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Entrevista com Cristiano Capovilla sobre a luta contra a extrema-direita

23 de setembro de 2024

Entrevista com o filósofo Cristiano Capovilla, coordenador do Grupo de Acompanhamento e Pesquisa sobre a luta contra a extrema-direita e o neofascismo. Capovilla é professor de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão.

Cristiano, a mais recente experiência da Fundação Maurício Grabois foi a criação dos Grupos de Acompanhamento e Pesquisa (GAPs). Pode nos contar um pouco sobre o GAP – A luta contra a extrema-direita e o neofascismo, que está sob sua coordenação?

Divido a coordenação do grupo com a professora Madalena Guasco. Acreditamos que a iniciativa dos GAPs é extremamente bem-vinda, uma vez que, sem ser pretensiosa, mas colocando o dedo na ferida, tenciona congregar o pensamento avançado, progressista e marxista, de dentro e fora do partido, para desenvolvermos a teoria e aplicá-la às questões candentes tanto do desenvolvimento nacional quanto da luta política, cultural e intelectual. Especificamente, nosso grupo almeja, nestes tempos de recrudescimento da luta de classes em torno das alternativas ao país, de propagação das ideias extremistas de direita e do neofascismo, elaborar a tipificação ideológica desse radicalismo no mundo e particularmente no Brasil. Aspiramos determinar os conceitos-chave que mobilizam as guerras culturais da extrema-direita e contrapô-los no âmbito político. É uma tarefa do momento, com grande relevância para armar teoricamente os trabalhadores para as batalhas vindouras.

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Um tema importante que está no radar do Gap é o da definição conceitual de neofascismo. Quais autores da teoria marxista são adotados pelos pesquisadores do GAP para essa definição?

Sim, precisamos determinar, por assim dizer, a taxonomia ideológica desses diversos grupos que compreendem movimentos que vão da extrema-direita até o neofascismo. Por exemplo, não nos parece condizente com a realidade identificar toda e qualquer experiência ou manifestação política da direita e\ou conservadora com o extremismo fascista. Os fenômenos são mais complexos e é preciso refinar nossa capacidade analítica. É necessário estabelecer distinções e correspondências factíveis e críveis. Além disso, precisamos saber o que há de “neo” no fascismo atual, quais são suas características básicas, como se exprime e como se conecta com essa nova “estrutura de sentimentos” (utilizando o conceito do marxista gaulês Raymond Williams) que embala o atual ciclo reacionário. O GAP reúne pesquisadores e intelectuais experientes, com bagagem de leituras, artigos e livros publicados. Procuramos catalisar todo esse conteúdo com o objetivo de tratar os problemas e desafios postos na luta contra o extremismo. Partimos dos obstáculos políticos atuais para a teoria e dessa para prática, aplicando e inovando aos atuais contextos e situações. Os desafios mobilizam os autores e não ao contrário. Seguindo essa trilha,  trabalharemos com diversos autores, sempre tendo em mente os clássicos do marxismo-leninismo. Portanto, pela natureza da investigação do nosso GAP, revisitaremos as formulações dos teóricos que enfrentaram em seus respectivos tempos históricos a onda extremista e fascista original da primeira metade do século XX. Aqui se destacam tanto marxistas quanto aqueles influenciados pelo marxismo. Assim, aparecem figuras como Antonio Gramsci, Palmiro Togliatti, Georgi Dimitrov, José Carlos Mariátegui, Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Georg Lukács, Karl Polanyi entre outros. Também autores mais atuais que se dedicaram ao tema como Nicos Poulantzas, Benjamin Teitelbaum, além de autores nacionais contemporâneos como João Quartim de Moraes, Armando Boito Jr., Aldo Arantes, Madalena Guasco, Fábio Palácio etc.. A ideia-força que move as formulações do GAP é propor tópicos para a luta Ideológica democrática e promover elaborações para se contrapor a extrema-direita e o neofascismo.

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Além desse tema, quais outros você considera importante para a agenda do GAP?

Acredito que compõe a agenda do GAP o desafio de fomentar, no campo teórico, o acúmulo das experiências de luta e resistência que o partido e as diversas organizações do povo brasileiro adquiriram em todo esse processo de construção democrática em nosso país. A ideia é agregar aos embates específicos e particulares um sentido estratégico, propor alternativas viáveis, que sejam exequíveis e correspondam ao tamanho do desafio político atual. O grupo deve formular, mas também propor caminhos.

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Uma das tarefas dos GAPS é contribuir com a formulação do novo programa do PCdoB que será aprovado no ano que vem, no 16º. Congresso. O que você imagina que haverá de novidade nesse novo programa?

Esperamos que os GAPs possam, a partir dos seus desafios específicos, aportar elementos para esse importante debate. Esses são os caminhos aos quais me referi anteriormente. Avalio que o novo programa desenvolva ainda mais correspondência com o atual nível da luta política em nosso país e no mundo e apresente uma perspicaz síntese das nossas proposições com a objetividade das circunstâncias históricas com as quais nos defrontamos e temos que responder. Acredito que particular importância seja o pensamento acerca do sentido de um partido de tipo leninista para a realidade brasileira e do papel estratégico que deve assumir. A leitura correta da realidade, a avaliação realista do percurso que fizemos nos últimos anos e o propósito de um partido como o nosso deverão guiar nossos debates em torno da finalidade de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. Acho que será um momento fértil para nosso partido.