arrancar esse ideal de seus corações. Então, no tempo do perigo e do conflito o mais terrível, eles pensarão primeiro em seu dever de homem e de proletário» (ARAGON 2005, p. 436).

A coragem unida à lucidez dá consistência à esperança. Na França, Jean Jaurès, o dirigente socialista mais respeitado pelas massas populares, tinha constantemente alertado, em seus livros, em seus artigos de L’Humanité (jornal do qual foi fundador e diretor até a morte), em seu combate de deputado, nos grandes meetings pela paz em que foi o orador principal, contra a maré montante do belicismo e exortado os trabalhadores a não se deixar levar pelo otimismo desmobilizador dos que, confiantes na marcha inexorável do mundo para o socialismo, subestimavam os graves perigos do momento. O extremista de direita que o assassinou na tarde de 31 de julho de 1914, quando a guerra explodia, explicou à polícia, para comprovar que matara «um traidor do país», que Jaurès tinha « combatido a lei dos três anos» .

A traição social democrata ao compromisso solene de lutar contra a guerra e de não permitir que as burguesias dos países beligerantes se servissem de “seus” trabalhadores como carne de canhão, introduzira no movimento operário europeu uma amarga e duradoura ruptura. Por isso mesmo, o fato de que o patriotismo belicoso tenha em toda parte levado a melhor sobre o internacionalismo, bem como a ilusão de que a guerra seria rápida, merecem uma análise aprofundada.

Em toda a Europa, os povos sofreram rígido enquadramento militar. O fato de que as massas operárias, em vez de seguir Clara Zetkin e Jaurès, tenham-se deixado empurrar para os enormes matadouros do front mostra antes de mais nada o brutal poderio da máquina do Estado. As deserções eram punidas com penas severíssimas, frequentemente com fuzilamento. Quanto aos partidos e aos dirigentes, embora o pior papel tenha sido exercido pela socialdemocracia alemã, que foi a primeira a renegar os solenes compromissos assumidos perante a Internacional, ao votar no Reichstag a favor do orçamento de guerra do Kaiser, as demais seções nacionais da II Internacional tiveram comportamento semelhante. Jules Guesde, ao lado de Jaurès o maior nome do socialismo francês, não somente aderiu à “Union sacrée” (bloco bélico de todos os partidos para enfrentar a Alemanha) mas foi ministro do governo de guerra de 1914 à 1916 . Apesar de carregar o epíteto de renegado, Kautsky não foi tão longe na trilha do social-patriotismo.

Nada é menos dialético do que reduzir um fato histórico complexo a uma explicação simples. Quando tantos se comportam como traidores, os fatores morais e psicológicos perdem importância relativamente aos fatores políticos e econômicos. Mesmo porque a traição cometida pela grande maioria dos dirigentes da socialdemocracia europeia explica a fraca resistência operária à guerra, mas não a própria guerra. Tampouco parece-nos que o caráter “determinista” do marxismo de Kautsky (em cujo “anel de ferro” Lênin teria, segundo Lowy, permanecido muitos anos) possa contribuir para explicar sua capitulação política de 1914. Sua posição filosófica determinista permaneceu a mesma tanto durante seu internacionalismo de muitas décadas quanto após aderir ao social-patriotismo.

No que concerne ao impacto que a imensa tragédia desencadeada durante a última semana de julho de 1914 (bombardeio de Belgrado pelos austríacos, mobilizações gerais e declarações multilaterais de guerra dos dois lados) exerceu sobre Lênin, merece referência o relato biográfico de Curzio Malaparte, escrito bem antes dele aderir ao comunismo . Durante o mês de julho de 1914, acompanhado por sua mulher, por Zinoviev e alguns outros camaradas, Lênin viajara para a zona montanhosa da Polônia, como já o fizera no verão de 1913. Estava instalado numa aldeia perto de Zakopane, nos Cárpatos, quando a guerra estourou. Detidos pela polícia austríaca, ele e Zinoviev foram conduzidos à fronteira da Suíça duas semanas depois. Quem leu Kapput ou A pele sabe que em Malaparte a imaginação do romancista ultrapassa livremente a fronteira entre o observado e o imaginado. Mais qualquer que seja o grau de invenção literária de seu retrato de Lênin desembarcando em Berna, há nele sem dúvida alguma verdade histórica :
«os que encontraram Vladimir Ilitch em sua chegada a Berna não podiam reconhecer nesse homem recurvado, de fisionomia pálida, com os olhos assustados, as mãos trêmulas, o líder bolchevique de Genebra, de Londres e de Paris, de gestos vivos, de riso estridente. Lênin não tinha previsto a guerra. Até o último momento, é o próprio Zinoviev que o diz, ele tinha mantido a confiança na socialdemocracia alemã e na segunda Internacional ». E acrescenta: « Muitos de seus camaradas, escreveu Zinoviev, estavam impressionados com a mudança que a guerra tinha produzido nele. A própria expressão de sua fisionomia tinha-se transformado»; (MALAPARTE, 1932, p.230).

6- A mais grandiosa revolução

Admitindo, apenas por hipótese, que a surpresa, decepção e abatimento de Vladimir Ilitch diante da traição cometida pela II Internacional tenham sido tão profundos quanto pretende Malaparte, foi admirável a rapidez com que ele recuperou sua energia habitual. Durante sua permanência na Suíça, ele consagrou-se a elaboração de Imperialismo, estágio superior do capitalismo, para a qual a leitura do inglês Hobson e do marxista alemão Hilferding (mais tarde assassinado pelos nazistas) foi sem dúvida muito mais importante do que a de Hegel. Para ter uma ideia do alcance da inflexão teórica imprimida ao marxismo por Lênin nessa obra decisiva, basta notar que a noção de imperialismo não faz parte do vocabulário de Marx e de Engels e que eles empregam o termo colônia em sentido certamente distinto (senão oposto) ao que ele assumirá a partir da Revolução de Outubro. A esse respeito, o marxista estadunidense James O’Connor notou que, além do breve capítulo final do livro I, são muito raras as referências do Capital à economia do colonialismo (O’Connor, 1970, p. 107). Para que fosse exato, deveria ter esclarecido que no referido capítulo (XXXIII) Marx discute a “teoria moderna da colonização” na perspectiva histórica da expansão planetária do capitalismo, sem sequer se servir do termo colonialismo, que também não figura em seu vocabulário. Seu tema era outro: a proletarização do campesinato.

Identificando as novas linhas de força do modo capitalista de produção chegado à maturidade, Lênin tornou a teoria marxista plenamente capaz de compreender o século XX. Sua radical ruptura com o eurocentrismo da II Internacional fica evidente nas cinco características principais que discerne na transformação imperialista do capitalismo. As duas primeiras concernem à lógica objetiva do modo de produção capitalista enquanto tal (concentração monopolista da produção, interpenetração do capital bancário e do capital industrial, conduzindo à dominação da oligarquia financeira), mas as três últimas remetem à dominação dos países coloniais pelo imperialismo: preponderância da exportação de capitais sobre a de mercadorias; partilha do monde entre os agrupamentos capitalistas; conclusão da partilha territorial do planeta entre as grandes potências. Assim pois, a imensa periferia colonial deixava de ser teoricamente periférica. 

Sintomaticamente, não há alusão à teoria do imperialismo no artigo de Lowy, como se fosse possível falar seriamente da evolução (segundo ele da mudança filosófica radical) do pensamento de Lênin entre 1914 e 1917 sem levar em conta a obra econômica marxista mais importante do século XX?  Ainda mais sintomática é a  omissão da Revolução de fevereiro na explicação que Lowy propõe da virada da política bolchevique preconizada por Lênin ao desembarcar na estação finlandesa de Petrograd em abril de 1917. Segundo ele,
« liberado do obstáculo representado pelo marxismo pré-dialético (sic), Lênin pôde, sob o impulso dos acontecimentos, desembarassar-se rapidamente de seu corolário político: o princípio abstrato e enrigecido segundo o qual « a revolução russa só pode ser burguesa- a Rússia não está  economicamente madura para uma revolução socialista» (LOWY 1970, p. 263) .

À parte a vaga e um tanto acaciana alusão ao «impulso dos acontecimentos», Lowy dá a entender que a leitura de Hegel em 1916 constitui explicação suficiente da grande virada de março-abril, que conduziu em outubro à tomada de todo o poder pelos soviets. Nessa visão livresca do combate revolucionário, que ignora a derrubada da autocracia tzarista, a questão decisiva é taxonômica: eram pré dialéticos os marxistas (mesmo os mais firmes bolcheviques) que declaravam burguesa a revolução vindoura na Rússia; dialéticos aqueles (mesmo se fossem mencheviques) que a declaravam socialista.

Para Lênin, em vez disso, a questão decisiva não concernia à taxonomia.  A revolução de fevereiro instaurou uma nova situação política, que exigia uma mudança igualmente radical do programa e da tática dos bolcheviques. Ele a explicitou nas Teses de Abril, aliás As tarefas do proletariado na presente revolução (o texto foi publicado em Pravda de 7 de abril de 1917): « O que há de original na situação atual é a transição da primeira etapa da revolução, que deu o poder à burguesia […] a sua segunda etapa, que deve dar o poder ao proletariado e às camadas pobres do campesinato». (LÊNIN 1966, p.12).

A questão foi retomada num pequeno mas decisivo artigo sobre a dualidade do poder  publicado em 9 de abril de 1917 em Pravda: «ao lado[…] do governo da burguesia, formou-se um outro governo […] são os soviets dos deputados operários e soldados», o qual, considerado quanto a sua composição de classe, é uma ditadura revolucionária do proletariado e dos camponeses ( sob o uniforme do soldado » (LÊNIN 1966, p.28).  Rigorosamente e sem hesitar, ele tirou as consequências de sua análise da dualidade de poder instaurada pela revolução de fevereiro: era preciso derrubar o governo burguês. A palavra de ordem central da grande Revolução de Outubro não consistiu em afirmar que seu caráter seria socialista e sim “todo o poder aos soviets”.  Foi essa a audácia que surpreendeu mesmo os velhos militantes bolcheviques. 

Lowy, na trilha de Trostky, atribui papel litúrgico às Teses de Abril. Que elas marcam uma inflexão decisiva no programa dos bolcheviques, é evidente.  Mas ela foi decisiva porque mobilizou o Partido na luta pelo poder: já que só o programa bolchevique podia satisfazer as aspirações as mais básicas e urgentes da grande maioria do povo russo, era preciso marchar para uma nova revolução e, para tanto, tirar dos mencheviques e dos socialistas revolucionários o controle dos soviets. As grandes palavras de ordem da propaganda bolchevique «a paz, o pão, a liberdade completa» (LÊNIN 1966, p. 30), nada tinham de especificamente socialista. Mesmo após suas leituras hegelianas, Lênin não pretendia instaurar por decreto uma economia socialista. É o que ele tinha sublinhado nas Teses de abril : «Nossa tarefa imediata não é «introduzir» o socialismo, mas unicamente passar desde logo ao controle da produção social e da distribuição dos produtos pelos soviets dos deputados operários». (LÊNIN 1966, p. 14).

Com efeito, as grandes medidas econômicas decretadas de imediato pela República dos Soviets foram o confisco, sem indenização, das grandes propriedades fundiárias (26 de outubro de 1917, calendário ortodoxo) e a estatização dos bancos (27 de dezembro de 1917). Mais tarde, face à guerra civil, estatizaram-se o comércio exterior (2 de maio de 1918), a indústria petrolífera (20 de junho de 1918), seguida pelo restante da grande indústria (28 de junho de 1918). Nenhuma dessas medidas abolia radicalmente as relações burguesas de produção. A distribuição da terra aos camponeses deixava aberta a porta para o desenvolvimento das relações de mercado. Mesmo as nacionalizações de junho de 1918, que sem dúvida configuravam passos adiante rumo a  uma economia socialista, não correspondiam à execução de um programa pré estabelecido de coletivização integral da indústria, mas visavam, no quadro do «comunismo de guerra », a tirar da burguesia os setores chave da produção.

7- A heterodoxia leninista
Confirmando a grande esperança de emancipação social da humanidade anunciada por Marx e Engels em 1848, a Revolução de Outubro apresentou pelo menos dois componentes fortemente heterodoxos: o partido de vanguarda (organização revolucionária “de tipo novo” relativamente à Liga dos comunistas em cujo nome Marx e Engels tinham redigido o Manifesto) e a aliança da classe operária com o imenso campesinato russo, construída no programa e na ação pela lúcida e audaciosa política dos bolchevistas sob a direção do grande Lênin, que trouxe aos camponeses a paz e a terra.
A possibilidade de tal aliança, decisiva para o triunfo da revolução (e não apenas na Rússia, já que, vale lembrar, os soldados que esmagaram a Comuna de Paris eram de extração camponesa), sequer é considerada no Manifesto. Ao contrário, o camponês (der Bauer) é aí apresentado, com os outros estamentos médios (Mittelstände), como “conservadores, mais ainda, reacionários, já que tentam virar para trás a roda da História” (MARX-ENGELS 1978b, p.427). Sabemos que não foi esta a última palavra de Marx e de Engels sobre os camponeses. Mas justamente, as retificações que trouxeram mais tarde foram sempre no sentido de enfatizar a importância da aliança da classe operária com outras forças sociais potencialmente anticapitalistas. Assim, em 1875, criticou acerbamente, entre outros “absurdos” do programa do partido operário social democrata alemão adotado no congresso de Gotha, a tese de que “face à classe dos trabalhadores, “todas as outras classes não passam de uma massa reacionária”.  Esclarece que as camadas médias e os camponeses são reacionários na medida em que travam contra a burguesia, para preservar “todas suas posições sociais decorrentes de modos de produção obsoletos”, uma luta condenada ao fracasso porque o avanço da grande indústria (capitalista) é inexorável. Mas podem se tornar revolucionários na medida em que se proletarizam. Vale dizer: deixam de ser reacionários e podem se tornar revolucionários na medida em que deixam de ser camadas médias e  camponeses. Ainda não está contemplada, portanto, na Crítica ao programa de Gotha, a possibilidade da aliança da classe operária com os camponeses enquanto tais. Ela  será reconhecida na carta de  8 de março de 1881 a Vera Zasulich, em que após ter lembrado que no Capital a «fatalidade histórica» da « expropriação dos cultivadores» foi « expressamente restringida aos países da Europa ocidental», Marx concorda com a tese de que a comuna rural “é o ponto de apoio da regeneração social na Rússia” (MARX-ENGELS 1971, p.349-350) . 

A classe operária triunfou na Rússia porque garantiu aos camponeses a paz e a terra, livrando-os de uma só vez da hecatombe nas trincheiras da “Grande Guerra” e da exploração dos grandes agrários. Assim, a formação do primeiro Estado operário simultaneamente confirmou e retificou as perspectivas de uma revolução proletária internacional. Enquanto durou o exaltante influxo da Revolução de Outubro, os dirigentes soviéticos, tanto quanto os do movimento operário revolucionário europeu, interpretaram a “retificação bolchevista” como mero desvio de rota relativamente ao curso da revolução proletária previsto no Manifesto. Viram nela a confirmação da ortodoxia por meios heterodoxos. Continuaram confiantes em que, rompido o elo mais fraco do capitalismo, o proletariado logo conquistaria o poder nos países economicamente mais avançados: o grande rio da História voltaria a seu curso normal. Tanto assim que Lênin, em geral comedido e sóbrio em suas previsões, concluiu o discurso de encerramento do Congresso de fundação da Internacional Comunista, em 6 de março 1919, com a solene declaração de que estava próxima a hora da fundação da República Mundial dos Soviets (LÊNIN 1961a, p.501). A previsão pode, “ex post”, parecer excessivamente otimista. Mas em 1919, era objetivamente possível fazer o mundo mudar de base. Os dirigentes da Rússia revolucionária e do movimento comunista internacional tiveram pois razão de considerar que estavam diante do prelúdio da vitória do proletariado na Europa central e ocidental. Dezesseis meses depois, em 19 de julho de 1920, Lênin reiterou aquela proclamação no final de seu Relatório sobre a situação internacional apresentado na sessão de abertura do II Congresso da Internacional Comunista: «[…]se nossos camaradas de todos os países nos ajudarem agora a organizar um exército único, nada mais poderá nos impedir de completar nossa obra. Esta obra é a revolução proletária universal, a criação da República universal dos Soviets» (LÊNIN 1961b, p. 241).

Estar convencido da proximidade da revolução mundial não impediu Lênin de dirigir o olhar para a periferia colonial no Relatório da Comissão Nacional e Colonial, que ele apresentou uma semana depois, em 26 de julho de 1920, ao mesmo Congresso. A «ideia essencial» das teses da Comissão é «a distinção entre os povos oprimidos e os povos opressores». Esta distinção, ausente do vocabulário e do pensamento de Marx e de Engels (já que ela decorre em linha reta da teoria do imperialismo), exprime a mais larga contradição da humanidade:
« O traço característico do imperialismo é que o mundo inteiro[…]se divide atualmente num grande número de povos oprimidos e um número ínfimo de povos opressores, que dispõem de riquezas colossais e de uma poderosa força militar. Estimando a população total do globo em um bilhão e três quartos, a imensa maioria, compreendendo muito provavelmente um bilhão duzentos e cinquenta milhões de seres humanos […], pertence aos povos oprimidos, os quais ou se encontram colocados sob um regime de dependência colonial direta, ou constituem Estados semicoloniais, como a Pérsia, a Turquia, a China […]. (LÊNIN 1961b, p. 247-248).

Mas justamente porque que a vitória do proletariado russo anunciava uma grande ofensiva revolucionária sobre o continente europeu, a contradição entre povos oprimidos e povos opressores não ocupava o primeiro plano na situação internacional. O triunfo do socialismo nas metrópoles devia acarretar, conforme o velho adágio romano accessorium sequitur principale, a emancipação imediata das colônias.  Quatro anos mais tarde, entretanto, no mesmo momento em que morria o fundador do bolchevismo, a vaga revolucionária do proletariado europeu quebrava-se nas muralhas da ordem burguesa.

Nos anos seguintes, a corrente de fundo do movimento revolucionário deslocou-se para a periferia colonial do sistema capitalista mundial, mudando, por isso mesmo, de método (guerras revolucionárias) e de objetivo (libertação nacional). Onde e quando estas revoluções anticoloniais e anti-imperialistas aprofundaram-se rumo ao socialismo, a começar pela longa marcha de libertação da imensa sociedade chinesa, primeiro grande passo para a emancipação dos povos da Ásia submetidos ao jugo colonial-imperialista, estava sempre presente a aliança operário-camponesa. Claro que o peso relativo destas duas grandes forças sociais no interior da frente de libertação nacional variou em função da composição de classes dos diferentes povos em luta (além dos intelectuais, amplos setores da pequena burguesia patriótica participaram a fundo do combate libertador). Desnecessário insistir em que todas essas lutas foram heterodoxas em relação ao Manifesto.

Nem por isso, as previsões formuladas em 1848 por Marx e Engels deixaram de encontrar confirmação histórica. Decisivo foi o papel desempenhado pela classe operária e especialmente pelos comunistas na defesa da República durante a guerra civil espanhola de 1936-1939. A grandiosa vitória da União Soviética sobre a Alemanha hitleriana, numa Europa onde os comunistas tinham constituído a espinha dorsal da resistência ao nazi-fascismo, abriu, mais uma vez, a perspectiva concreta de repor a História no curso previsto pelo Manifesto. No imediato pós-guerra, grandes conquistas sociais marcaram o auge do avanço democrático nas sociedades capitalistas europeias. Diferentemente de 1922-1924 e de 1939, esse avanço não foi aniquilado pela contra revolução aberta e armada: a gloriosa bandeira vermelha tremulando no topo do Reichstag de Berlim desde 8 de maio de 1945 incitava à prudência a burguesia europeia. Graças, porém ao imperialismo estadunidense (também militarmente vitorioso em 1945), que juntou os dólares do plano Marshall à intoxicação da guerra fria, reforçada pela chantagem nuclear e pela Aliança Atlântica, aliás Otan, criaram-se condições para uma nova estabilização burguesa no ocidente europeu.  O ímpeto das forças operárias e socialistas na Europa foi amortecido e bloqueado uma vez mais.

Novamente a vaga de fundo da luta revolucionária deslocou-se para os povos dominados pelo sistema capitalista mundial. A luta de libertação nacional alcançou sucessos grandiosos e duráveis. Em 1949, após duas décadas de heroicos combates, os comunistas chineses, sob a direção de Mao Zedong, derrotaram definitivamente as forças contra revolucionárias do genocida Chiang Kaishec (que só escapou refugiando-se em Taiwan sob proteção da Marinha de Guerra estadunidense), garantindo o triunfo da revolução nacional e agrária que livrou da opressão e da miséria um quinto da população mundial. Dez anos depois, abrindo a via para o socialismo no Novo Mundo, triunfava em Cuba a revolução popular dirigida por Fidel Castro e Ernesto Guevara. Em 1975, a Frente de Libertação Nacional, dirigida por Ho Chi Minh e Giap, expulsou do Vietnã, numa das mais heroicas guerras populares de resistência de toda a historia da humanidade, as forças criminosas do Pentágono e seus fantoches locais. Não por acaso, a última vitória política do proletariado no continente europeu, a Revolução dos Cravos que derrubou em 1974 o regime salazarista, foi diretamente suscitada pela recusa dos soldados e jovens oficiais portugueses em combater os movimentos de libertação nacional nas colônias africanas.

A última década do século XX foi porém marcada pela derrota e o desmantelamento do bloco soviético e pelo êxito da contra ofensiva neoliberal. A ruptura, em proveito do bloco capitalista agrupado na OTAN, da correlação internacional de forças, abriu brecha para um novo surto de agressões coloniais. Mas não foram só os povos oprimidos que sofreram as consequências perversas da contra revolução burguesa de 1989-1991. Enquanto durou o “perigo comunista”, as burguesias dos países imperialistas, principalmente europeus, se conformaram com as conquistas sociais dos trabalhadores. Desde 1979, entretanto, a política econômica preconizada por Hayek e consortes da “escola de Chicago” (já aplicada experimentalmente no Chile, sob a bota de Pinochet, pelos “Chicago-boys” da extrema direita local), foi posta em aplicação na Inglaterra pela ultra reacionária Margaret Thatcher, que assumiu fria e explicitamente o trabalho sujo de destruição do “Estado de bem-estar”, promovendo o retrocesso à situação social da “Belle Époque”. Logo em seguida, em 1980, com a chegada à presidência do Império estadunidense quando do macarthista R. Reagan, o neoliberalismo se impôs no centro hegemônico do capitalismo internacional.

Quando, pelo efeito combinado da ofensiva neoliberal e do fiasco das “reformas” de Gorbachov (que se mostrou totalmente carente de estatura para ultrapassar, rumo ao aprofundamento do socialismo, a estagnação burocrática do poder comunista), o Muro de Berlim foi derrubado e, na sequência, o bloco soviético desagregou-se, as burguesias do mundo inteiro seguiram o exemplo anglo-estadunidense. Assumiram o “programa máximo” da reação burguesa: resolver a “crise fiscal” dos Estados capitalistas reduzindo os gastos do Estado, notadamente os dos serviços públicos, e suprimindo os direitos sociais dos trabalhadores e as funções estatais que os asseguravam, para poder cobrar menos impostos dos capitalistas, aumentando-lhes os lucros. A influência largamente majoritária dos partidos social democratas sobre os grandes sindicatos europeus bloqueou uma resposta frontal do movimento operário a esse complexo de medidas antissociais. Minoritárias, as forças anticapitalistas não puderam pesar decisivamente sobre o curso dos acontecimentos. Tanto assim que, a curto prazo, não se vê como pôr fim à alternância, sem alternativa de fundo, de governos neoliberais e social democratas, ambos levando adiante, estes mais moderadamente, a mesma política de redução dos “custos sociais” da valorização do capital.

Nessa segunda década do século XXI, a contradição entre povos oprimidos e povos opressores, pela qual Lênin caracterizou o imperialismo, continuará constituindo, por um período talvez longo, o aspecto principal da luta anticapitalista. Na linha de frente dessa luta estão os povos e os governos que enfrentam a hegemonia estadunidense e a criminosa empreitada de recolonização da periferia empreendida pelos mercenários da Otan. Claro que não se pode excluir a possibilidade de um forte movimento anticapitalista nas metrópoles europeias. Mas em qualquer hipótese, só a convergência do combate operário nos países dominantes com a luta dos povos oprimidos pode romper o elo mais fraco da ordem mundial imposta pela máquina de guerra do capital financeiro.

João Quartim Moraes é professor colaborador na Unicamp e pesquisador do CNPq centrado em história do pensamento político, instituições brasileiras, materialismo antigo e moderno, e marxismo. Autor de diversos livros e artigos, no Brasil e na Europa.

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La Commune de 1871 (cartas e declarações), Paris, Union Genérale d’Éditions.
MARX/ENGELS1978a.
Die deutsche ideologie , in Ausgewählte Werke in sechs Bänden, Band 1. Berlin: Dietz Verlag, 1978.
MARX/ENGELS, 1978b.
Manifest der Kommunistischen Partei  in Ausgewählte Werke in sechs Bänden, Band 1. Berlin: Dietz Verlag, 1978
O’CONNOR, James, 1970.
“The meaning of economic imperialism”, in Robert I.Rhodes (org.) Imperialism and underdevelopment, Londres e Nova Iorque, Monthly Review Press.
 

Dialettica, storia e conflitto: il proprio tempo appreso nel pensiero
Festschrift per Domenico Losurdo

Sia io che Losurdo ci terremmo moltissimo ad avere un suo articolo per questo volume. L’articolo dovrebbe essere pronto per dicembre e ammontare a circa 40.000 caratteri (spazi compresi).
La prego di darmi presto conferma della sua partecipazione a questa iniziativa.

SGA

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Stefano G. Azzarà
Università di Urbino, Dipartimento di Scienze Umane
Via Bramante 16, 61029 Urbino, tel. 0722 303600
blog personale: www.materialismostorico.it
messenger: [email protected]

COMMENT LE MARXISME EST DEVENU LÉNINISME
déclarations universelles des droits de l’homme et du citoyen. Avec, cependant, cette rad
icale différence que

Antes mesmo, porém, do esmagamento das revoluções operárias europeias de 1918-1924, que cette tâche incombait aux intellectuels  développe la thèse célèbre de Kautsky sur la jonction du mouvement ouvrier et des intellectuels socialistes
La Russie bolchévique décrète Au cours de Xème congrès du P.C. (b)R., pendant la révolte de Cronstadt, le communisme de guerre fut abandonné au profit de la nouvelle politique économique (NEP, réintégration partielle des rapports marchands). Les nationalisations reprennent dès 1928, notamment dans le domaine agricole. Associée à la planification, elles permettront temporairement un développement accéléré de l’économie de l’URSS, et particulièrement de l’industrie lourde grâce au lourd tribut, humain et financier, prélevé sur les populations agricoles. Après la crise de 1929, le modèle de développement soviétique inspirera plusieurs démocraties.
Voulant éviter les désagréments connus en URSS à ses débuts, la République populaire de Chine ne pratique pas de nationalisations massives entre 1949 et 1953. La nationalisation de l’industrie chinoise est ensuite opérée entre 1953 et 1957.
À la limite, ce serait un byzantinisme que de vouloir déterminer lequel des deux facteurs, la guerre ou la trahison social-démocrate xx Mas corresponde também, na medida em que suprime todas as relações sociais anteriores, à proletarização tendencial de todo trabalho produtivo
Evidentemente, a análise do imperialismo deve ser atualizada, mas, como ponderou James O’Connor, as críticas dirigidas e a Lênin, bem como as visões alternativas que foram propostas, “constituem menos uma nova teoria do que um catálogo de fatos históricos não inteiramente consistentes com as teorias anteriores” . Seria, sem dúvida, inexato dizer que os bancos controlam a General Motors ou a Microsoft: o processo atualmente dito de “financeirização” ultrapassa a esfera do capital bancário. Trois années plus tard, la tragédie de la Commune de Shanghai marquait le déplacement du courant de fond du  mouvement révolutionnaire vers la périphérie coloniale du capitalisme international. 
Il suffit de parcourir ses cahiers sur Hegel.  En renverant le tzarisme, la révolution de février a previa o curso histórico provável, lettre à  dans une perspective m délai  D’où e na qual os meios de produção se tornariam patrimônio comum (=comunista) da humanidade. da história universal, bem como uma concepção espontaneista da dinâmica revolucionária. Mas sem dúvida, no espírito dos dois autores, ela visava. Devemos entender que ele é, como diríamos hoje, um processo objetivo?  Sugere uma visão çados Il n’en reste pas moins que le
jusqu’au point d’ nous retrouvons du processus universel en acte qu’il expose, à savoir,

A locução adverbial enfatiza o caráter concreto do movimento: ele cai sob nossos olhos, não é uma expectativa que nutrimos no pensamento e na vontade, mas um processo visível para quem se dispuser a olhar para ele.
llinspiré les douze thèses sur la coloniaux

Tout en se gardant

développement des forces productives
c’est exactement parce que la théorie à laquelle il  renvoie (le matérialisme historique)  est susceptible d’être confirmée ou infirmée par les faits.  Encore faut-il noter que si les ont échoué  par rapport à leur but final, elles n’ont pas moins constitué l’un des facteurs les plus déterminants de l’histoire du XXème. siècle.  
aux mêmes critères de vérification que plusieurs thèses du Manifeste , y compris la plus décisive, celle. au sein de toutes où pénètre le capital, xx Ela xx Si nous constatons aujourd’hui que les
Pour ce qui concerne Lênin, En soulignant dello daquele ano Fin r. Il l’exprime en toutes lettres par partilhava deste otimismo em fins de nt pas compte de cette dialectique. Selon lui, Os escritos posteriores ao desencadeamento da guerra desmistificarão em profundidade, as ilusões do marxismo da II Internacional.
À notre connaissance, c’est Lênin

de cette mobilisation dans deux livres remarquables.   
évoquédans laquelle
Par là même, les perspectives  d’une révolution prolétarienne internationale, tout en étant  confirmées par la formation du premier État ouvrier, ont éte aussi rectifiées.

orthodoxie hétérodoxie D’abord et surtout grâce à
A estupenda compreensão histórica de Engels
victoi  da revolução proletária com muito bien distingué sa condition de
. Les ont été à notre connaissance les seuls, pendant longtemps, à soutenir la thèse contraire : selon eux,. En 1970, cette interprétation a été et développée par soutenu plus péremptoire Une autre vision sur qu’il y avait. ont elle est le support. socialiste dont la portée reste entière plus d’un siècle plus tard :
Dulce bellum inexpertis: la violence armée n’a de charmes que pour ceux qui ne la connaissent pas. ´e en va de même pour les autres puissances qui se sont engagées dans la guerre., Mais ainsi compris, il n’impliquait pas dans un fatalisme: si le mouvement ouvrier et les révolutionnaires croisaient les bras, les tendances immanentes de la dynamique de l’histoire pourraient être contrecarrées par  xx  
Mais dans la logique de l’action Bien entendu, moyens et fins se conditionnent dialectiquement. Il y a des tactiques
de toujours aux conflits d’intérêt entre
à
, comme doivent l’être  monstrueuse DdD’UN hecatombe de 1914-1918 dix-neuf ans avant qu’elle ne se déclenche. d’un lutte:  la tragédie de 1871 en 
l’appareil productif de la société. si l’on pouvait adopté des mesures socialistes, à commencer par la nationalisation des moyens sociaux de production. 
est incompatible avec une révolution démocratique
adopté des, à commencer par la nationalisation des moyens sociaux de production.  Plus exactement, elle tombé dans de fond en comble la pensée d’un. il y a eu tout de même un fait important que bien symptomatiquement
en fait, le tournant préconisé dans . En aucun moment xxbourgeois Les conséquences sont trop connues pour qu’il vaille la peine d’y insister.   
ce constat: tout le ment du gouvernement de la bourgeoisie. , Mais le dépassement  de dualité de pouvoir  de xx  
consisté à situation politique de

il n’est pas question du caractère socialiste suscitée par 4 considerar, naquele momento, que estavam no prelúdio da vitória do proletariado na Europa central e ocidental. Quatro ou cinco anos depois, porém a ofensiva proletária estimulada pela vitoriosa revolução bolchevista quebrava-se nas muralhas da reação. ; partout le souvenir des générations mortes a lourdement pesé sur la tête des vivants des idées dominantes Les éditeurs français de   
difficile. son l’a fait considérer peu probable cette hypothèse catastrophique. pour Dessa imprecisão  aproveitaram- para  deturpar a análise Sous l’horizon historique de perspectiva dos horrores de uma eventual guerra mundial tornava plausível a de um. but de xxxgrande o desencadeamento da grande carnificina liberal-imperialista, il a prévu,a “inédita crueldade” que assumiria “une guerre mondiale”. (Que diria de Hiroshima e de Nagasaki?). Por isso, analisando concretamente a situação concreta, considerou tática correta, para a  Alemanha de então, a participação nas eleições e não as formas armadas e insurrecionais de luta. accul[ée qui avait resiste Autre chose serait  de même que Engels etiré de ce texte la conclusion qu’il fallait renoncer par principe à l’insurrection. Cortaram da Introdução
qui a interdit le   a doze anos de ilegalidade (1878-1890) sufrágio universal instituído por Bismarck em 1866, haviam conferido ao  partido socialista  cerca de 2 milhões de votos (Engels, 1974, p.33), e objetivo programático é fugidia e imprecisa. Sans perdre pour autant la lucidité  
avait constants progrès électoraux atteint, , Les de incitaient aussi à l’optimisme.
fallait renoncer par principe à l’insurrection. Cortaram da Il a fallu attendre
analysé sur La  composition de classe de cet comprend, outre le que Articulée par la lucide et audacieuse politique des bolchéviks, , C’était pour eux toujours un point décisif que de l’avoir ou ne pas l’avoir correctement comprise et interprétée. La Révolution d’Octobre a été ainsi Autant que les autres  dirigeants du mouvement ouvrier révolutionnaire européen, Lênin s’est donc empressé d’interpréter du point de vue de l’orthodoxie du Manifeste le caractère hétérodoxe de la révolution  russe. à ce momentxx// entIl semble considérer que cette qui l’interrogea et non pas un Bref,.     xxdans le rège des lectures et delui, Thèses d’avril, ou du moins, sans cette lecture il n’y aurait pas dans cette explication lesSPar conséquent, d
Tel était le contenu essentiel de la situation instaurée par la révolution de février. intérêts perso et tout en gardant les conclusions fondamentales du Manifeste pour ce qui concerne la logique immanente de l’expansion planétaire des rapports capitalistes de production, Communes proclamées dans d’autres villes françaises
En 1919-1920, ces prévisions optimistes configuraient une sérieuse possibilité objective.
Dans les deux xx  que la confrontation s communards se battaient les armes à la  main contre les versaillais, tout en ne cachant pas xx qu’il s’agissait d’arracher aux bourgeois le pouvoir politique avec force C’est ce qu’il a souligné Pourtant, ce géant de la lutte n’avait rien d’un visionnaire. , il a identifié dans la dualité du pouvoir . La  composition de classe de cet défini 
, mais a aussi tiré les leçons de la terrible défaite. , déjà explicité dans l’article sur la dualité du pouvoir Tel n’était pas l’avis de s pouvoir caractère bourgeois mais se moquait bien des . révolution  démocratique aurait un Lênin, cependant, :,xxx entre février et mars la base matérielle de la société russe le gouvernement de la bourgeoisie n’était pas capable de donner
a résolution révolutionnaire de la question du pouvoir en octobre 1917 a apporté au peuple russe la paix et aux paysans la terre. (parti-d’avant-garde, politique d’alliance avec les paysans/soldats) L’écrasement des révolutions ouvrières européennes de 1918-1924, , que la théorie de l’impérialisme avait mise en évidence, Nas décadas seguintes, ele se manteve na linha de frente das grandes lutas sociais na Europa Ocidental, notadamente da greve geral de maio 1968 na França e da revolução de 1974 em Portugal.
le long de la II Guerre Mondiale La recolonisation
rendre à, parmi d’autres hommages postumes, de

Nous savons en effet,  e triomphe anti-impérialisme Ernesto Che Guevara .
forces de u perues  en 1974,
des pays capitalistes dominants avec le nouveau cycle révolutionnaire ouvert en
ne saurait en être autrement dans la mesure où celui-ci envisageait l’objectif majeur de l’humanité tout entière, impossible à atteindre sans le concours actif. ouvrièavec la guerre pour la.

Les révolutions victorieuses du XXème siècle s’inscrivent dans

Mais la diualectique vetigineuse Les dirigeants de la Russie soviétique ont donc eu raison de lier son sort à celui de
      L’imminence de la révolution prolétarienne dans les pays avancés de l’Europe centrale et occidentale
, . permettait d’espérer que
coup décisif contre les États impérialistes serait porté par plus probable de l’histoire mondiale plus . Bien que persuadé de l’
bien résisté devant leur hétérodoxie. Grande confirmation historique du Manifeste, Octobre 1917 n’a pas eu la suite qu’on était en droit de s’attendre.

C’est donc bien malgré eux que l peuples coloniaux, où la contradiction entre les pays impérialistes et les pays coloniaux est non seulement reconnue, mais placée au cœur de la théorie.

Cependant, Les deux grandes forces révolutionnaires
néanmoins l’élément essentielxx n’est pas . Elle la développe pour l’actualiser:
Lênin met l’accent tire les conséquences définit nonce     L’écart par rapport au

décision, prise en 1923 par le Comintern, d’introduire dans le célèbre appel à la solidarité internationale des ouvriers un nouveau sujet historique du combat révolutionnaire : travailleurs et peuples coloniaux du monde entier
après sa mort, la participation des communistes dans les luttes anti-coloniales de libération nationale.    
La fin de la guerre impérialiste en 1918 a instauré une nouvelle situation internationale. Mais la théorie de l’impérialisme elle  Ainsi comme celle-ci,

La lutte des peuples coloniaux

Mais a corrente principal do combate revolucionário internacional deslocara-se, a partir da longa guerra de libertação conduzida pelos comunistas chineses, passo gigantesco rumo à emancipação dos povos da Ásia, para os três continentes submetidos à agressão colonial e à dominação imperialista. Ela assumira novas formas (guerras populares) e novo conteúdo (nacional-camponês). Os resultados históricos dessas revoluções foram muito diferentes: onde e quando elas aprofundaram-se rumo ao socialismo, estava presente a fórmula da vitória soviética: a aliança operário-camponesa; onde faltou esta aliança, a luta de libertação nacional não foi além da descolonização. Mas nenhuma delas correspondeu à dinâmica histórica anunciada em 1848.
A explicação mais aceita do “desvio” das revoluções vitoriosas para a periferia colonial do sistema capitalista está na teoria do elo mais fraco: não é nos países onde o capitalismo é mais desenvolvido, mas naqueles onde as contradições provocadas pelo desenvolvimento do modo de produção capitalista interagem com formas pré-capitalistas de exploração e de opressão que se criam as condições mais propícias à ruptura revolucionária. Mas na medida em que, na segunda metade do século XX, somente triunfaram as lutas de libertação nacional dos povos submetidos ao imperialismo e ao colonialismo, a noção de elo mais fraco mudou de significado. Ela tinha sido concebida para explicar porque as revoluções operário-socialistas não triunfavam nos países capitalistas mais desenvolvidos. O desvio russo cabia dentro dessa explicação, mas não o desvio colonial. Pressentida por Lênin, quando enfatizou a adesão da “aristocracia operária” dos países imperialistas à ordem burguesa, a transferência para os continentes colonizados dos aspectos mais opressivos da exploração capitalista foi justificada por Mao-tsé-tung em suas teses
sur le déplacement des contradictions obre o “cerco das cidades pelo campo”. Em dépitA despeito de sua unilateralidade, elas apontam para o ponto cego das previsões de Marx e de Engels: a polarização em escala planetária entre o imperialismo e os povos coloniais.   

Il n’est peut-être pas inutile stratégie 1programme do conceito de estratégia e dos conceitos correlatos, nomeadamente o de etapa, no texto onde eles estão expostos de maneira mais completa e sistemática, a saber, em Sobre os problemas do leninismo. Não efetuamos um levantamento lexicográfico e bibliográfico exaustivo sobre o aparecimento do termo “estratégia” e do termo “etapa” no bolchevismo, mas é provável que Stalin tenha sido o primeiro a sistematizá-los. Em julho de 1921, redigiu o “Esboço de um plano para um folheto” intitulado Estratégia e tática políticas dos comunistas russos, no qual estão muito bem esboçados os conceitos que exporá em Sobre os princípios do leninismo.  A observação é relevante para o nosso argumento, já que parece altamente improvável que Brandão, em julho de 1924, tivesse lido e assimilado o texto de conferências feitas por Stalin apenas três meses antes, em abril de 1924. É menos improvável que tenha lido a versão mais elaborada do citado “Esboço” de julho de 1921, publicada com o título A questão da estratégia e da tática dos comunistas russos, na edição do Pravda de 14-3-1923.

Nos seus escritos de 1923, Stalin não emprega o termo “leninismo” (que só em abril de 1924, logo após a morte de Lênin, definirá como “o marxismo da época do imperialismo e da revolução proletária”) mas simplesmente o tratamento partidário de “camarada Lênin”. A fórmula “marxismo-leninismo”, entretanto, só seria lançada na URSS no final da década. Mesmo então, seu sucesso não foi imediato: só após o término da segunda guerra mundial passou a designar internacionalmente os partidários de Stalin, sobretudo a partir da ruptura sino-soviética, quando a direção do PC da China, assumindo a defesa teórica e política do legado staliniano contra o “revisionismo khrushcheviano”, erigiu-se em guardiã do “marxismo-leninismo”. Mas, em 1924, nem Stalin, nem qualquer outro dirigente do comunismo internacional designavam o corpus teórico-doutrinário de seu movimento pela expressão “marxismo-leninismo”.
aurait soutenir qu’il a

porque então, a despeito de não ter sido confirmado pelos fatos, continuamos a considerar aquele texto escrito há cento e cinqüenta anos como referência  fundante  e sempre essencial para o combate contra a ordem do capital? sem dúvida, todo grande manifesto político é  também um texto de propaganda, um apelo à  mobilização e ao combate. porém o de marx e engels propagou-se pelo mundo inteiro não apenas pela insuperável força expressiva do que diz, mas também e principalmente por conter comporte bel et bien la reconnaissance d’une logique objective inscrite dans l’évolution sociale.  Deux ans plus tard, la même idée a été dévoloppée dans le Manifeste Comuniste. Marx e Engels y précisent que
     De outro lado, esta história seria de natureza muito mística se os ‘acasos’ não desempenhassem nela nenhum papel. Estes casos fortuitos entram naturalmente na marcha geral da evolução e ficam compensados, por sua vez, por outros acasos. Mas a aceleração ou a  desaceleração dependem muito de ‘acasos’ semelhantes, entre os quais figura o ‘acaso’ do caráter dos chefes[…]. “
mas também no “império” num sentido diferente, ainda que não incompatível com aquele utilizado por Marx, a saber o que foi teorizado por Lênin a partir de Hobson e Hilferding : imperialismo, partilha do mundo pelos trustes e cartéis, transferência para os continentes colonizados dos aspectos mais opressivos da exploração capitalista, duas guerras mundiais, invenção e uso da arma nuclear, etc.   Mas ela só se confirmou parcialmente. Ao longo da segunda metade do século XX, a democracia liberal, mais exatamente, o liberalismo de conteúdo democrático, economicamente confortado pela pilhagem e exploração imperialista e preocupadíssimo em combater politicamente o poderio soviético, então caminhando para o auge, mostrou-se, em graus variáveis, permeável a múltiplas conquistas trabalhistas e democráticas do movimento operário e sindical.  O avanço planetário do comunismo aconselhava aos agentes do capital  aceitar reformas para evitar revoluções. Nos países europeus que iniciavam, sob tutela estadunidense, a construção do “mercado comum”, a burguesia se compôs com a social-democracia, aceitando reformas avançadas como alternativa à revolução social. Durante mais de trinta anos, o complexo dos direitos trabalhistas incorporados às sociedades burguesas tornou credível  o “capitalismo de bem-estar”.  Marx não previu essa possibilidade histórica.
À luz da experiência da Comuna e a despeito dela ter apenas esboçado, numa cidade duplamente sitiada, e num curtíssimo período histórico, a forma do poder político do proletariado, que as questões conexas da “república social” e da democracia já não mais podiam se colocar como antes. Comme si le degré de violence de lutte politique était un choix des opprimés plutôt qu’une imposition des classes dominantes. Engels a vécu encore le temps suffisant pour les démasquer ceux qui dénaturaient sa pensée. D’abord dans une lettre du 1º avril 1895, adressée à Kautsky:
“À mon étonnement, je vois aujourd’hui dans le Vorwaerts un extrait de mon introduction, reproduit à mon insu, et arrangé de telle façon que j’y apparais comme comme um paisible adorateur de la légalité à tout prix.  Aussi, désirerais-je d’autant plus que l’introduction paraisse sans coupures dans Neue Zeit, afin que cette impression honteuse soit effacée. Je dirai très nettement à Liebknecht mon opinion à ce sujet, ainsi qu’à ceux, quels qu’ils soient, qui lui ont donné cette occasion de dénaturer mon opinion”
Le 3 avril, dans une lettre en français adressée à Paul Lafargue, outra, escrita em francês dois dias depois (datada de 3 de abril) e endereçada de Londres a P.Lafargue:, il précise sa critique et fixe sa position:
“W. [Liebknecht] vient de me jouer um joli tour. Il a pris de mon introduction aux articles de Marx sur la France de 1848-1850 tout ce qui a pu lui servir pour souteni la tactique à tout prix  paisible e anti-violente qu’il lui plait de prêcher depuis quelque temps[…]. Mas cette tactique, je ne la prêche que pour l’Allemagne d’aujourd’hui et encore sous bonne réserve. Pour la France, la Belgique, l’Italie, l’Autriche cette tactique ne saurait être suivie dans son ensemble, et pour l’Allemagne, elle pourra devenir inapplicable demain” .
Ici encore, l’optimisme socialiste de Engels ne lui a pas fait perdre de vue la possibilité de conjonctures historiques plus sombres. D’où la fermeté de sa réaction contre les semeurs d’illusions. Moins de vingt ans après sa mort, le culte paisible de la légalité à tout prix s’est transformé, par une dialectique perverse, dans le social-patriotisme bélliqueux. Il serait ridicule d’expliquer les deux cultes, ainsi que la transformation de l’un dans l’autre, par une position philosophique déterministe et mécaniste.
e mGFT sob a tutela financeira, diplomática e militar do império estadunidense. Marx O forte impacto Entretanto, a Europa do fim do século XX e do início do XXI, , politicamente desmobilizada pelos governos social-imperialistas de “centro-esquerda”, volta a dar razão às previsões pessimistas de 1871.  
II Internationale et la trahison explique le déclenchement de la guerre
, En effet, il réserve le mot catástrofe non pas pour désigner mais.
D’abord journaliste radical exilé après la Commune, il se rallie au socialisme et devient le principal diffuseur, avec son journal L’Égalité (1877-1883), des idées marxistes en France. Il fonde en 1879, avec Paul Lafargue le Parti ouvrier, pour le programme duquel il va consulter Marx à Londres en 1880, et qui prend le nom de Parti ouvrier français en 1893. En 1893, il est élu député de Roubaix, s’affirmant collectiviste, internationaliste et révolutionnaire. Battu en 1898 et 1902, il est réélu en 1906 et reste député jusqu’à sa mort. En 1899, il s’oppose à Jean Jaurès quant à la participation au ministère « bourgeois » de Waldeck-Rousseau.
En 1902, son parti fusionne avec les anciens blanquistes de Vaillant pour former le Parti socialiste de France (Unité socialiste révolutionnaire). En 1904, lors du Congrès socialiste international d’Amsterdam, ses thèses emportent un grand succès. En 1905, le Parti socialiste de France et le Parti socialiste français (de Jaurès) fusionnent pour fonder la SFIO.
Avec la guerre, il rallie l’Union sacrée et devient ministre d’État de 1914 à 1916 (cabinets Viviani et Briand).
ismo NE os encerrado, que  o? tenham a capacidade explicativa que lhes atribui. Podemos seriamente explicar o social-patriotismo de um por uma visão Mas aí estaríamos os fatores e ideológicos como

cette trahison aux engagements pacifistes par les positions philosophiques  des dirigeants socialistes? Se utilizada como princípio fundamental de não
Ter sido pela, como aquela fornecida pelo léxico da.
somente tragédia desencadeada em 1914, a denúncia da rebaixa-se a uma retórica vulgar. a choisi en 1914 d’agir d’une façon «responsable», no sentido mais hipocritamente oportunista do termo, plutôt que de rester fidèle aux principes internationalistes.
se tornou um do dia para a noite.
Sem dúvida, muitos foram os que se surpreenderam com.
nada amistoso de Lênin Certes, en la formulant, en 1916, Lênin s’était gardé de risquer des prognostics sur l’issue de la guerre, pas plus que sur ses éventuelles conséqu
ences politiques. Ni lui, ni la Logique de Hegel, ni personne, ne sauraient prévoir que l’année suivante, deux révolutions en Russie, la deuxième culminant dans la prise du pouvoir par les ouvriers et les paysans, allaient faire le monde changer de base. Só uma dialética de fôlego muito curto não vê que a première étape de la révolution.   : esse foi o nervo da questão. l’histoire universelle, de resto admitido em boa medida pelo Marx de 1881. hétérodoxie, à jouer le rôle grandieux de premiers protagonistes de la prise du pouvoir par le prolétariat prévue dans le Manifeste. fórmula da vitória soviética. as lutas revolucionárias vitoriosas nos três continentes submetidos à agressão colonial e à dominação imperialista Dans les trois continents soumis à l’agression coloniale et à la domination  impérialiste, la politique révolutionnaire a toujours consisté, pour l’essentiel, à mobiliser paysans, ouvriers et intellectuels autour e das condições histórico-concretas em que cada um deles travou. d’une plate-forme démocratique de libération nationale. ampliada . as lutas revolucionárias vitoriosas nos três continentes submetidos à agressão colonial e à dominação imperialista Dans les trois continents soumis à l’agression coloniale et à la domination  impérialiste, la politique révolutionnaire a toujours consisté, pour l’essentiel, à mobiliser paysans, ouvriers et intellectuels autour e das condições histórico-concretas em que cada um deles travou. d’une plate-forme démocratique de libération nationale.
articularam-se em torno de uma plataforma de frente de libertação nacional. Nenhuma, portanto correspondeu b , política e militar do combate revolucionário  Mas o essencial é que, même les plus avancées, se sont toujours appuyées sur la paysannerie, as
, bem como na resistência dos partisans ao nazi-fascismo e na luta heroica do Exército Vermelho. Elle a éclatant a été la victoire finale de l’armée même exercé un remarquable effet d’entraînement sur la lutte pour la paix et le socialisme en Europe, notamment antevisão do processo histórico
Para enfrentá-lo, Reagan tomou a iniciativa de levar a guerra até “as estrelas”. Quando, pelo efeito combinado da ofensiva neoliberal e do fiasco das “reformas” de Gorbachov, portanto de sua derrota política diante do imperialismo estadunidense e de suas próprias contradições, o Muro de Berlim foi derrubado e, na seqüência, o bloco soviético desabou, o prestígio de Kirkpatrick e dos bem remunerados “kremlinólogos” de sua equipe desabou junto. 

ultra-reacionário O prefixo ‘neo’ justifica-se, pois plenamente para designar esse , que contrariamente ao velho liberalismo do século XIX, combate numa só frente contra as conquistas democráticas da classe operária e dos trabalhadores assalariados em geral. portanto de sua derrota política diante do imperialismo estadunidense e de suas próprias contradições,
Vinte anos depois da derrocada do bloco socialista do Leste europeu e da da União Soviética, que sem dúvida não se explicam somente pela ofensiva contra-revolucionária desencadeada por Reagan e consortes, degradação il est juste de reconhecer naître que celle-ci, ne serait-ce que par le seul fait d’exister, a rendu incomparablement moins âpre, incertaine et meurtrière la libération des continents soumis au colonialisme e.
com sua gigantesca estatura intelectual e política, exige duas lutas há de ser assegurada pelo movimento em aliança com o campesinato revolucionário, apoiados pela juventude e pela inteligência socialistas.
na situação internacional
A grande tarefa histórica das próximas décadas é o desenvolvimento das forças produtivas e a distribuição a toda a sociedade dos frutos do progresso material. mas também qualquer observador honesto Foram pois as lutas de libertação nacional na Ásia, na África e na América Latina que levaram adiante o combate revolucionário na segunda metade do século XX, transformando a geografia política do planeta.
principal provém dA irde base estadunidense anteviu A,  a luta. a conexão dessas

1 As aspas e os itálicos são do original.

2 Sem esquecer de que os argumentos de Que fazer? tinham sido anunciados e sinteticamente expostos no ano precedente (1901) em Por onde começar?

3 Itálicos no original.

4 Comentamos os principais estudos dessa obra coletiva em Crítica Marxista n° 10 (2000),  pp.133-144.

5 Itálicos no original.

6 A passagem que segue sobre a Comuna de Paris retoma com modificações a comunicação apresentada em 22 de maio de 2001 no Colóquio organizado pelo CEMARX/UNICAMP, marcando os 130 anos da Comuna de Paris (1871-2001). A comunicação foi publicada sob o título “Marx, Engels e Lênin perante a Comuna de Paris”, no livro A Comuna de Paris na História (organizado por Armando Boito), pp. 83-108, São Paulo, Cemarx/Xamã 2001.

7 Auguste Serrailler era operário da indústria de sapatos. Foi dirigente da Comuna; condenado à morte à revelia, refugiou-se na Inglaterra, onde assumiu, em 1872, a função de secretário correspondente do Conselho Geral da Internacional para a França.

8 Félix Pyat era um desses radicais falastrões, sincero em suas convicções, mas confuso, briguento e trapalhão. 

9 Nota do editor de  La guerre civile  en France (MARX, 1968a, p 11).

10 Um dos apelidos de Napoleão, o pequeno.

11 Nas citações, mantemos em itálico os termos que estão em francês no original.

12 No original “mischievous”, (em inglês) “avorton” (em francês). 

13 Originário da Hungria, Frankel exercia o ofício de ourives. Fixou-se ainda bem jovem na França, onde tornou-se membro da AIT (I Internacional). Foi eleito para o Conselho da Comuna. Bateu-se corajosamente. Ferido nas barricadas da rue du faubourg Saint-Antoine, durante a Semana Sangrenta, foi salvo por Elisabeth Dmitrieff,  fundadora da União das Mulheres. Condenado à morte, refugiou-se na Inglaterra, onde atuou muito próximo de Marx. Desenvolveu nos anos seguintes intensa atividade de organização dos operários na Europa Central. Votou pela expulsão de Bakunine da AIT. Em 1890 participou do Congresso de fundação da II Internacional, da qual foi, durante os poucos anos que lhe restava viver (morreu de pneumonia em 1896) um destacado militante.

14 Filho de camponeses pobres, Eugène Varlin trabalhou como encadernador em Paris. Muito ativo na militância de classe, aderiu à I Internacional pouco após sua fundação. Defendeu ardorosamente a igualdade de direitos das mulheres. Foi preso muitas vezes por participação nas greves articuladas pela AIT. Eleito conselheiro da Comuna, bateu-se valentemente até o fim. No último dia dos massacres promovidos pelos versalheses triunfantes, foi reconhecido por um padre, conduzido a Montmartre, onde lhe vazaram um olho e o espancaram até a morte. A Igreja Católica foi infame do começo ao fim da Comuna, perenizando seu ódio na Abadia de Montmartre, erguida com doações da burguesia eufórica para comemorar o massacre dos “communards”.

15 Ver também Marx, Engels, 1971b, pp. 255-256.

16 Os itálicos estão no original. As duas cartas foram reproduzidas na Note des Éditeurs a Les luttes de classe en France, pp. 8-9, nota 1. Ver também Marx, Engels, 1971a, pp. 528-529. Foi preciso esperar o triunfo da revolução bolchevique para que fosse publicado o texto integral da Introdução de Engels.

17 Essa lei aumentou para três anos a duração do serviço militar obrigatório. (Ver LE CLÈRE 1969, p. 147).

18 Contrastamos as trajetórias de Jaurès e de Guesde em Crítica Marxista n° 24 (2007), na Apresentação (pp. 139-141) de “O socialismo francês em 1900: o grande debate entre Jean Jaurès e Jules Guesde” (pp. 142-172), na qual notamos, a propósito de Guesde, que após se opor, em nome da pureza revolucionária, a qualquer colaboração com governos burgueses, aceitou participar, junto com outros “social-patriotas”, do governo dito de “União Sagrada” que dirigiu a França beligerante durante a horrível carnificina de 1914-1918.

19 Malaparte aderiu bem jovem ao fascismo, participou da marcha sobre Roma em 1922, desenvolveu intensa atividade editorial no movimento fascista, sem perder a verve crítica. Em 1931, o ensaio A técnica do golpe de Estado, em que atacava tanto Mussolini quanto Hitler, valeu-lhe ser expulso do Partido Nacional Fascista e deportado por cinco anos na ilha de Lipari. Foi correspondente de guerra na frente leste, onde testemunhou a bravura e a grandeza do Exército Vermelho e do povo soviético. Terminada a guerra, aderiu ao Partido comunista italiano.

20 Itálicos no original. A passagem entre aspas remete a Duas táticas, que Lowy cita numa edição em espanhol (p.257-258, notas 6,7,8).

21 Na verdade, Marx havia já expresso a mesma posição em novembro de 1877 em sua resposta a Mikhailovsky, que ele não publicou (Marx, 1968b, p.1552-1555).

22 O’Connor, loc.cit., p. 111.

23 Esse texto está nas Obras de Stalin, vol. 5, 1921-23, Rio de Janeiro, Edições Vitória, 1954, pp. 59-80. É interessante notar que Lênin só empregará o termo “estratégia” meses mais tarde, em outubro de 1921, e ainda assim, sem grande preocupação de rigor semântico.
4 Texto igualmente reproduzido nas Obras de Stalin, vol. 5, op. cit., pp. 143-159.

24 ENGELS 1974, pp.8-9, note 1. Voir l’Introduction Les italiques sont dans l’original. Le texte intégral de l’Introduction de Engels 1895  à  Les luttes de classe  en France de Marx n’a été publié qu’après le triomphe de la révolution bolchévik.

25 Tanto quanto o prefixo ‘ultra’ para denotar o grau de reacionarismo do neoliberalismo.

Publicado na revista Crítica Marxista no. 34