O livro “A revolta camponesa de Formoso e Trombas”, da professora Maria Esperança Fernandes Carneiro foi lançado em sua segunda edição, pela Editora Anita Garibaldi em parceria com a Fundação Maurício Grabois. O evento foi nesta terça-feira, 22, no fim de tarde, durante um colóquio sobre diretrizes para a educação que ocorria na Escola de Formação de Professores e Humanidades da PUC-Goiás.

A professora Maria Esperança gostou da receptividade do público ao livro e pode encontrar “velhos amigos e alunos do mestrado e doutorado”. “Numa luta que ficou conhecida em nível nacional, é preciso mostrar que os trabalhadores tiveram grandes avanços. Que a gente luta, mas também conquista”, afirmou ela, destacando a atualização feita no livro desde a luta ocorrida em 1964, data do golpe militar que deu origem a uma ditadura de 20 anos. “Muita coisa aconteceu  desde então, com avanços e recuos ocorridos que é preciso observar”, completou.

Para ela, o conhecimento é produzido socialmente, portanto, este livro é um produto coletivo, não seu, mesmo tendo seu nome nele. “A academia perde muito em não reconhecer isso e dizer que um livro é nosso, não meu”, disse ela, defendendo que as pessoas façam uma apropriação democrática do conhecimento. “Aquelas lideranças só fizeram a revolta porque aquilo foi socialmente e historicamente possível. Esse livro só existe porque camponeses estavam dispostos a colaborarem com as entrevistas e a reconstrução oral da revolta durante o regime militar, em que as pessoas sentiam muito medo de falar”, explicou a autora, que doou 90 exemplares do livro para o Movimento de Mulheres do PCdoB.

O coordenador da Seção Goiana da Fundação Maurício Grabois, Silvio Costa, destacou a importância do relançamento do livro, em edição atualizada, pelo caráter clássico que a obra adquiriu com o passar do tempo para todos que estudam as lutas camponesas no Brasil. “Particularmente em Goiás, trata-se de um trabalho pioneiro em qualidade sobre a luta pela terra no Estado”, afirmou o dirigente comunista.

Costa avalia que, embora a imprensa não dê espaço, esta disputa pela terra é muito atual, assim como a luta pela reforma agrária, emq eu os conflitos não se encerraram. “Apenas não têm visibilidade e este livro coloca na ordem do dia esta luta”, disse ele, comemorando o sucesso do lançamento, devido à popularidade da professora na Escola de Formação de Professores da PUC.

Clássico referencial

O livro é dessas obras cujo valor transcende o mero registro histórico de um importante acontecimento da história do Brasil. A obra é um mergulho na essência de um ponto crucial das relações sociais brasileiras, a questão agrária.

Já no capítulo inicial, Maria Esperança, doutora em História e Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), analisa a expansão do capitalismo na agricultura e a luta pela terra, demonstrando que as tensões provocadas pelo desenvolvimento do capitalismo no país foram sentidas com intensidade no campo.

Utilizando como referencial teórico as obras de Karl Marx, Karl Kautsty, José de Souza Martins, Maria Nazareth B. Wanderley e Francisco de Oliveira, ela percorre as metamorfoses dos trabalhadores rurais, desde a sua expropriação até a sua proletarização como pessoas “livres” para vender a sua força de trabalho ao capitalismo.

No capítulo seguinte, Maria Esperança estuda o processo de acumulação de capital no Brasil e no estado de Goiás, a base para a compreensão da acumulação de forças que chegou à revolta de Fomoso e Trombas. Para a autora, o processo histórico de ocupação do estado de Goiás pode ser dividido em três fases: a conquista do território e o descobrimento das minas auríferas; a crise de preços do café no mercado externo a partir de 1897; e a modernização da grande propriedade.

Esses fatores confluíram para formar o cenário que a luta de Formoso e Trombas se desenvolveu, descrito com precisão de detalhes por Maria Esperança. A partir daí, ela apresenta o desenvolvimento da lua, liderada pelo camponês José Porfírio, e o papel do Partido Comunista do Brasil (à época com ma sigla PCB) na direção do movimento.

O livro é uma reedição revista e atualizada da tese de mestrado de Maria Esperança, defendida em 1982 na Universidade Federal de Goiás (UFG) e publicada, época, pela editora da instituição. Trabalhando atualmente no Departamento de Pedagogia da Educação da PUC de Goiás, ela fez uma apresentação para essa segunda edição, comentando pontos importantes sobre o tema desde a publicação da primeira edição.