80 anos de Haroldo Lima: a esquerda na Bahia sempre teve um nome
São Paulo, quarta-feira, 15 de dezembro de 1976. Era o último de dois dias de intensas e secretas discussões do Comitê Central do PCdoB, que se reuniu, improvisadamente, numa casa insuspeita de número 767, na rua Pio XI, bairro da Lapa. Na pauta do encontro, estava a Guerrilha do Araguaia, um movimento de resistência armada à ditadura militar (1964-1985) organizado pelo partido no sul do Pará. Era preciso fazer um balanço do combate e repensar as estratégias de atuação contra os militares.
A casa onde aconteceu a Chacina da Lapa. Arquivo Resistência SP
O dirigente baiano Haroldo Lima esteve na reunião. Ele estava hospedado na avenida Pompeia e aguardava o grupo organizar a volta de todos para casa. Não era possível simplesmente abrir a porta e sair. O PCdoB vivia na clandestinidade e os militantes eram perseguidos. Todo cuidado precisava ser tomado. Elza Monnerat, uma das participantes, ficou responsável por transportar os camaradas, de dupla em dupla, em um corcel azul dirigido por Joaquim Celso de Lima. Haroldo foi dupla de Aldo Arantes, que primeiro foi deixado na estação Paraíso do metrô, caminho de onde morava, em Itaquera, na Zona Leste. Depois, finalmente, o baiano estava em casa.
Por ter sido deixado depois, Haroldo não soube que Aldo foi preso assim que adentrou ao metrô. O corcel estava sendo seguido pelos militares, que já tinham informações de onde moravam os dirigentes e da casa onde aconteceu a reunião. Já era manhã de quinta-feira, dia 16, quando Elza, que saía com a última dupla, Jover Telles e José Gomes Novaes, observou que o carro estava sendo acompanahdo. Na tentativa de despistar, Joaquim fez manobras bruscas, entrou em ruas estreitas, mas não adiantou. Uma perseguição se fez e Elza orientou que a dupla abandonasse o carro e fugisse. Ela e o motorista foram, enfim, alcançados e presos.
Já eram seis e meia da manhã quando os militares avançaram sobre a casa da Lapa, onde ainda estavam Pedro Pomar e Ângelo Arroyo, que se preparavam para começar a redigir a edição do jornal ‘A Classe Operária’ do dia seguinte. Junto com os dois, estava Maria Trindade, encarregada das tarefas domésticas. Os militares fuzilaram o imóvel por vinte minutos. Pedro e Ângelo morreram. Maria conseguiu sobreviver e se tornou uma testemunha da Chacina da Lapa, como ficou conhecida a ação. Em posse dos endereços dos dirigentes, os agentes da repressão ainda voltaram à residência onde estava Haroldo, que foi agredido e preso.
Já era madrugada do dia 17 quando Haroldo foi encapuzado, algemado e transferido, levado por um avião. Foi possível identificar quando a aeronave esquentou os motores. Sentia doer um ferimento na cabeça, feito depois de receber uma coronhada, durante a prisão violenta. No trajeto, notou que não estava sozinho. Ouviu a voz de Elza repetir a palavra “covardes”. Ainda entendeu que Aldo também estava no voo. Estavam sendo encaminhados para o Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) do I Exército, no Rio de Janeiro.
Haroldo foi levado para uma sala e notou quando alguém importante estava chegando para vê-lo. A pessoa se identificou como “D. Marcos” e ordenou que o dirigente comunista fosse colocado de costas e tivesse retirado o capuz. Fizeram com que ele lesse as manchetes de diversos jornais que noticiaram a Chacina da Lapa. Um dos títulos era: “O PCdoB foi destruído”.
– Comunico-lhe que o seu PCdoB acabou – bradou o “D. Marcos”.
O baiano ficou chocado com as notícias que viu no noticiário. Soube das outras prisões e do assassinato de outro camarada, João Batista Drummond. Isso aumentou, ainda mais, o estado físico e mental deplorável em que se encontrava. Perdera muito sangue com o corte na cabeça, estava sem comer e sem dormir há cerca de 24 horas. A fraqueza, no entanto, não impediu que Haroldo reagisse à ofensa. “Naquele instante, a saga comunista explodiu com uma força que eu nem sei de onde vinha”, contou o dirigente.
– De anos em anos sempre aparecem aqueles que repetem que o PCdoB acabou – retrucou o comunista.
E não parou por aí. O “Dr. Marcos” e o seu grupo ainda tiveram que ouvir “vigorosa denúncia sobre as atrocidades que estavam fazendo no país, sobre a absurda política de tratarem o povo como inimigo interno e sobre a entrega dos destinos da Pátria a comando externo”.
A coragem daquele homem assustou os agentes da ditadura. Tamanha afronta deixou em fúria o “Dr. Marcos”, que ordenou a transferência do comunista para um outro compartimento do prédio. Lá, permaneceu por terríveis onze dias. Pela defesa que fez do seu partido, do seu país e do seu povo, Haroldo Lima sentiu a dor amarga e silenciosa da tortura, em todos aqueles intermináveis dias.
Esse foi, sem dúvidas, um dos momentos mais marcantes da vida de Haroldo. No entanto, essa postura corajosa, coerente e firme não se encontra, apenas, neste tenso episódio, mas em toda a trajetória desse baiano ilustre, que completa, nesta segunda-feira (07/10), 80 anos de caminhada (1939-2019). Uma testemunha ocular da história brasileira recente. Um ícone da esquerda na Bahia. Uma referência para muitas e diferentes gerações.
Estreia do baiano
Haroldo Lima nasceu na Era Vargas, mais precisamente durante o período que ficou conhecido como Estado Novo, e um mês depois do início da Segunda Guerra Mundial. O mundo estava em polvorosa, mas toda essa agitação não chegava ao pequeno e ainda pacato município de Caetité, no interior da Bahia. Foi lá que a professora Adelaide Borges Rodrigues Lima e Benjamin Teixeira Rodrigues Lima viram, pela primeira vez, o rosto do filho, que veio ao mundo em um sábado de primavera, enchendo de alegria aquela família.
O governador Joaquim Manoel Rodrigues Lima
A política estava no DNA daquele menino caetiteense. Logo, soube que era descendente do Barão de Caetité e do primeiro governador eleito do estado da Bahia, Joaquim Manoel Rodrigues Lima (mandato de 1892 a 1896). A gestão de Joaquim foi marcada por incentivos à educação e à cultura – áreas que sempre marcaram, também, o município de Caetité, conhecido por ser, durante muito tempo, um importante centro de formação de professores e de onde saiu um dos principais educadores do Brasil, Anísio Teixeira.
Na cidade da boa educação, o pequeno Haroldo estudou as primeiras letras. Lá, foi despertado nele o desejo de ser um engenheiro. Para alcançar o sonho, era preciso se mudar, pois somente na capital do estado havia curso universitário. Ele passou a viver em Salvador e conseguiu passar na seleção da Universidade Federal da Bahia, para o curso de engenharia elétrica, no ano de 1958, um momento de efervescência política no Brasil. Em 61, acontece a renúncia do presidente Jânio Quadros, e o vice, João Goulart, assume, pregando ideias de promoção de reformas de base no país, marcado pela desigualdade.
Na universidade, Haroldo mergulhou na militância política. Integrou a Juventude Universitária Católica (JUC), atuou na União dos Estudantes da Bahia (UEB) e participou de diversas atividades da União Nacional dos Estudantes (UNE). Com a atuação no movimento estudantil, principalmente junto à JUC, ajudou a fundar a Ação Popular (AP), uma organização política de esquerda que reunia muitos militantes da juventude católica. Após cinco intensos anos na UFBA, o caetiteense concluiu o curso em 1963, véspera do golpe militar de 1964.
A Ação Popular ganhou destaque na luta contra a ditadura militar. Como uma liderança do movimento, Haroldo defendeu a incorporação da AP a uma atividade partidária. O Partido Comunista, respeitado partido de esquerda que também atuava contra o regime, foi o indicado por ele e terminou por ser o escolhido. Assim, o baiano passou a integrar o Comitê Central do PCdoB, participando das principais estratégias para combater o autoritarismo militar no país. Permaneceu na direção comunista até o momento da prisão, em 1976.
Ilegalidade
Formado engenheiro elétrico, Haroldo assumiu a chefia da Divisão de Operação e Manutenção da Companhia de Eletricidade da Bahia, a Coelba, e pôde, enfim, constituir uma família. Casou-se com Solange Silvany, também militante da AP. Mas a vida de cumpridor de horário não interessava a Haroldo, que resolveu deixar o emprego para se dedicar à política. Naquele momento, começava a valer o sistema de bipartidarismo, em que apenas dois partidos, o Arena e o MDB, estavam autorizados a atuar, sendo todos os outros extintos ou incorporados aos dois legalizados. Apesar disso, o PCdoB permaneceu vivo e organizado, mesmo que na ilegalidade.
Para fugir da perseguição e continuar na militância, Haroldo mudou de identidade e fugiu com a família para a região sul da Bahia, onde trabalhou com ‘diarista’ na zona do cacau. Essa tática foi utilizada por muitos outros dirigentes comunistas. Trabalhou por cerca de dez anos na ilegalidade, construindo a resistência à ditadura. Àquela altura, o casal via aumentar a família. Já tinham, os dois, três filhas: Julieta Silvany, Lene Silvany e Valéria. Um abalo para os cinco aconteceu em 1969, quando Solange acabou presa enquanto entregava panfletos contra o arrocho salarial na porta de uma fábrica, na companhia da amiga Regina Mariano. Ela foi condenada e se tornou a primeira mulher presa política do Brasil, durante a ditadura militar.
O drama familiar ganha um novo capítulo sete anos depois, com a prisão política de Haroldo, em 1976, durante a reunião do Comitê Central do PCdoB, em São Paulo. Passados os iniciais onzes dias de tortura, o dirigente permaneceu preso. Encarcerado esteve durante quase três anos. Nesse tempo, a militância comunista se movimentava intensamente em prol da liberdade do baiano e dos outros comunistas, principalmente, nas lutas pela Anistia. Na Bahia, uma jovem estudante iniciava a atuação no Partido Comunista e se indignava com as injustiças cometidas pelo regime contra Haroldo, que ela tanto admirava. Por vezes, acham até que ela fosse filha dele, tamanho era o carinho e respeito, um título que muito a orgulhava. Era a deputada federal Alice Portugal.
Liberdade
Quando, enfim, chega a Anistia, em 1979, Alice e a Bahia explodem de alegria pela liberdade do ilustre caetiteense. “Sem dúvida alguma, Haroldo nos inspirou mesmo preso. Ao sair da cadeia, foi como se tivéssemos uma iluminação diferenciada naquela jovem militância”, contou a deputada. Na saída da prisão, Haroldo agigantou-se, ainda mais, na luta política. Dali em diante, Alice esteve sempre junto a ele, ‘bebendo da fonte inesgotável de sabedoria’ do ‘intrépido’ dirigente. “Eu, que achavam que era sua filha, que acompanhava os grupos de Anistia, me sentia muito honrada por estar perto de um mito, junto de alguém que era uma referência especial na construção da nossa militância”, continuou a parlamentar.
A luta contra a já enfraquecida ditadura militar foi retomada com todo o gás pelo baiano. Ele se junta a nomes como Waldir Pires e Rômulo Almeida para construir, na Bahia, o PMDB, que sucedeu o antigo MDB. O objetivo era lançar uma candidatura a deputado federal com uma sigla emprestada, pois o PCdoB ainda continuava na ilegalidade. Fiel ao seu partido de coração, Haroldo não escondeu isso do MDB, que sabia do vínculo e lançou a candidatura do comunista. Ele foi eleito em 1982, sendo um dos mais votados em Salvador naquela eleição, com mais de 30 mil conquistados na capital. Somente em 1985, com o fim da ditadura e a volta da legalidade, é que ele pôde, enfim, se filiar e se candidatar pelo PCdoB.
Haroldo no Congresso, na tumultuada década de 80. (Foto: Arquivo FMG)
Ao todo, foram cinco mandatos de deputado federal. Em algumas campanhas, utilizou um slogan que traduzia a sua força: “A esquerda na Bahia tem nome”. A atuação parlamentar foi considerada exemplar e democrática. “Cinco mandatos, construídos a muitas mãos, nas mãos da militância. Sem dinheiro, sem estrutura, lá daquele comitê do Tororó para o Brasil”, relembrou Alice. Talvez o mandato mais importante e desafiador tenha sido o que lhe garantiu a oportunidade de participar da nova constituição, a de 1988, que colocava um ponto final definitivo naqueles tempos de autoritarismo e repressão. Haroldo participou ativamente da Constituinte. Apresentou mais de mil emendas ao projeto da nova constituição. Por conta disso, recebeu diversos prêmios de parlamentar atuante.
Pascoal Carneiro, presidente estadual da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), lembra que conheceu Haroldo durante o primeiro mandato dele, ainda no MDB e ficou impressionado com a força política que tinha. “Ele foi eleito para cinco mandatos seguidos. Na época, nenhum comunista tinha conseguido isso. Foi um recorde no Brasil. Depois, por si só, para o crescimento do partido, decidiu não ser mais candidato, para a gente fazer dois deputados federais aqui na Bahia. Segundo ele, se fosse mais uma vez candidato, só elegia ele. E foi certo, o partido cresceu”, afirmou. A escolhida para substituir Haroldo no Congresso nacional foi, justamente, a sua ‘filha’ Alice Portugal, que já tinha dois mandatos de deputada estadual. Ela e o deputado federal Daniel Almeida.
Haroldo na despedida da ANP, em 2011
“Eu faço parte dessa legião de baixinhos e baixinhas que Haroldo formou, ao longo da sua trajetória. Que honra ser parceiro dele na caminhada, na amizade, na luta por direitos iguais, por democracia, por liberdade. Uma caminhada que ele percorre com uma generosidade ímpar, acolhendo todo mundo, respeitando a todos, com uma energia insubstituível”, declarou Daniel.
No governo do ex-presidente Lula, Haroldo foi convidado a assumir a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), onde permaneceu até 2011 e se tornou uma referência no assunto. Fez uma gestão marcante, que ficou conhecida pela capacidade de lidar de maneira harmoniosa em relação ao governo, mas sem uma postura de submissão. Nos debates sobre o pré-sal, defendeu a soberania do Brasil na exploração.
Legenda brasileira
A trajetória de Haroldo Lima influenciou gerações de comunistas, principalmente na Bahia, o berço político dele. O presidente estadual do PCdoB, Davidson Magalhães, que ingressou na militância ainda jovem, no movimento estudantil, afirma que durante todo o tempo o caetiteense era um farol que iluminava a atuação partidária no estado. “A nossa geração de dirigentes teve em Haroldo toda uma escola política, moral, teórica. Foi essa garra do Haroldo, essa visão combativa, o compromisso ao partido o que forjou toda uma geração aqui na Bahia. Tenho 40 anos de partido e já entrei tendo em Haroldo uma das referências políticas”, conta Davidson.
Para o presidente do PCdoB-BA, Haroldo Lima é uma ‘legenda brasileira’, porque esteve sempre “dedicado à luta do povo, um nacionalista convicto e, acima de tudo, um socialista de visão transformadora”.
Haroldo no cortejo do 2 de Julho
O respeito e admiração dispensados a Haroldo não está, apenas, no PCdoB. A classe política da Bahia reconhece o papel do comunista, a exemplo da presidenta estadual do PSB, deputada federal Lídice da Mata. Amiga e parceira de muitas lutas, Lídice explica que é emocionante presenciar a chegada do amigo aos 80 anos com tanto vigor e lucidez. O dia 7 de outubro é, também, o aniversário do filho de Lídice, Bruno, e esse é mais um motivo que a presidenta estadual do PSB tem para lembrar e celebrar a vida de Haroldo. “Nós temos, pelo menos, 36 anos de amizade, e eu celebro os 80 anos de Haroldo Lima”, disse.
À frente do seu tempo
A presidenta estadual da União da Juventude Socialista (UJS), Marianna Dias, que também já presidiu a UEB e a UNE, fala com admiração e carinho sobre Haroldo, quando questionada. Para ela, impressiona a capacidade de compreensão da realidade, mesmo nos momentos mais difíceis e tensos, em que as emoções costumam trair as análises. O dirigente é, segundo ela, alguém à frente do tempo, capaz de compreender e assimilar o novo, e estar ao lado da juventude, sempre quando preciso, apesar da idade.
Marianna afirma ter muitas histórias que provam o que diz sobre Haroldo, mas escolhe uma para contar. Era 2014, no tumultuado segundo turno das eleições, em que a presidenta Dilma Rousseff (PT), apoiada pelo PCdoB, disputava a reeleição com Aécio Neves (PSDB). A mídia tradicional desempenhou um papel importante naquele período, e foi acusada de pautar uma série de reportagens negativas a Dilma para beneficiar Aécio. Uma das capas da revista ‘Veja’, por exemplo, trazia uma matéria sobre um esquema de corrupção que ficou conhecido como ‘Petrolão’ e utilizou uma foto da presidenta, ao lado do ex-presidente Lula, com a seguinte frase: “Eles sabiam de tudo”. A juventude reagiu.
Sempre conectado, Haroldo participou dos debates sobre a política de comunicação do PCdoB
Em resposta à Veja, a UJS foi até a sede da Editora Abril, em São Paulo, pichou o local com frases como ‘Veja mente’ e encheu o prédio de lixo. O caso tomou as manchetes dos principais jornais do país e alterou, ainda mais, os ânimos naquela eleição. A ação foi associada ao PCdoB e, de acordo com Marianna, muitos dirigentes, por conta disso, avaliaram como equivocada a manifestação e condenaram a entidade. Muitos, menos Haroldo, que saiu em defesa da juventude. Contrariando os colegas, chegou a parabenizar a UJS.
“Ele parabenizou a entidade pelas ações enérgicas, por saber dar respostas à altura, e, principalmente, elogiou a coragem da UJS de assumir o escracho. Porque a Veja podia acordar cheia de lixo, ninguém ia saber quem foi e ia ser um ato anônimo. Haroldo defendeu que esse era mesmo o papel da juventude. Essa compreensão dos nossos motivos saiu de onde a gente menos esperava, por ter [ele] uma geração tão distante da nossa”, narrou a presidenta da UJS-BA.
É por essas e outras que, acrescenta Marianna, “todo jovem que ouve Haroldo se encanta pelo que ele fala, pela capacidade de estar conectado ao seu tempo”.
Equilibrista
A trajetória de Haroldo Lima, marcada por uma luta incessante pela liberdade – sua e do seu povo –, revela que aquele menino de Caetité soube ser sempre na vida um equilibrista, porque, nos momentos mais duros, como os de prisão e tortura, por exemplo, manteve-se equilibrado, esperançoso no amanhã. Como diz a canção ‘O bêbado e o equilibrista’, de Aldir Blanc e João Bosco, a esperança também se equilibra e, quando dança na corda bamba de sombrinha, sabe que, em cada passo da linha, pode se machucar. Mas, também entende que a dor pungente não há nunca de ser inútil. A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar.
O show do jovem equilibrista Haroldo Lima sempre continua.
Texto e pesquisa: Erikson Walla
Fontes: ‘Sem Meias Palavras’, de Haroldo Lima, e ‘A Chacina da Lapa e seus mártires’, de Osvaldo Bertolino.