A divulgação dos índices de expansão da economia entre o último trimestre do ano passado e o primeiro trimestre deste ano produziu uma grande excitação envolvendo as estimativas sobre qual a taxa de crescimento do PIB que estamos vivendo e, por extensão, qual vai ser o resultado neste último ano de governo Lula.

O ritmo forte de aumento de 2,7% do PIB entre os dois trimestres confirma que estamos num processo de crescimento bastante robusto. Não vejo motivo para que não continue a ocorrer vigorosamente. Não devemos apenas estimar níveis de desenvolvimento que estão fora da capacidade brasileira de produzir com equilíbrio interno e externo. De fato, é pouco provável que a economia possa manter a mesma intensidade de crescimento até o fim do ano.

O mais importante de tudo é compreender que o Brasil finalmente recuperou a sua capacidade de desenvolvimento. Esse não é um aspecto novo na economia brasileira. Vamos olhar um pouco no retrovisor, por exemplo, para o período pós-Segunda Guerra Mundial, a última grande guerra do século XX: de 1948 a 1984, o Brasil cresceu 7,5% ao ano, até o desenvolvimento ser interrompido durante a dupla crise de energia (como importadores de petróleo) e do balanço de pagamentos, devido à necessidade do endividamento entre 1975 e 1979 para pagar as importações.

Aquela economia robusta prevaleceu por mais de 30 anos seguidos, quando o crescimento brasileiro foi um dos maiores (se não o maior) dentre os países do Ocidente. A partir da metade dos anos 80, o desenvolvimento foi interrompido por vários desequilíbrios, em várias crises, e o Brasil reduziu sua taxa de crescimento a 2,4% anuais, em média, até este início do século XXI, quando a economia finalmente reencontrou sua capacidade de crescimento.

As estimativas do governo, moderadas, são de crescimento de 0,35% do PIB entre trimestres, significando um crescimento anual de 6,3% ou 6,4% em 2010, o que já seria um resultado muito bom. Minha estimativa é mais otimista: acredito que o Brasil vai crescer em torno de 8% em 2010, mas sem esquecer que a taxa de crescimento vai declinando no período e deverá estar rodando lá pelo fim do ano em alguma coisa parecida com 6,5%. Vamos caminhar depois para níveis de expansão anuais entre 5% e 6%, que são as taxas de crescimento normal de uma economia como a brasileira. É nesse intervalo, aliás, que se situa a estimativa (5,5% a.a.) para o crescimento sustentável da economia a longo prazo, abrangendo o período de realização das obras da fase 2 do Programa de Aceleração do Crescimento até 2014.

Hoje um crescimento do PIB nesses níveis é equivalente àquela formidável aceleração do desenvolvimento à taxa anual de 7,5% do PIB no passado, porque o índice de crescimento da população brasileira caiu de 2,4% anuais para menos de 1% ao ano. O que interessa realmente é o crescimento per capita, que vai ocorrer praticamente à mesma taxa daqueles momentos de grande e robusto crescimento dos anos 50 até o início dos 80 no século passado. Não devemos, portanto, ficar assustados, como se a rapidez do crescimento atual colocasse em risco a estabilidade, porque o que está rolando no Brasil é um processo altamente positivo, que já aconteceu naqueles períodos de maior progresso econômico.

Temos apenas de ter consciência de que a taxa de crescimento vai se amenizar (aliás, já está amenizando). Se admitirmos um crescimento entre trimestres de 0,35%, como estima o governo, vamos terminar o ano com 6,3% ou 6,4%. Minha estimativa, porém, é de que a relação de crescimento entre trimestres será declinante, o que resultará em um crescimento entre 7,5% e 8% do PIB em 2010, mas terminando o ano com menor velocidade, crescendo um pouco abaixo de 6%. Em seguida, devemos continuar convergindo para o intervalo entre 5% e 6%, que é o crescimento suficiente e necessário para retornar ao desenvolvimento robusto que já tivemos no passado.

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Fonte: revista CartaCapital