O recém-criado núcleo da Fundação Maurício Grabois de Santos e Região iniciou sua atuação com o “pé-direito” no 1º Fórum Social da Baixada Santista, que reuniu neste fim de semana (17, 18 e 19/11) diversas entidades da sociedade civil e movimentos sociais, inspirados nos princípios do Fórum Social Mundial e que acreditam que “Outra Baixada é Possível”.

Ao lado da Associação Cultural José Martí da BS e do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas em Educação: Trabalho e Formação da Universidade Católica de Santos (Unisantos), o núcleo da FMG organizou o debate “Resistências e lutas necessárias pelo direito à educação”, umas das atividades autogeridas do evento. Foram convidados o professor da Universidade de Camaguey, Maikel Pons Giralt, e a doutora em Educação pela PUC-SP, docente de pós-graduação e coordenadora da Cátedra Paulo Freire da Unisantos, Ivanise Monfredini. Cerca de 80 pessoas prestigiaram esse painel, na capacidade máxima da sala utilizada.
 
O professor Maikel contextualizou as três revoluções ocorridas na Educação Cubana. Segundo ele, transformações atuais estão sendo implementadas com a participação de diretores, docentes, estudantes e demais agentes sociais, procurando adequar o sistema nacional de ensino às diretrizes para a Educação aprovadas no Sétimo Congresso do Partido Comunista Cubano (PCC), para o período de 2016 a 2030, baseadas em novos programas e formas de gestão escolares. Essas reformas fazem parte do Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, aprovado em 01 de junho de 2017 pelo Comitê Central do PCC e Assembleia Nacional Popular.
 
A professora Ivanise destacou as ameaças que pairam sobre a Educação no Brasil, em especial da “Escola Sem Partido”, que segundo ela está sendo introduzido nas redes de forma declarada ou velada. A partir disso, ela tratou da importância da elaboração dos novos livros didáticos e da necessidade dos professores se apresentarem como avaliadores desses livros, pois a direita está se articulando para essa tarefa.
 
Integrante do núcleo da FMG, a professora Maria do Carmo Luiz Caldas Leite, doutoranda e mestre em Educação, foi responsável pela mediação do debate. Maria avalia que o painel cumpriu seus objetivos: 1) favorecer o diálogo voltado aos grandes desafios educacionais, da América Latina e do Caribe; 2) Apoiar a formação de redes de pesquisadores e instituições que atuam no campo da Educação; 3) Fortalecer os processos de internacionalização e de cooperação acadêmica entre Brasil e Cuba; 4) Intervir no debate público que fortaleça a democratização do acesso ao conhecimento.
 
“Os dois participantes são membros do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (Clacso) e dominam o tema e o contexto da América Latina. O maior apoio à formação de redes é discutir a gravidade do momento em que vivemos com ameaças de perdas de direitos em toda a região”, afirmou Maria Leite.
 
“Despertamos a atenção dos presentes para uma realidade, para muitos, desconhecida sobre Cuba, o que contribui para fortalecer a cooperação acadêmica”, ressaltou. O professor Maikel, inclusive, visitou a Unisantos para tentar formalizar um convênio entre a Universidade de Camaguey e a instituição de Santos.
 
Democratização das Comunicações e Economia Solidária
 
O núcleo BS da Fundação Mauricio Grabois também co-organizou um painel sobre a Mídia e a Democratização das Comunicações, que teve como palestrante o jornalista e professor Wagner de Alcântara Aragão, editor da Rede Macuco. Aragão abordou a luta por um marco regulatório das comunicações, o imenso oligopólio de Facebook, Google e da Microsoft e os caminhos da Mídia Alternativa.
 
As palestras sobre diferentes recortes da Economia Solidária, organizadas pelo Fórum de Economia Solidária da BS, também foram acompanhadas com vivo interesse pelos membros do núcleo da Grabois, por ser um tema de estudo dos mesmos.
 
No painel sobre Economia Solidária e Desenvolvimento Local, o professor e economista Ladislau Dowbor teve sua palestra permeada pela ideia de que a economia está presente em todos os setores da sociedade e não é algo que só preocupa economistas. Dowbor sustentou que se devem apoiar as iniciativas que melhoraram a qualidade de vida do povo, independente das opções político-ideológicas dos governos que as adotarem.
 
A filósofa Djamila Ribeiro abordou os aspectos de Raça e Gênero da ES, focando a exclusão social da mulher negra brasileira. O pesquisador social Flávio Alcamino trouxe dados da experiência de Chiapas (México) com a luta político-ideológica dos indígenas, apoiados no Exército Zapatista de Libertação Nacional que eles formaram naquela região/província mexicana.
 
Houve também o Encontro de Mídias Livres, bate-papo puxado pelo editor da Revista Fórum, Renato Rovai, e pelo diretor do Instituto Procomum, Rodrigo Savazoni, com a intenção de construir uma rede de midialivristas.
 
Durante a programação de sábado, os membros do núcleo da Fundação Maurício Grabois montaram, ainda, uma banca com livros da Editora Anita Garibaldi editados em parceria com a FMG, apresentando uma amostra da produção editorial e contribuindo para a luta de ideias progressista.
 
Estes são alguns exemplos da participação do núcleo da Fundação Maurício Grabois nesta primeira edição do Fórum Social da Baixada Santista. Já está sendo marcado o lançamento oficial da FMG na BS para 2018.

O 1º Fórum Social da Baixada Santista

O Fórum Social Baixada Santista (FSBS) tem por finalidade promover o fortalecimento, a integração e o intercâmbio das múltiplas instâncias da Sociedade Civil sediadas nos municípios da Região Metropolitana da Baixada Santista que empreendem diferentes lutas pela defesa de direitos, prevalência do interesse público, soberania popular, inclusão e promoção da transparência e controle social. Por volta de 850 pessoas passaram pelos três dias de atividades.
 
No primeiro dia, 17/11, na Unifesp (Unidade Silva Jardim) houve o “Encontro das Comunidades Caiçaras: Pescaria de boas experiências”, mesa redonda “Saúde da População Indígena”. Já na unidade da Rua Carvalho de Mendonça, houve mesa de debates sobre conjuntura com o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde Arthur Chioro, da especialista em Saúde Pública Maria do Rosario Corrêa, do professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse, e do economista Daniel Vasquez. Seguiu-se a abertura oficial do Fórum Social da BS, a cargo do jurista Sérgio Sérvulo da Cunha, coordenador geral do Fórum da Cidadania, entidade idealizadora deste evento.
 
Um dos momentos mais importantes foi a Conferência Magna “Outro País é possível”, com o frade dominicano e escritor Frei Betto. Mais de 300 pessoas lotaram o auditório da Unifesp na Rua Carvalho de Mendonça. Militante de movimentos pastorais e sociais, ele participou da resistência à Ditadura Militar e ocupou postos importantes no primeiro mandato do ex-presidente Lula.

No sábado (18), foram realizadas diversas atividades autogestionadas por um amplo leque de grupos, entidades e movimentos sociais.
 
O 1º Fórum Social da Baixada Santista se encerrou no domingo (19) de manhã, no centro cultural Cadeira Velha de Santos e na Praça dos Andradas (Centro), onde foram realizadas atividades culturais, artesanato, culinária, produtos orgânicos e música. Antes da plenária de encerramento, houve ainda o painel “Sociedade civil e transformações sociais: Resistência popular, participação e justiça social”, em que participaram o economista José Paschoal Vaz, Mauricio Piragino (Movimento Estadual de Combate à Corrupção Eleitoral) e o coordenador da Central de Movimentos Populares, Raimundo Bomfin, com a mediação do sociólogo e coordenador técnico do Fórum da Cidadania de Santos, Celio Nori.
 
Na plenária de encerramento, foi criada uma comissão responsável por elaborar a Carta de princípios do Fórum Social da Baixada Santista, que deve ficar pronta nos próximos dias. Também foi aprovada moção de apoio ao Projeto de Lei que cria o Sistema Nacional de Economia Solidária que está no Senado. 

Carlos Norberto Souza é jornalista e membro do núcleo da FMG-BS

 

 

 

 

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