A defesa da legalidade constitucional do mandato de Dilma, a defesa da Petrobras e do financiamento público de campanha são as bandeiras com apelo popular que o PCdoB deve levar às ruas. O evento lotado de dirigentes e lideranças sociais foi organizado pela Fundação Maurício Grabois – Sessão São Paulo e pelo Comitê Municipal do PCdoB de São Paulo.

Como de hábito em sua análise de conjuntura, Rabelo foi às origens da instabilidade que atinge o Governo Dilma para evitar uma análise superficial da crise política. Ele demostrou como a turbulência internacional do capitalismo tem afetado todas as economias emergentes, demandando um ajuste fiscal no Governo Dilma como consequência. “Esta é a primeira questão colocada para sabermos onde estamos, para não sermos enrolados. Aparentemente a culpa é sempre da presidenta da República”, disse ele, pontuando que o grande desafio, hoje, é a retomada do crescimento e do desenvolvimento nesse cenário recessivo.

Diante da possibilidade de crescimento negativo, Rabelo afirma que, só o estado não dá conta de alavancar o crescimento sem o capital privado. “Para trazer o capital privado, é necessário o ajuste”, avalia. Aqui surge a primeira grande tarefa, na opinião do PCdoB, que diz respeito à presidenta: “Ela precisa dizer qual é o ajuste que pretende fazer. Disse pouco sobre isso. Precisa dizer que é parcial, temporário, gradativo e  necessário para um aspecto do crescimento, garantindo emprego e aumento real do salário”, pontua, salientando que, nas condições atuais do mundo, não existe nenhum lugar com perspectiva de aumento real de salário mínimo. Na opinião do dirigente comunista, é preciso dizer que o crédito crescente da agricultura familiar no campo tem que ser garantida, que os programas sociais têm que ser garantidos. Mas também diz que, o PCdoB tem que ter proposição crítica, não apenas criticar.

Ofensiva golpista de direita

Refletindo sobre a tarefa prioritária das forças progressistas no momento, Rabelo situou o clima de conspiração golpista e revanchista que avança sobre setores médios da sociedade. Segundo ele, a direita não suporta a quarta derrota consecutiva e revela seu desespero na ofensiva contra a legalidade constitucional. “Pensamos que ganhamos a eleição e iríamos para a ofensiva. Mas quem foi para a ofensiva foi a direita”, observou.

Essa “conspirata conservadora e revanchista” da oposição ocorre num momento em que a região econômica mais importante do país, que é o Sudeste, a escassez de água provoca encarecimento da eletricidade e dos alimentos. “Isso colocado como se fosse um problema causado pela presidenta da República leva a um clima de instabilidade, perigo e incerteza.”

Rabelo recordou que viveu clima semelhante em 1964, às vésperas do golpe contra João Goulart. O PCdoB sabe bem que a natureza da direita não muda, tal qual um cobra venenosa. Foi assim que se comportou contra o segundo governo de Getúlio Vargas, e depois contra outros governos progressistas. “Essa conspirata visa desestabilizar o governo Dilma, atingir o Lula e, sobretudo, desmoralizar o PT. Esse é o objetivo e é assim que está sendo.”

Para o dirigente comunista, há uma clivagem política e ideológica de ódio pelo ascenso das classes populares. “Eu viajo sempre, e nos aeroportos eles reclamam o tempo todo das classes populares como usuárias dos serviços aéreos”. Diante disso, a direita não aceita o resultado eleitoral provocado por essas classes populares e precisa definir o governo por outros meios.

Ele ainda lembrou que há uma intervenção do imperialismo para barrar o avanço democrático e patriótico na América Latina. De acordo com ele, é preciso ter em mente esse contexto maior em que os maiores países do continente (Venezuela, Argentina e Brasil) estão sob ataque desestabilizador

Quanto pior, melhor

No plano econômico, segundo ele, a ofensiva visa destruir a Petrobras com o argumento de esquartejar e privatizar. “Ontem, o Serra disse que a Petrobras tem que ser esquartejada”. Segundo Rabelo, a Operação Lava Jato é instrumentalizada pela mídia para destruir a maior empresa do país, com desdobramentos em liquidar as empresas nacionais da construção civil e de tecnologia, abrindo a porta para as empresas estrangeiras.

Diante desse quadro de ofensiva fora de controle para derrubar o governo progressista, o clima de “quanto pior, melhor” assume feições perigosas. “A estratégia da oposição antidemocrática e golpista chega ao ponto de trabalhar para a destruição econômica e política do país para eles voltarem a comandar o país, já que não têm condições de voltar pelas urnas”, analisa Rabelo.

Tanto mais é difícil a situação política, considerando-se o modo acirrado como se deu a eleição de Dilma, e a conformação conservadora em que se tornou o Congresso Nacional. “A presidenta não conseguiu formar uma maioria na Câmara, criando uma correlação de forças adversa. Se fosse um regime parlamentarista, o governo teria que convocar nova eleição”, salientou. Desta forma, Rabelo afirma que a tentativa de repactuar uma maioria é o grande esforço que tem que ser feito pelo Governo e pela Aliança, para evitar que se varra todos os direitos conquistados nos últimos anos.

O cenário de instrumentalização da Operação Lava Jato, que investiga irregularidades na Petrobras, avança sobre a legalidade, infringindo-a flagrantemente para atingir o Governo. De acordo com a análise de Rabelo, a delação premiada usada pelo juiz federal Sérgio Moro é uma violação do estado de direito, constituindo uma espécie de poder paralelo no seio do Governo Federal. “A norma jurídica não existe mais no país, quando as pessoas são presas para serem coagidas em vez de haver averiguação para depois prender”.

Tarefas políticas

Como se contrapor a tudo isso? “Não existe outra saída senão da resistência e da luta para impulsionar um contraofensiva”, apontou Rabelo. Ele diz que é espantoso a unidade da mídia trabalhando para desacreditar a presidenta da República. Isso cria um ambiente tóxico e instabilidade no seio da sociedade.  Para o líder comunista, a ofensiva de esquerda deve ser conjunta partindo da presidenta Dilma, do ex-presidente Lula, “o grande líder popular brasileiro” e da aliança partidária que sustenta o Governo.

Para o PCdoB, é preciso que Dilma se comunique mais constantemente com o povo traçando planos e perspectivas. “Ela não pode ficar discutindo ajuste. Este é um meio para alcançar o objetivo. Qual a estratégia, qual o plano do governo e sua agenda?”, sinalizou ele. Para ele, a presidenta não pode só conversar com lideranças políticas, mas fazer pronunciamentos ao povo, recompor a base no congresso, dialogar com os governadores e prefeitos de grandes cidades. “Os trinta ministros precisam ir para todo canto do Brasil falar com o povo e precisam ter mais autoridade política”, disse Rabelo, confiante.

“Lula é uma espécie de fiador desse ciclo aberto, desde 2003, e é a fresta de esperanca, porque pode voltar, por isso sua candidatura de 2018 é cada vez mais propagada”, avaliou o comunista. Para ele, Lula tem o papel de mobilizar junto ao movimento social e o povo. Foi esse seu papel detonador no ato em defesa da Petrobras, no Rio de Janeiro, quando disse “vocês querem guerra, nós também sabemos lutar”.

Militância que aparece, partido que agiganta-se

Rabelo diz que é preciso priorizar algumas bandeiras mobilizadoras para unir o povo, já que são muitas as reivindicações. “Estamos diante de uma ameaça. A ameaça maior é o impeachment é a destruição da presidenta da República”, diagnostica o dirigente. Segundo sua análise, a direita não suporta mais governo em que não esteja no centro, tutelando. “Temos que defender o mandato da presidenta da República. Esta tem que ser a premissa da nossa bandeira.

Rabelo lembrou o papel do PCdoB, em meio à crise que atingiu o PT em 2005. A União da Juventude Socialista (UJS) deu um exemplo importante ao dizer que “Lula fica”. O PCdoB entrou na disputa pela presidência da Câmara, quando o PT não tinha condições e evitou o controle da direita sobre o legislativo. “Os pedidos de impeachment eram 22 e foram arquivados pelo Aldo Rebelo”, conta ele.

Outra bandeira estratégica para o PCdoB é o combate à corrupção com o fim do financiamento eleitoral das empresas à direita. “O cinismo da direita de não querer tocar nisso mostra que o combate à corrupção não é pra valer”, analisa. A defesa da integridade da Petrobras, do regime de partilha e da engenharia nacional completa o espectro de bandeiras com maior apelo mobilizador.

Há urgência na formação de uma ampla frente com base nessas três bandeiras, a defesa do mandato, da Petrobras e do financiamento público de campanha. “Temos que aglutinar o bloco de esquerda em torno do sentido democrático e patriótico dessas três bandeiras, para estancar a ofensiva da direita e paralisar a instabilidade política”.

Rabelo mostrou como o PCdoB está agindo a partir da iniciativa do governador Flávio Dino de aglutinar governadores do nordeste em defesa do governo. “O povo nordestino tem um peso importante no campo político progressista”, destacou.

Além dessas bandeiras prioritárias, o PCdoB precisa estar preparado para enfrentar outras demandas. “Não era o momento para medidas de ajuste, quando o governo precisa dialogar com sua base social. Precisamos abrir negociação para manter a base social defendendo que sejam mantidas as regras atuais para o seguro desemprego, que atinge muitos jovens”, mencionou. Rabelo também apontou para a necessidade de enfrentar a questão do fator previdenciário, tributar as grandes rendas e heranças, como se faz em outros países, enquanto aqui a alíquota é a mesma para assalariados e para ricos.

“Vamos juntar gente para a mobilização dia 13 em defesa da Petrobras”, convocou Rabelo. Embora falem em família, Deus e comunismo, Rabelo diz que a bandeira da direita no dia 15 de março é “Fora Dilma”, com uma forte clivagem de ódio, como demonstrou o linchamento moral do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega num hospital, enquanto acompanhava a esposa para um tratamento de câncer.

“Nós não somos partido de se amedrontar com vento na relva. São mais de 90 anos enfrentando ditadura, obscurantismo, clandestinidade, muitos que deram a vida para mostrar a convicção do partido, o diabo! Vamos sim barrar essa investida e escalada dessa direita reacionária, cuja única vontade é sufocar o sopro de mudança que assistimos nos últimos 12 anos”, encerrou o dirigente comunista em tom otimista.

Soberania popular

O filósofo João Quartim de Morais foi à essência da turbulência em curso no Brasil, ao apontar que a direita tenta cassar a soberania popular, já que o mandato da presidenta Dilma não é um direito privado ditado pelo poder do dinheiro. “Estamos diante da luta de classes, da luta ideológica, do poder do povo contra o poder do dinheiro”, afirmou.

Morais assinala que faltou a percepção da “justa modificação de renda no país pela politica audaciosa e exitosa de Lula”. “Pela primeira vez, um governo lembrou dessas massas”, disse ele, ressaltando uma dificuldade da esquerda de formar a opinião da população para suas bandeiras e realizações.

Por outro lado, em sua avaliação, houve um infundado otimismo ingênuo com a burguesia industrial. “Desonerar a folha de pagamento do truste automobilístico foi uma ilusão de que os industriais investiriam mais”, avaliou ele, destancando ainda a “insistência exagerada” em reativar a economia pela via do consumo. “Foi uma medida excelente ao tirar tantos milhões da miséria e fazê-los entrar para o mercado de consumo”, disse. De acordo com o intelectual, agora vai ter que haver uma precisão e rigor em apontar quais são as prioridades econômicas do Governo.

Ainda pontuando questões que lhe pareceram equívocos a serem corrigidos, Morais diz que o Bndes deveria investir em outros setores, como infraestrutura e transporte. Ele lembrou a fantasia criada em torno da criação da linha de trem-bala São Paulo-Rio. “Qualquer trem a 150 por hora, fazendo o trajeto de São Paulo ao Rio em duas horas e meia seria um grande avanço”.

À mesa, além de Rabelo e presidente da seção de São Paulo da Fundação Maurício Grabois, João Quartim de Moraes; estiveram a deputada estadual Leci Brandão (PCdoB/SP); o presidente do Comitê Municipal do PCdoB de São Paulo, Jamil Murad; a coordenadora nacional de Saúde do PCdoB, Julia Roland; e o deputado federal Orlando Silva (PCdoB/SP).