Pelo segundo ano consecutivo a cidade de São Paulo comemorou o Dia da Luta Operária, em 9 de julho, uma referência à greve de 1917, considerada a primeira paralisação geral de trabalhadores no Brasil.

 

Em 2018, além do ato político em memória do protesto de 101 anos atrás, houve uma homenagem ao escritor e ativista político José Luiz Del Roio. Por iniciativa do vereador Antonio Donato, a Câmara Municipal concedeu a ele a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, por sua história de vida dedicada à organização e defesa do movimento operário brasileiro. O vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino, discursou em nome do Partido, enquanto Adalberto Monteiro representou a Fundação Maurício Grabois. 

Nascido em São Paulo, Del Roio começou a atuar desde jovem no Partido Comunista Brasileiro (PCB), ajudando a organizar entidades estudantis e sindicatos operários. Depois do golpe militar de 1964, resolve, juntamente com outros militantes (como Carlos Marighella) fundar a Ação Libertadora Nacional (ALN). Viveu em Cuba, Peru e Chile, até se fixar na Europa. Foi um dos responsáveis pela retirada do Brasil de importantes documentos e acervos do PCB, incluindo a biblioteca de Astrojildo Pereira, contendo jornais, livros, revistas das primeiras décadas do século XX do movimento operário brasileiro. O material foi recolhido e, em uma operação secreta, é levado para Milão, na Itália. Após a redemocratização, todo o acervo retornou ao Brasil.

Del Roio também é cidadão italiano e em 2006 elegeu-se senador naquele país. Foi ainda membro do Conselho da Europa.

 

Cortejo do operário José Martinez, assassinado em 9 de julho de 1917 na primeira greve geral do país (Foto: Reprodução/Arquivo Nacional)

O Dia da Luta Operária foi criado por lei (nº 16.634/17) de autoria do vereador Donato e é comemorado no dia 9 de julho em homenagem ao sapateiro anarquista sindicalista José Martinez. Nesta data, em 2017, ele participava da greve que tomava conta de várias fábricas no Brás quando foi baleado pela polícia, que reprimia o movimento. Sua morte, dias depois, em consequência do ferimento, revoltou os operários e impulsionou a greve, que parou São Paulo e se alastrou para cidades do interior e de outros estados. Martinez é considerado um mártir da paralisação.

José Luís del Roio acabara de lançar seu livro A greve de 1917 – os trabalhadores entram em cena, recém-publicado pela Fundação Lauro Campos em coedição com a Alameda Editorial. Na capa, a foto de uma mulher liderando a greve.

A homenagem a Del Roio encheu o armazém tombado dos Matarazzo, na rua do Bucolismo, Brás, concentração operária, em grande parte imigrantes, e foi local de manifestação da referida greve – disputada entre anarquistas e futuros comunistas – onde pela primeira vez se entoou em público o hino A Internacional.

“Del Roio é dessas figuras emblemáticas e imprescindíveis do movimento operário revolucionário”, disse Walter Sorrentino, vice-presidente do PCdoB. Ele lembrou os vínculos do homenageado com o PC do Brasil, tendo liderado com outros revolucionários a formação da Aliança Nacional Libertadora, cujo líder foi Marighela. Sua primeira esposa foi dada como desaparecida na ditadura militar. Historiador, publicista e escritor, é ligado profundamente à memória do movimento operário. Na Itália, foi membro da Refundação Comunista. Sorrentino o considera um ideólogo da causa socialista dos trabalhadores.

“Homenageá-lo é reviver e viver esse compromisso, com a saudável ortodoxia que não perde de vista que os interesses fundamentais dos trabalhadores serão os de emancipar toda a sociedade da exploração e opressão de qualquer tipo. É compreender que, malgrado novas morfologias, composição e formas de exploração, as classes trabalhadoras serão sempre o artífice principal dessa gesta. É reafirmar que o futuro tem o coração antigo e a mente alerta para esses novos tempos”, declarou o dirigente do PCdoB.

 

O secretário-geral da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, com José Luiz Del Roio