Capa de A luta de classes, de Domenico Losurdo. Arte de David Amiel, sobre cartaz de Karl Maria Stadler para o Dia Internacional da Mulher (1914) e fotos de Raúl Corrales Forno, “La Caballeria” (1959), Museo de la Revolución, Havana, Cuba, e de Daniel López García, “Podemos” (2015).

A Boitempo acaba de lançar o livro A luta de classes: uma história política e filosófica, do marxista italiano Domenico Losurdo. Depois de seu aclamado A linguagem do império: léxico da ideologia estadunidense, Losurdo se volta para o conceito e a prática da luta de classes e sua atualidade diante da atual crise econômica que se alastra, e provoca: “é certo que a luta de classe tenha de fato desaparecido?”

Para Losurdo, a luta de classes não é somente o conflito entre classes proprietárias e trabalho dependente. É também a “exploração de uma nação por outra”, como denunciava Marx, é a opressão “do sexo masculino sobre o feminino”, como escrevia Engels. O livro faz uma original leitura da teoria de Marx e Engels da história mundial que tem início com o Manifesto Comunista. E nos mostra que, em face das colossais mutações que marcaram a passagem do século XX para o XXI, a teoria da luta de classes revela-se mais vital do que nunca.

Leia a orelha do livro, assinada por José Luiz Del Roio

Domenico Losurdo trabalha em uma minúscula cidade do centro da Itália, que é uma joia do renascimento: Urbino. Do alto de suas suaves montanhas, lança o olhar para o presente e o passado da história social de todo o planeta. E consegue traçar linhas para o futuro. Possui uma erudição impressionante, contando sua obra com uma meia centena de volumes. E não tem medo da polêmica, que realiza sempre em alto nível. Enfrenta “monstros sagrados” como Simone Weil, Hannah Arendt e Jurgen Habermas, contestando suas teses com a precisão de um cirurgião. 

Neste seu trabalho, se fixa numa expressão intrigante usada no Manifesto Comunista, de Marx e Engels, ou seja, “lutas de classes”. Esse plural não é inócuo, mas pleno de significado e consequências, que nem sempre foram percebidas, no desenvolvimento da luta política nos tempos sucessivos.

E é aqui que Losurdo se aprofunda, demonstrando a complexidade das situações que se apresentaram diante dos fenômenos revolucionários. Nada é simples e linear, se entrelaçam fenômenos de sociedades cada vez mais diversificadas ou mesmo fragmentadas, como nacionalismos, libertação nacional, anseios de conquistas tecnológicas e mesmo messianismo em diversas formas. O autor concentra boa parte de seu esforço em aprofundar a análise dos acertos, dos erros, das utopias e da dura realidade que enfrentaram e ainda enfrentam as sociedades que puderam trilhar os caminhos da construção do socialismo. Grande é o mérito do pensador italiano ao colocar nesse labirinto de contradições a questão de gênero e da luta das mulheres para superar a alienação e a exploração específica a que foram e são submetidas. Sua análise, rigorosamente científica, não esconde, entretanto, o militante revolucionário, pleno de confiança em um destino melhor para os povos e oprimidos do planeta.

É claro para muitos que hoje a sociedade brasileira está imersa em uma intensificação “das lutas de classes” que nem sempre é de fácil leitura. Para os ativistas sociais, o conhecimento do método de análise e das informações fornecidas por Domenico Losurdo pode ser de grande utilidade para a construção de programas de lutas eficazes.

José Luiz Del Roio

DOMENICO LOSURDO NO BRASIL | De 10 a 23 de junho de 2015
Conferências de lançamento de A luta de classes: uma história política e filosófica

O filósofo e historiador italiano Domenico Losurdo está no Brasil ao longo do mês de junho para um ciclo de conferências e debates de lançamento de seu novo livro A luta de classes: uma história política e filosófica (Boitempo, 2015). Entre os dias 10 e 23 de junho ele passa pelas cidades de São Paulo, Santo André, São Luís, Niterói e Rio de Janeiro para discutir a história e atualidade da luta de classes no Brasil e no mundo. Confira a agenda completa de debates e conferências aqui.