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André Tokarski: “ampliar oferta interna de energia com a diversificação de fontes”

11 de outubro de 2024

Entrevista com o coordenador do Grupo de Pesquisa sobre “Transformação Ecológica” da FMG, André Tokarski

Em entrevista para o Portal da FMG, o pesquisador André Tokarski apresenta os temas que estão na pauta do Grupo de Pesquisa sobre “Transformação Ecológica” que está sob a sua coordenação na Fundação Maurício Grabois. De acordo com Tokarski, “apesar de termos a matriz energética mais limpa do mundo, a nossa oferta interna de energia ainda é muito baixa quando comparada a outros países”.

André, há uma luta da sociedade civil para que uma parcela relevante dos recursos da exploração do petróleo no Brasil – ainda mais com a nova fronteira da Margem Equatorial – sejam direcionados para a transformação ecológica. Esse tema está no radar do GP, certo?

Sim, é importante considerarmos que as reservas de petróleo são patrimônio público e dizem respeito à nossa soberania nacional. O Brasil tem direito de explorar a fronteira da Margem Equatorial, a Petrobras é campeã em tecnologia e segurança em exploração de petróleo em águas ultra profundas. Nesse sentido, os recursos financeiros provenientes da exploração de petróleo devem ser direcionados para o desenvolvimento econômico, científico e tecnológico do país. O Brasil já sofre com os efeitos dos eventos climáticos extremos, com períodos de estiagem cada mais prolongados nas regiões norte, nordeste e centro-oeste. Por outro lado, as chuvas estão cada vez mais concentradas e com maior volume na região sul, provocando efeitos destruidores como os que vimos nos dois últimos episódios no Rio Grande do Sul.  Nossa segurança hídrica e alimentar depende do regime de chuvas na Amazônia e no Cerrado, então a adaptação às mudanças do clima e a transformação ecológica devem sim ser uma prioridade para o debate no nosso grupo de pesquisa. 

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Além desse tema da exploração do petróleo, quais outros você considera importante para a agenda do GP?

O avanço da ciência e da técnica possibilita o melhor uso dos recursos naturais para suprir as demandas materiais atuais sem comprometer as futuras gerações. Foi com pesquisa e inovação que a Petrobras conseguiu descobrir as imensas reservas de petróleo no pré-sal e convertê-las em riqueza nacional. Da mesma forma, foi decisivo o papel das pesquisas da Embrapa para corrigir a acidez do solo e transformar em 40 anos a região centro-oeste na maior produtora de grãos do país. Mas hoje temos novos desafios que devem pautar a nossa agenda de pesquisa e debates, por exemplo: o petróleo cru já é o segundo item da pauta de exportação do Brasil, contraditoriamente, os derivados de petróleo, particularmente o diesel e a gasolina, são os itens que mais importamos. Ficamos reféns dos preços internacionais e caso o Brasil cresça acima de 3% ao ano corremos o risco de faltar diesel. Quase a totalidade dos fertilizantes utilizados na produção agrícola são importados, sendo que temos potencial para abastecer todo o mercado interno com produção nacional. Sem contar o potencial dos bioinsumos, que não utilizam recursos fósseis para serem produzidos. Também será muito importante o debate sobre a ampliação da oferta interna de energia com a diversificação de fontes. Apesar de termos a matriz energética mais limpa do mundo, a nossa oferta interna de energia ainda é muito baixa quando comparada a outros países. Para se ter uma ideia, a oferta interna de energia per capita na China é dobro da do Brasil e a dos Estados Unidos é seis vezes maior. Há uma correlação direta entre energia e desenvolvimento. A densidade energética reflete o padrão de desenvolvimento das nações e os processos industriais mais sofisticados e complexos dependem cada vez mais de disponibilidade de energia elétrica.

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No ano que vem acontece a 5ª. Conferência Nacional de Meio Ambiente. Como o GP pode contribuir com esse processo?

Participam do nosso grupo pesquisadores e pesquisadoras que tem conhecimento e experiência em temas que certamente estrão entre os principais debates da Conferência, como a exploração da Margem Equatorial, o plano de transformação ecológica e o Plano Clima, que orienta as ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Temos potencial para dar contribuições significativas e orientadas para a busca do desenvolvimento aliado à preservação do meio ambiente.

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Uma das tarefas dos GPs é contribuir com a formulação do novo programa do PCdoB que será aprovado no ano que vem, no 16º. Congresso. O que você imagina que haverá de novidade nesse novo programa?

Acredito que a centralidade da ciência e do melhor aproveitamento dos recursos naturais possam ser novidades desse novo programa. O Brasil já se destaca pela abundância e disponibilidade de recursos naturais e energéticos e a energia barata e de qualidade é um requisito primordial para o desenvolvimento nacional. A China dá o exemplo, é o país que mais cresce no mundo e também o que mais investe em novas rotas tecnológicas para a geração de energia, mas sem abrir mão de utilizar as fontes que tem disponível. A transição para um mundo multipolar situa novos desafios e oportunidades ao Brasil e atualização do programa socialista do PCdoB pode contribuir para superarmos obstáculos e amarras históricas que impedem nosso país e nosso povo de realizar todo o seu potencial.

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