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Conclat mostra maturidade do sindicalismo contra Bolsonaro

7 de abril de 2022
Reunião das centrais sindicais

Centrais Sindicais realizam CONCLAT, em São Paulo, para apresentar Pauta da Classe Trabalhadora ao debate eleitoral

O Fórum das Centrais Sindicais realizou um encontro nesta terça-feira (05), no qual as lideranças sindicais reafirmaram que a unidade das Centrais Sindicais é a chave para o sucesso da realização da CONCLAT 2022.

De forma unitária, as centrais sindicais realizam a Conferência da Classe Trabalhadora – CONCLAT 2022 Emprego, Direitos, Democracia e Vida-, na próxima quinta-feira, 7 de abril, das 10h às 12h, em São Paulo. No evento, será apresentada a Pauta da Classe Trabalhadora, elaborada a partir dos documentos dos congressos das centrais e que será levada a candidatos(as) às eleições. 

Participarão, presencialmente, somente 500 sindicalistas que foram convidados(as). A conferência será transmitida, ao vivo, e poderá ser acompanhada pela Rede TVT e pelas redes sociais das centrais sindicais. 

A organização envolve a CUT, a Força Sindical, a UGT, a CTB, a NCST, a CSB, a Intersindical Instrumento de Luta, a Intersindical Central da Classe Trabalhadora e Publica.

A transmissão pela Rede TVT –Grande São Paulo – ocorre no Canal 44.1 e Canal 512 HDABC. Além disso, será possível acompanhar o evento pelas redes sociais das centrais sindicais e da TVT.

Todas as centrais sindicais estão empenhadas na unidade pela pauta proposta. O presidente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araujo, falou em entrevista ao portal sobre a importância de reativar a Conclat, 40 anos após sua primeira edição.  A CTB teve a iniciativa ao realizar o seu último congresso, em agosto de 2021, e entre as resoluções, que são parte da deliberações da Central, decidiu por articular a construção de uma nova Conferência da Classe Trabalhadora. “Nós fizemos esse diálogo com as centrais sindicais, a proposta foi aceita de forma unitária, e a partir daí, saímos para construir”, relatou o dirigente sindical.

O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, destacou no artigo “Que venha a Conclat” a importância da Conferência para a luta trabalhista dos próximos anos. Para ele, o destaque urgente da pauta proposta é a luta contra a inflação e a carestia dos alimentos. 

Em encontro com sindicalistas da CUT, na segunda-feira (4), na sede da Central, em São Paulo, ex-presidente Lula enfatizou a importância da participação do movimento sindical e de movimentos populares na elaboração de propostas para o plano de seu governo. Durante o evento, Lula afirmou que o país vive “um momento difícil” e a unidade e a luta das centrais serão fundamentais para a reconstrução do país, caso ele vença as eleições.

Unidade para enfrentar Bolsonaro

Sobre as dificuldades para unificar estratégias e táticas sindicais tão distintas, Adilson diz que Bolsonaro ajudou a unir o movimento sindical e social por ser a grande ameaça que é. “Há uma superação. Embora se apresente algum nível de ruído, muitas vezes visões corporativistas, um esforço de querer quebrar a unidade, eu diria que estamos num processo de maturação. Há uma maturidade que vem exigindo há um bom tempo a unidade do movimento sindical e o fórum das centrais sindicais tem priorizado isso”. 

Nos últimos quatro anos, o Primeiro de Maio tem sido realizado de forma unitária, inclusive apontando para a formação de uma frente ampla, como lembra ele. “Por mais divergência que se pode ter, a Conclat é uma grandeza, e, é por si só, suficientemente capaz de superar qualquer ruído que haja entre nós”, enfatizou.

De 1981 a 2022

Qual o sentido da Conclat neste ano? A Conclat que aconteceu em 1981, se justificava pela unidade da classe trabalhadora em torno dos objetivos de por fim à ditadura, restabelecer a democracia e trilhar na perspectiva de uma melhor condição de vida para a classe trabalhadora. “A Conclat, há quarenta anos atrás, foi elemento fundamental para construção de um pacto civilizatório que resultou na interrupção da ditadura civil militar e desaguou na consecução da Constituição Cidadã de 1988, que teve como questões fundamentais a garantia dos direitos fundamentais trabalhistas e o nascimento do Sistema Único de Saúde, o sistema de seguridade social, além de alavancar o Brasil para uma perspectiva inaugural, um passo importante para a constituição do estado de bem estar social”, pontuou Adilson. 

Passadas três décadas, as centrais voltaram a se encontrar em 1o. de junho de 2010. Naquela ocasião, a luz da ameaça vigente, o objetivo central era dialogar acerca da necessidade objetiva de uma agenda da classe trabalhadora. Reuniram-se 30 mil trabalhadores e trabalhadoras no Estádio do Pacaembu, dando voz às reivindicações que apontassem para uma política de valorização do salário mínimo e uma agenda vocacionada ao desenvolvimento.

Mas Adilson lembra que, após esse feito, a conjuntura mudou com a chegada das Jornadas de Junho de 2013. “Um aumento da temperatura, criada por um movimento com um discurso de que havia necessidade de reduzir as tarifas de transporte, contudo se elegeu o Congresso mais venal da nossa história. Deu voz a um golpe, subtraiu-se o mandato constitucional da presidenta Dilma Rousseff e o desastre maior foi a eleição do governo ultraliberal de Jair Bolsonaro”, é como resume ele aquele período. 

“A luz da ameaça que se concretizou pós-golpe, com essa agenda regressiva – que proclamou a reforma trabalhista, a terceirização generalizada e irrestrita, a reforma da previdência, que têm como base primeira a imposição da tecnocracia do limite do Teto de Gastos, e impôs a Emenda Constitucional 95 -, empurrou-se o Brasil para o caminho do colapso”, pontua ele. 

Diálogo necessário com a sociedade

Adilson considera essa Conclat desafiadora, na medida em que vai reunir num mesmo ambiente um conjunto de trabalhadores que vão aprovar a pauta trabalhista para dialogar com o conjunto da sociedade e também apresentar aos candidatos e candidatas ao Executivo e Legislativo. 

Quais os elementos centrais que se colocam nesse debate? Adilson aponta a política macroeconômica e as reformas que levaram a precarização das condições de trabalho no Brasil. 

“Nos marcos dessa política macroeconômica regressiva, fundamentada no tripé do câmbio flutuante, juros altos e inflação descontrolada, não vamos a lugar algum. Só quem ganha com isso é o rentismo e os grandes bancos”. 

Ele denuncia, como fazem as demais centrais, que o arcabouço da reforma trabalhista que prometia gerar emprego, dar segurança jurídica e fortalecer a negociação coletiva “deu com os burros nágua”. “Cresceu o adoecimento, a precarização do trabalho, o desemprego direto, mais o desalentado, já são mais de 18 milhões, sem contar que o Brasil já tem 37 milhões de trabalhadores subutilizados”, afirma. “Foi uma verdadeira falácia, talvez a maior fake news da nossa história!”. Ele defende junto com a Conclat mobilização para revogar essa reforma. 

Mas admite que não será fácil, exigindo mobilização popular. “Claro que tudo isso vai demandar correlação de forças. Nós precisamos conversar com o nosso povo, fortalecer essa opinião na sociedade para que o nosso povo seja parte desse levante. Um levante que venha se contrapor ao caos que se instalou no Brasil, com gasolina a R$ , botijão de gás a R$ 120, a crescente indigência, pessoas passando fome com 116 milhões padecendo de insuficiência alimentar”. 

Na opinião dele, o clamor da Conclat vai no sentido de que um Governo Democrático Popular não seja “mais do mesmo”. “Ele precisa ter um olhar próximo daqueles que necessitam e reclamam respostas urgentes para um novo rumo e sentido para o Brasil e a nação”.

Uma pauta para diálogo com a sociedade

O ex-presidente Lula falou aos sindicalistas cutistas o quanto é importante que pauta unitária das centrais chegue ao debate popular. No dia 13, o documento da Conclat será entregue ao ex-presidente Lula, em uma reunião com os presidentes das centrais.  

Para Lula, “é muito importante fazer com que as propostas, a pauta unificada da classe operária, sejam de conhecimento de toda a sociedade”. Ele disse que não tem medo de dizer que queremos voltar atrás (em relação às reformas) e queremos um Estado forte. “Não é o Estado tutor da sociedade, mas o Estado com força suficiente para induzir o desenvolvimento desse país, com banco e empresas fortes”, explicou.

Ataques aos trabalhadores

Durante o evento, Lula destacou que as centrais devem elaborar as propostas de forma direta e objetiva sobre o futuro que a classe trabalhadora quer para si nos próximos anos.  Ao enumerar os vários ataques sofridos pelos trabalhadores e pelo movimento sindical desde o golpe de 2016, contra a presidenta Dilma Rousseff, Lula indicou ações para que, se for eleito, possa recolocar o Brasil em uma rota de reconstrução social e econômica.

“Vivemos um momento difícil no Brasil. Teve o impeachment e não aconteceu outra coisa na vida do movimento sindical senão derrota atrás de derrota, como as reformas [Trabalhista e da Previdência Social], o desmonte da Justiça do Trabalho, o desmonte das finanças dos sindicatos, o desmonte dos direitos trabalhistas que vinham sendo construídos desde 1943”, pontuou o ex-presidente.

Destruir direitos e proteção social

De acordo com avaliação do ex-presidente Lula, a ofensiva da extrema direita contra os direitos sociais e trabalhistas foi violenta a ponto de causar uma certa inércia nos trabalhadores.  “Foram desmontando tudo e nossa capacidade de reação foi pequena porque o que os movimentos conservadores fizeram foi antecipado por uma campanha forte, de narrativa de negação de tudo o que era bom para nós”, disse Lula.

Tanto esses movimentos, aliados a campanha da mídia que falava à época, exaustivamente, que direitos como 13° e férias significavam custo e tiravam o poder de competitividade do Brasil em nível internacional, contribuíram com o desmonte que viria na sequência do golpe.

“Diziam que o Brasil não crescia e não exportava por que o custo era caro, mas nunca fizeram uma comparação entre o salário do trabalhador brasileiro com o salário de outros países”, disse se referindo a nações como Estados Unidos e França.

Essa ‘narrativa’, disse Lula, ganhou a consciência das massas que passou a ‘não ver sentido” no que o movimento sindical alertava – e alerta até hoje – de que o projeto de governo dos conservadores, em especial de Jair Bolsonaro (PL), é de destruir direitos e a proteção social da classe trabalhadora.

Empreendedorismo falacioso

Um dos exemplos de como o poder de alienação da direita habita o imaginário da sociedade, dado por Lula, foi a máxima de que um motorista de aplicativo, o Uber, por exemplo, é um empreendedor, dono do seu próprio negócio e do seu próprio tempo.

Citando um outro exemplo, Lula provou porque não funciona. “Lembro de quando surgiu a internet, a quantidade de jornalistas que achavam que iam fazer sucesso sozinhos nas redes sociais. Quantos conseguiram sobreviver? Quase ninguém”, disse, explicando que grandes conglomerados sempre ‘tomam conta’ do ambiente e não aceitam competição. Ao ‘pequeno empreendedor’, não sobra espaço, a não ser, como no caso do Uber, o de se submeter à exploração para conseguir minimamente sobreviver.

Portanto, para o ex-presidente, a disputa principal nessas eleições será no sentido de combater esse tipo de discurso que, na eleição presidencial de 2022, será novamente arma principal da direita. E assim como em 2018, baseada em notícias falsas – as fake news.

Reformular o Congresso

Além de uma mudança na forma com que se faz mobilização, reformular o que ele disse ser “o pior Congresso de todos os tempos”, é tão importante quanto eleger um governo democrático e popular.

“Hoje tem tanta gente desempregada que não dá mais para fazer porta de fábrica, somente. A maioria dos trabalhadores que a gente representa está na rua. Então, se colocar um carro de som para denunciar e entregar material [informativo], vai fazer mais efeito do que ir para a porta de fábrica”, afirmou Lula, referindo-se à mobilização direta que os sindicatos devem assumir.

O ex-presidente criticou a atual composição da Câmara dos Deputados e do Senado ao alertar que é necessário que o trabalho de base nessas eleições seja, efetivamente, de dialogar sobre quais parlamentares devem ser eleitos para compor o Congresso Nacional.

“O que quisermos fazer terá de passar pelo Congresso. Se a gente não mudar o Congresso não dá para fazer as contrarreformas que precisamos. Se não tivermos número [maioria], não faz”, explicou Lula.

Para Lula, não basta eleger deputados que representem os trabalhadores, mas é preciso cobrá-los. “É uma eleição que a gente vai ter que colocar no papel o que a gente quer, mostrar para o candidato e se ele não assinar embaixo, não se comprometer, não vota nele”, disse Lula.

“Farei na campanha a construção da ideia de que o povo não pode votar nos mesmos. E o movimento sindical pode dar uma contribuição extraordinária para dizermos o que queremos”, declarou o ex-presidente.

Polarização política

Desmistificando o conceito de que a polarização em disputas eleitorais é algo prejudicial, Lula afirmou que em toda a história sempre houve o embate de ideias opostas. No entanto, afirmou que preferia “estar polarizando com os tucanos do PSDB, porque, pelo menos, seria mais democrático, ao contrário do ódio de Bolsonaro”.

Ele criticou quem afirma que a esquerda ajudou a criar o clima para que Bolsonaro fosse eleito. “Vamos polarizar para ganhar as eleições. A gente sabe que não é fácil, ele tem uma turba que envolve muita gente, conta sete, oito mentiras por dia e não tem nenhum critério de respeito”, admitiu. A preocupação dele, disse Lula, “é destruir o que vier pela frente”.

E, nesse aspecto, Lula alertou que as eleições serão uma guerra e que a militância não deve aceitar provocações e sim, primar pela informação, o fato, a verdade, para conquistar os corações daqueles que ainda não se deram conta do desastre que é o atual governo.

Lula lamentou o número expressivo de desempregados, desalentados, e pessoas passando fome, que segundo ele, nunca se viu na história do país.

Força Sindical e a urgência da fome

Miguel Torres foi enfático em atacar o tema que mais aflige os brasileiros na atualidade, ao apontar o preço dos alimentos e combustíveis como o principal fator de corrosão da renda do trabalhador. “Entre as propostas [da Conclat], destaco o combate à carestia por intermédio de novas e amplas campanhas de mobilização da classe trabalhadora unida ao movimento sindical contra a fome e contra o aumento dos preços doa alimentos”, diz o dirigente sindical no texto. 

Ele também ressalta que o movimento sindical brasileiro, “em uníssono”, levantará as bandeiras do desenvolvimento sustentável, com geração de empregos de qualidade e inclusão de milhões de pessoas no processo produtivo.

“Vamos lutar pelos investimentos nas macrorregiões para que haja o desenvolvimento, que por conseguinte gerará emprego de qualidade, renda e inclusão social, cujo efeito é construção desse ciclo virtuoso para garantir a saída da crise, com sustentabilidade”, acrescenta. 

O representante da Força Sindical lamentou a extinção pelo atual governo da política de valorização permanente do salário mínimo, vigente entre 2003 e 2018, que ele considera que foi fundamental para o desenvolvimento do País.

Torres informa que a política de valorização garantiu aumento real do piso nacional em mais de 78%. Atualmente, o valor do salário mínimo é de R$ 1.212, dos quais R$ 533,80 correspondem ao aumento real, o que incrementa anualmente mais de R$ 390 bilhões à massa de rendimentos da economia (sem o aumento real de 78,7%, o valor do salário mínimo seria de apenas R$ 678).

“Não fosse aquela política, repito, extinta pelo atual presidente da República, as condições de vida e de renda das trabalhadoras e trabalhadores seria infinitamente mais difícil”, reafirma, defendendo a retomada de uma nova política de atualização e valorização do salário mínimo, a partir desta Conclat. 

O líder sindical também destacou em seu artigo a preocupação com os trabalhadores aposentados. Para ele, recuperar o poder de compra das aposentadorias, achatado mais ainda com a contrarreforma de 2019 é outra pauta cara e relevante da Conclat.

“Todos sabemos que a contrarreforma da Previdência aprovada pelo Congresso em 2019 teve o objetivo de impor perdas aos atuais e futuros trabalhadores, dos setores privado e público”, critica.

Torres concluiu dizendo que “deforma” impôs aos assalariados mais tempo de contribuição, benefício menor, por menos tempo. “Mudar essas regras draconianas da Previdência Social está em nossa mira”.

Leia: Que venha a Conclat. A Luta faz a Lei!, por Miguel Torres

Com informações do portal da CUT e da Força Sindical